CAPÍTULO L (50) - Jason

Start from the beginning
                                    

— Se eu fosse você não se aproximava mais. — ele provocou, achando graça da situação.

— E vai fazer o quê? — rebati, ficando a poucos centímetros do seu rosto. — Me matar?

Ele arqueou a sobrancelha e tombou a cabeça de lado, me avaliando. Só percebi seus movimentos quando foi tarde demais. Senti uma dor aguda na costela e outra no queixo.

Ele havia me batido, com tanta força que meu corpo tombou para trás e eu cai, batendo as costas na parede. O golpe me deixou sem ar e zonzo.

Senti meu corpo gelar e o suor escorrer pela coluna, sentia que iria apagar e me esforçava para permanecer consciente e respirando.

Duas coisas que eram extremamente difíceis naquele momento.

— Ah, não. — Ele riu, se agachando e ficando na minha frente. — Por que eu te mataria? Brincar com você é muito melhor. — Senti seus dedos em minha testa e um calafrio percorreu minha espinha.

Mesmo sem ele precisar falar, eu sabia que o inferno seria um paraíso para mim naquele lugar. Que qualquer coisa era melhor do que ficar ali.

Mas mal eu sabia que ainda iria piorar muito mais do que aquilo.

Dias atuais

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Dias atuais.

Meu irmão me encarava, os olhos perdidos e tentando entender o que estava acontecendo.

Sempre achei seus olhos lindos, mesmo seu semblante sendo tão triste, os olhos dele brilhavam toda vez que me viam. Ele me via como seu herói sem capa, seu melhor amigo e um pai que ele nunca conseguiu ter na vida.

Mas hoje, esses olhos só me lembravam de tudo que perdi, de tudo que sofri para conseguir me manter vivo.

Meu amor por ele entrava em conflito com o ódio que eu sentia por toda aquela família. Eles me abandonaram, não tentaram me achar e se contentaram com a história que todos os envolvidos venderam.

— Você sabia que o nosso pai sabe que estou vivo? — perguntei, enquanto afiava uma pequena faca de corte que eu usava sempre.

Não levantei os olhos para conferir a reação dele, mas pela sua respiração profunda, eu soube que ele não fazia ideia daquilo.

Ou ele não estava envolvido com isso, ou mentia muito bem.

Dei de ombros, sem me importar se ele viu ou não. Descobriria o quanto ele sabia, cedo ou tarde, mesmo que para isso eu precisasse fazer com ele o que fizeram comigo.

— Mas... — ele gaguejou. — Co-como? — as palavras saiam com dificuldade de seus lábios, devido ao cansaço e a dor constante que ele devia estar sentindo.

— O cara que me sequestrou, era um capanga antigo dele. — comecei a falar enquanto passava o dedo na lâmina para saber se estava afiada do jeito que eu queria. — Nosso pai trabalhava com ele a muitos anos e pelo que eu soube, ele devia dinheiro a esse cara. — Me levantei e caminhei até ele. — E o David nunca pagava, até que ele encomendou sua morte com esse cara. — Parei a poucos centímetros do meu irmão.

Caleb me observava, a dor brincava entre seus olhos, a confusão e o medo. Ele temia por sua vida. Sabia que eu não estava ali para brincar.

— E quando o plano deu errado e ele me atingiu. — Meus lábios se curvaram num sorriso doentio. — Foi a chance dele de conseguir todo o dinheiro que nosso pai devia.

Pressionei a ponta da faca no peito nu dele, fazendo um pequeno corte. Caleb se contorceu e mordeu o lábio inferior, para não gritar. Ele já havia entendido que quanto mais ele gritava, mais fundo eu iria nele.

Me divertia com o sofrimento dele. Com a dor dele e com as lagrimas dele.

Queria vê-lo sangrar, literalmente. Queria sentir seu sangue escorrendo pelas minhas mãos enquanto ele implorava pela vida, ou, para que acabasse com ela.

— Quando ele viu que eu ainda estava vivo, subornou os enfermeiros da ambulância para me levar até o galpão dele. — Pressionei mais fundo a faca em seu peito.

Soltei uma risada alta ao ver o sangue escorrendo pela sua barriga e se acumulando no cós da calça. Me abaixei e peguei o pequeno pote que eu deixava ali e enfiei o indicador e o polegar dentro dele, retirei um pouco de sal e esfreguei na ferida.

Caleb finalmente gritou, se contorcendo e tentando se desvencilhar de mim. A cada grito que ele dava, minha risada aumentava.

— Ele subornou nosso pai, dizendo que queria dinheiro para me entregar vivo. — Coloquei o pote novamente no chão e quando me levantei, segurei o queixo dele, obrigando-o a me olhar nos olhos.

Caleb estava além da exaustão, seu corpo estava sentindo tanta dor que ele lutava para permanecer consciente. Mas, ele ia e vinha. Sempre depois dessas torturas ele apagava, às vezes por alguns minutos e outras por horas.

— Acorda, caralho! — Bati no rosto dele com força e ele forçou os olhos a se manterem abertos.

As olheiras em seu rosto estavam profundas, a boca roxa e sem vida e seus olhos estavam opacos. Ele estava chegando no seu limite.

— Mas sabe o que nosso pai falou? — perguntei retoricamente. — Que não tinha dinheiro para pagar o meu resgate, que a empresa estava quase falindo. — Dei de ombros. — O que de fato não era mentira. — Soltei o queixo dele e me afastei, lhe dando as costas enquanto eu falava. — Mas... — Ergui o indicador para dar ênfase a minha fala. — O que ele esqueceu de contar, era que havia cheirado toda a porra do dinheiro da empresa! — gritei, sentindo meu corpo tremer ao reviver aquelas memórias perturbadoras.

Passei as mãos pelos cabelos, tentando me recompor.

— Sabe o que o assassino fez comigo? — perguntei, novamente sem esperar resposta. — Me espancou até que eu perdesse a consciência. — Cerrei os punhos, sentindo meu sangue borbulhar.

Naquele dia, ele me espancou com tanta brutalidade que o médico teve que pedir ajudar para outro médico. Ele fraturou quatro costelas minhas, quebrou meu maxilar, me fez tomar 18 pontos nas costas e quase decepou dois dedos do meu pé.

Quando ele falou que pediria resgaste, eu vi a luz no fim do túnel. Senti uma fagulha de esperança ao saber quais eram os seus planos e tive a convicção de que sairia dali vivo.

Mas após saber que ninguém me salvaria e que se eu não fosse meu próprio salvador, ninguém mais seria, eu enterrei toda a esperança no fundo do meu coração, tranquei e joguei a chave fora.

E jurei que me vingaria, não importa o que acontecesse.

Mataria um por um. 


CONTINUA...

Cicatrizes e Demônios  |  Livro 2 [SEM REVISÃO]Where stories live. Discover now