CAPÍTULO L (50) - Jason

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Oito anos antes...


A última coisa que vi, foram os olhos dele. Do meu irmão caçula, me agarrando e me implorando para não morrer.

Senti suas lagrimas me molhando o rosto, conforme meu corpo se desligava de tudo e a escuridão me sugava para longe.

Pensei que seria meu fim, que nunca mais veria meu irmão, ou a minha mãe e até mesmo o patife do meu pai.

E quando acordei, num galpão, jogado as traças, pensei que estava no inferno.

Que ali era o meu purgatório.

Mas estava muito longe de ser o inferno. Ali era o meu sofrimento em vida mesmo.

A ferida da bala estava costurada de qualquer jeito. Acredito até que o médico que me atendeu, deveria ser era açougueiro, ao invés de médico.

— Você deve ter comprado a porra do seu diploma. — gemi, tentando não me mexer demais enquanto ele verificava a ferida.

— Quieto. — o armário na minha frente falou.

O médico deveria ter o tamanho do Caleb, era forte como meu irmão.

Caleb.

Pensar nele me doía a alma, massacrava o meu coração, imaginar o que ele estava passando.

Não fazia a menor ideia de há quanto tempo estava ali, dentro daquele galpão. Dizer que a iluminação era ruim, seria um eufemismo, era quase nula. O lugar fedia a umidade e mofo.

Havia apenas uma pequena janela que não devia ter nem 30 centímetros e não entrava luz do sol pela grade. As paredes eram úmidas e escorria alguma coisa pegajosa nela, devia ser infiltração.

Dormia num colchonete pior do que esses de academia. Na verdade, não conseguia dormir, a dor do ferimento era intensa demais e quando cessava, o frio tomava conta do meu corpo.

Ao menos eu não estava algemado, até porque, não conseguiria ir para lugar nenhum, dado o estado que eu me encontrava.

Ainda não sabia quem era o responsável por fazer isso comigo, a única pessoa que eu via, era o maldito açougueiro e um segurança que vinha entregar a bandeja com algo que era impossível de comer.

Era intragável a comida. E por conta da falta de alimento, minha ferida não cicatrizava como deveria, já que meu corpo não tinha nutrientes o bastante e pelo que o médico disse, eu estava num nível de desidratação bem preocupante.

Pensava que pior do que estava não podia ficar. Mero engano meu.

Quando a ferida cicatrizou o bastante para conseguir me manter em pé durante algum tempo, finalmente conheci o responsável por me manter naquele cárcere privado.

— Você? — exclamei, ficando de pé ao ver o filho da puta que atirou em mim. — Você quase me matou! Seu desgraçado! — Cerrei os punhos.

— Calma, meu amigo. — ele falou, calmamente, enquanto caminhava até o meio da sala.

A luz baixa ligada e o fato de ter ficado muito neste galpão, facilitou enxergar as feições do desgraçado. 

Minha visão tinha se acostumado com a escuridão e por mais que não conseguisse enxergar facilmente a pessoa, conseguia ver sua silhueta e ouvir os passos deles antes mesmo que entrasse no galpão.

— Por que estou aqui? — questionei, sentindo o sangue ferver, — O que diabos estou fazendo nesse buraco? — Me aproximei dele, ficando a poucos centímetros do brutamontes.

Cicatrizes e Demônios  |  Livro 2 [SEM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora