CAPÍTULO XLIV

480 40 2
                                    

Duda dormia ao meu lado, depois de ter retirado a bala do meu braço e suturado a ferida — muito bem, diga-se de passagem, — ela se negou a me deixar sozinho

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Duda dormia ao meu lado, depois de ter retirado a bala do meu braço e suturado a ferida — muito bem, diga-se de passagem, — ela se negou a me deixar sozinho.

Albert estava no andar debaixo, de tocaia, fazendo a guarda e às vezes subia aqui para ver se estávamos bem. Com uma pistola no coldre e uma automática no ombro.

— Só por precaução. — ele disse na primeira vez que veio até o quarto, dando de ombros.

Ele havia me explicado porque estava sem arma quando foi me pegar na casa da Andy. De alguma forma, ela havia sido furtada de dentro do seu carro, já que nem sempre ele saía com a arma na cintura.

Meio que já tínhamos uma desconfiança de quem havia pego. O pessoal do meu pai.

Enquanto a Duda suturava meu braço, ele foi fazer algumas pesquisas, depois de ter falado do Henrico e ele descobriu que era o mesmo traficante que havia ido ao meu apartamento a alguns anos atrás.

Faz anos que eu não tinha noticias dele e agora sabia bem o motivo.

Ele estava trabalhando junto com a Melissa.

Mas ainda não sabíamos quem era o tal do “J” junto com ele. A voz dele não saía da minha mente, era familiar, por algum motivo, eu já conhecia aquela voz.

Mas de onde?

A luz da lua iluminava o quarto e meus pensamentos turbulentos não me deixavam dormir.

Duda havia me contado que haviam dois caras a esperando ao lado do seu carro e eu não precisava adivinhar para saber quem eram.

O visor do meu celular acendeu e tateei a mesa de cabeceira, tentando pegá-lo sem me mexer demais, por conta dos pontos.

Depois de alguns longos minutos, consegui. Desbloqueei a tela e vi que era uma mensagem da Andy, dizendo que estava bem e iria ficar dormindo na casa da Becca até as coisas se resolverem.

Contei a ela o que tinha acontecido e ela nem cogitou em ir para casa, estava apavorada, por mais que tentasse não demonstrar.

Sabia que não conseguiríamos ficar escondidos no chalé para sempre e o mínimo pensamento de deixar a Duda em perigo, já me enojava.

Havíamos avisado nossos pais e eles por força maior, decidiram se isolar também, nem nós sabíamos para onde — para melhor segurança deles mesmos.

Minha mãe ficou tão nervosa que o seu médico teve que prescrever um calmante para ela e o Eduardo insistiu em vir ficar com a filha, mas explicamos para ele que quanto menos pessoas soubessem onde estávamos, melhor seria para a segurança de ambos.

Estávamos com tanto receio de sermos descobertos que até as ligações para eles foram feitas de um celular não rastreável e que logo depois de tudo resolvido, foi quebrado.

Sabia que não tinha como brincar e nem duvidar do que meu pai era capaz de fazer. Ele não tinha limites e muito menos escrúpulos para conseguir o que queria.

E nem o paradeiro dele nós tínhamos. Ele havia simplesmente sumido do mapa assim que os ataques a nós começaram, sua última visita foi quando ele me ameaçou no escritório. Depois disso ele evaporou, como fumaça.

Não sei bem quando fui dormir, mas o sol já estava começando a nascer quando finalmente meu corpo implorou por descanso e os remédios fizeram efeito.

Acordei assustado com barulhos pelo quarto e quando tentei me sentar, fui tomado por uma pontada aguda de dor no braço, me lembrando que eu estava costurado.

— Ei! — Duda apareceu ao meu lado rapidamente, me repreendendo pelo movimento brusco. — Quer abrir os pontos?! Pode ter certeza que a próxima sutura será muito pior do que a primeira. — ela repreendeu, avaliando meu braço. — Uísque nenhum será capaz de amenizar a dor.

— Desculpa, pequena. — sussurrei, respirando fundo e tentando não pensar na dor. — Ouvi passos e por instinto acabei levantando rápido demais. — Meus lábios subiram num pequeno sorriso. — Meu cérebro está mais em alerta do que eu, pelo jeito.

Ela passou a mão pelos meus cabelos e eu a observei. Seus olhos estavam fundos e o semblante cansado, por mais que tenha dormido a noite toda, eu a conhecia bem, para saber que ela não havia conseguido descansar muito bem. As olheiras embaixo dos olhos, comprovavam isso.

Dava para ver o medo em seus olhos, brilhando junto com suas pupilas, a cor amendoada que eu tanto amava, estava opaca e apagada. Ergui o braço esquerdo e acariciei seu rosto. Ela inclinou a cabeça em direção a minha mão e fechou os olhos.

Uma pequena lagrima escorreu pela sua face, pousando em meus dedos.

— Isso vai acabar logo. — prometi. — Te dou a minha palavra, pequena.

Ela apenas assentiu.

— Mas a que custo? — ela perguntou, ainda de olhos fechados. — Quem eu vou precisar perder para ter um pouco de paz na minha vida?! — Ela finalmente abriu os olhos e resfoleguei, sentindo sua dor. — Você poderia ter morrido, Caleb.

Engoli em seco e assenti.

Ela estava completamente certa. Tive sorte da bala ter tido entrada e saída, não se alojando em algum lugar que comprometesse minha vida. Para sempre.

Das duas uma; ou ele não queria me matar, ou ele realmente errou o tiro. As duas opções eram ruins.

Eles não sossegariam enquanto não me capturasse, ou morressem. E eu faria tudo que estivesse ao meu alcance para manter as pessoas que eu amava, vivas. Mesmo que para isso, eu precisasse...

Morrer.

E ela sabia disso, havia visto isso em meus olhos na noite em que terminei com ela. Tinha plena ciência que eu me sacrificaria por eles sem pensar duas vezes.
E ela não poderia fazer nada para que eu mudasse de ideia.
Mas isso não diminuía a dor que ela sentia em seu peito.

— Pensei que ficando longe de você, seria melhor... — sussurrei, fechando os olhos. — Pensei que eles queriam somente a mim.
Senti um nó se formar em minha garganta, queimando meu corpo por dentro e as lágrimas ardiam em meus olhos, sufocando meu peito.

— Mas percebi que foi a pior atitude que eu poderia ter tomado. — as palavras quase não saiam da minha boca.

Minha voz era um fiapo, quase inaudível, mas eu precisava falar.

— Separados somos mais valiosos para eles, juntos... — Abri os olhos e olhei no fundo dos seus olhos, minha mão ainda acariciava sua pele. — Somos um perigo para eles. — Sentia meu coração batendo descompassado. — E eu fui burro o bastante para perceber isso.

Ela soltou uma risada baixa, em meio as lagrimas.

— Isso eu tenho que concordar viu. — Ela deu de ombros.

Abri a boca, fingindo estar surpreso pela sua resposta e ela riu ainda mais, me provocando uma risada sincera.

Como eu amava o som da risada dela e amava ainda mais vê-la rindo, por mais obscuro que estivesse a nossa vida naquele momento, ela ainda conseguia encontrar um motivo para achar graça.

Deslizei a mão para o seu pescoço e a puxei, ela se aninhou em mim, deitando sobre mim e a mão acariciando meu peito nu.

— Pensei que nunca mais te veria. — ela sussurrou, a voz tão baixa que eu quase não conseguia ouvir.

A parte do meu peito onde ela estava deitada, começou a ficar úmida e sabia que ela estava chorando. Apertei o braço ao redor dela e beijei o topo da sua cabeça.

— Nunca mais eu vou sair de perto de você. — falei.
E essa promessa eu faria de tudo para cumprir, enquanto eu estivesse vivo.

Cicatrizes e Demônios  |  Livro 2 [SEM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora