Monstro

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— Ele achou! — Micael deu um grito na sala e chamou atenção de todo mundo que estava ali ainda, no apartamento de Augusto. — Olhem só! — Mostrou a foto do bebê dormindo no bebê conforto.

— Graças a Deus. — Sophia abraçou Micael com um sorriso. — Onde estão?

— Disse que estavam realmente indo pra São Paulo, agora estão no caminho de volta. — Contou a família. — Pediu pra eu ir esperar lá na casa dele.

— Eu vou com você. — A loira anunciou e ele balançou a cabeça negativamente. — É meu filho também, esqueceu? Eu não vou ficar aqui!

— O Gil te adora, né? — Debochou. — Ficou louca se acha que eu vou deixar que você entre na casa daquele homem.

— Micael...

— Não é não. — Disse alto. — Vocês vão pra casa e me esperam lá. Vou deixar o celular ligado e prometo que não vou sumir. — Deu um beijo na cabeça de Sophia. — Eu já volto com o Levi. — Se despediu de Luiz, Rosa e Solange. O advogado e o oficial de justiça não estavam mais ali.

Micael tomou um táxi e foi até o morro onde antes tinha sido levado a força pelos ex-colegas de cela. Quando chegou, sentou no meio fio pra esperar, sabia que não tinha ninguém ainda.

Quase uma hora depois, viu Gil e seus comparsas caminhando na direção de sua casa e ficou de pé novamente. Um que ele não conhecia trazia o bebê e Augusto parecia com muito medo ao caminhar junto com eles.

— Está esperando há muito tempo, Micaela? — Gil sorriu e viu Micael assentir. — Desculpe a demora, esse filho da puta estava um pouco longe já.

— Esperaria o que fosse. — Sorriu e caminhou pra ver o bebê, mas logo uma careta surgiu em seu rosto. — O que aconteceu com ele?! — Tinha o bebê adormecido nos braços. — Por que não acorda?

— Explica, cuzão. — Gil empurrou Augusto e o forçou a falar, mas ainda assim ele permaneceu em silêncio. Gil suspirou e tirou a arma da cintura, engatilhou e apontou na testa de Augusto. — Começar a falar.

— Nada, eu não fiz nada. — Deu de ombros.

— O menino não acorda! — Micael gritou, estava a ponto de pegar a arma e dar um tiro ele mesmo.

— Eu dei um remedinho pra ele dormir, só isso. — Falou com um certo tom de arrogância. — Eu não ia viajar com esse moleque chato chorando no meu ouvido cinco horas.

— Você é doente! — Rangeu os dentes. — Que remédio? Qual dosagem? O menino nem se mexe! Ele tem quinze dias! Você pensou nas consequências?

— Não, mas ia ser um peso a menos se morresse.  Você pode ter certeza que eu ia deixar em uma caçamba de lixo por aí. — Micael estava incrédulo com o que ouvia, aquele não parecia seu amigo de anos. — Um favor que eu ia fazer pra você e pra Sophia.

— Vai se foder. — Gritou. — Você merece morrer! Não merece respirar o mesmo ar que a gente.

— Se quiser eu resolvo isso pra você, Micaela. — Gil disse animado com a ideia. — É só dizer.

— Vou levar o Levi ao hospital. — Disse a Gil. — Com ele você faz o que quiser, não é bem da minha conta. Depois a gente se fala, Gil.

— Espera, Micael! — Guto gritou. — Não pode dizer isso e ir embora assim, vão me matar, quer ter isso na sua consciência? Você virou esse tipo de pessoa?

— Não tenta apelar pra minha boa vontade nesse momento. — Tinha um tom de desprezo. — Se o meu filho morrer, eu mesmo volto aqui e mato você com as minhas próprias mãos.

— Entendi o recado, pode deixar que a gente se diverte com ele enquanto você não dá notícias. — Gil piscou um olho e então Micael foi embora, correndo até chegar na pista onde poderia pegar um táxi.

Mandou mensagem pra Sophia avisando que Gil ainda não havia chegado. Não podia deixar a mulher ainda mais desesperada do que já estava.

Chegou no hospital e o bebê desacordado foi encaminhado para a emergência, Micael ficou ali sentado, esperando alguma notícia que fosse. Teve medo em alguns momentos, não fazia ideia de como contar pra Sophia se o pequeno não resistisse.

Tentou expulsar os pensamentos, tentou mentalizar somente coisas boas, mas parecia impossível. A certo momento ficou de pé e andava de um lado pro outro, aquilo estava demorando demais e ele já não tinha mais desculpas pra dar a Sophia sobre a demora.

— Pai? — Disse quando ouviu a ligação ser atendida. — Não fala que sou eu, por favor, disfarça. — Completou.

— Oi, Roberto! — Ouviu o pai dizer o nome de um de seus homens de confiança na empresa. — Houve algum problema?

— Eu estou no hospital com o Levi, Augusto dopou ele. Não quis contar a Sophia, ela vai ficar mais nervosa, mas já estou sem desculpas pra dar, consegue me ajudar?

— Consigo, mas você precisa me dizer se acontecer algo pior do que isso, tá bem? Eu sei que não estou aí pra ajudar, mas qualquer problema na empresa tem que ser comunicado.

— Eu vou mandar notícias, pai. Assim que o médico vier aqui.

— Então vou ficar aguardando mais informações. Até mais. — A ligação foi encerrada e Micael se sentou, olhando a tela do celular, mas sem realmente enxergar nada.

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— Algo grave? — Solange perguntou e ele negou com a cabeça. — Pareceu, você está pálido.

— Acho que essa demora não está me fazendo bem. — Desabotoou os primeiros botões da camisa. — Preciso de um ar.

— Luiz! — As três foram acudir o homem que parecia passar mal.

— Vamos pro hospital. — Sophia disse alarmada.

— Não! Eu vou ficar bem. — Insistiu. — Sophia, pode pegar um copo de água pra mim? — A loira assentiu, largou o celular e foi pra cozinha.

Luiz manteria o mal estar enquanto fosse necessário, ao menos preocupada com ele, ela se distraia do tormento que era aguardar notícias de Micael e Levi.

Só que aquilo perdurou por tanto tempo que a desculpa do mal estar não estava colando mais. Sophia andava de um lado pro outro, não conseguia contato com Micael. Disseram pra ela que o celular podia ter descarregado, mas já haviam se passado tantas horas que mesmo se Augusto tivesse chegado em São Paulo, já teriam voltado.

— Aconteceu alguma coisa! — Roia as unhas. — Não é possível. Estão me escondendo algo, Micael está me escondendo algo.

— O celular deve ter descarregado. — Luiz repetiu a ladainha.

— Não, nada disso! — Foi ignorante com o sogro. — É a cara do seu filho me deixar de fora! As coisas acontecem e ele me esconde, achando que está fazendo bem, mas a verdade é que não ter notícia nenhuma é bem pior do que ter notícias ruins.

— Você quer um calmante? — Solange ofereceu. — Vai acabar passando mal, igual Luiz.

— Eu não quero dormir, eu quero meu filho, só! — Disse feroz e então ouviram a porta se abrir. — Levi!

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now