Aquela Noite

Programa de amigos

— Isso nunca saiu da minha boca! — Se defendeu com as mãos no peito. — Não inventa.

— Deve bem ser.

— Mãe, brincadeira ridícula demais. — Ela bufou. — E fez vocês quase brigarem atoa, vamos encerrar por aqui? Hein meninas, chega né?

— Me desculpa, Sophia. — Disse contra vontade. — A brincadeira foi mais legal na minha cabeça.

— Tudo bem. — A loira voltou a se sentar. — Você tem sido ótima comigo, vamos esquecer os últimos dez minutos.

— Isso aí. — Micael brincou. — Agora, será que você pode ligar pro advogado e informar o resultado desse exame?

— Ele tem uma cópia, Augusto tem outra. — Informou. — Já tem autorização pra pedir o menino de volta.

— Será que demora muito?

— Brasil é um país burocrático, estou pagando caro pra agilizar as coisas. — Luiz respondeu a nora.

— Pagar caro quer dizer subornar? — Micael perguntou com uma sobrancelha erguida e viu o pai dar de ombros. — Isso é bem errado.

— É sim, mas da forma correta você ficaria meses até que algum juiz aceitasse rever o caso. E imagina quanto tempo não levaria para que tivéssemos o Levi de volta?

— Ok, eu não vou reclamar, situações desesperadas, pedem medidas desesperadas. — Eles deram risada. Micael olhou o celular em cima da mesa vibrar e leu o nome de Augusto. — Esse filho da puta perdeu a noção do perigo! — Reclamou e todo mundo olhou alarmado. — O que você quer?

— Te dar os parabéns. — Tinha deboche na voz. — Já sabíamos, mas agora é oficial.

— Vai se foder, Augusto. — Ouviu a risada do outro lado da linha.

— Quer sair pra comemorar? — Micael franziu a testa sem acreditar. — Faz tempo que não temos um programa de amigos!

— Você não está falando sério, está? — O tom de surpresa fez Guto rir mais uma vez. — Não pode ser tão louco assim.

— Micael, vamos deixar mesmo de ser amigos por conta de briga por mulher? — Percebeu que ele falava sério. — Você ganhou, está com a garota. Pronto.

— Deixa de ser absurdo, você me colocou na cadeia duas vezes.

— A primeira vez ninguém possui provas. — Soltou uma risada irônica que deixou Micael com ainda mais raiva. — Estão me acusando com base no testemunho de uma pobre coitada. E na segunda vez você invadiu a minha casa e me bateu, mereceu!

— Como está o Levi?

— Chorando como sempre. — Rolou os olhos mesmo o moreno não podendo ver. — Eu não sei como vocês aguentam esse moleque, sério. Deviam dar graças a Deus que eu dei uns dias de folga pra vocês.

— Devolve o garoto.

— Vamos tomar uma cerveja, conversar como gente civilizada e então talvez, no final dessa conversa eu devolvo. — Tinha um tom ameaçador. — Ou então eu boto um travesseiro na cara dele e resolvo esse problema.

— Você não seria capaz!

— Vai pagar pra ver?

— Não. — Suspirou. — Onde?

— Naquele bar que fomos da última vez assistir o jogo. E olha, vai sozinho. Pra gente conversar a vontade.

— Tudo bem, já estou indo pra lá. — Desligou a ligação e se sentou, o ódio transparecia tanto que ninguém teve coragem de falar. — Ele quer conversar comigo.

— Não vai, certeza que é cilada. — Sophia segurou sua mão. — Por favor.

— Eu não tenho medo dele, Sophia.

— Mas devia ter, porque ele joga baixo e você sempre cai. — Viu uma careta surgir no rosto dele. — Sabe que é verdade.

— Não sei de nada!

— Micael, da outra vez você não me ouviu e deu início a isso tudo, será que dessa vez você pode me ouvir?!

— Se você souber o que ele ameaçou fazer com o nosso filho se eu não for, rapidinho muda de ideia. — Contou a viu uma sombra cruzar o rosto da loira. — E fica calma, eu não vou beber nada que ele me oferecer e muito menos socar a cara dele de novo.

— Eu também acho que você não deve ir. — Solange disse apreensiva. — Fica longe dele, filho.

— Ele ameaçou o Levi, vocês ouviram?

— Chama a polícia então. — Solange deu a ideia. — Denuncia ele, mas não cai na armadilha.

— Gente, chega! — Disse alto, teimoso. — Eu vou resolver isso de uma vez por todas. — Deu um beijo na cabeça de Sophia, se despediu dos pais e então foi, deixando todo mundo apreensivo.