𝐊𝐮𝐫𝐨𝐤𝐨 𝐓𝐞𝐭𝐬𝐮𝐲𝐚

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Confesso, eu não a esqueci. Mesmo com o passar das estações eu ainda me lembrava claramente de tudo. Não esqueci de como ela mentiu dizendo que veria meu último jogo se depois eu jogasse com ela - não recusei -, de ter perguntado sobre ela e todos terem negado tê-la a visto. Não esqueci de como foi chegar no apartamento dela, não ver a moto monstruosa na garagem, de ter entrado na casa com a chave que ela me deu e ter encontrado o vazio; nenhum móvel e nenhum ruído que não fosse do vento. Não me esqueci de como chorei ao descobrir pelo noticiário que ela era a futura imperatriz da Rússia e que iria se casar com um duque britânico.

Tentei esquecer. Joguei suas roupas, suas cartas de amor e nossas fotos em uma caixa para dar fim; deixei no meio da estrada para pegar no fim do dia quando começou a chover. Descobri que a antiga casa dela estava em meu nome e não consegui vender. 

Ignorei as perguntas, os comentários e qualquer coisa que falassem sobre ela. Tentei não me recordar dela com qualquer ronco de moto, achando que o próximo sinal seria ela batendo na minha porta. Tentei ignorar o aroma do café nas cafeterias. Passei a fingir que gostava de acordar cedo e que não era uma mania que peguei dela.

Tapava os ouvidos quando nossa música tocava em algum lugar. Fechava os olhos quando via alguém parecida com ela e quando via algo que ela ia gostar.

Eu me perguntei tudo o que só ela iria conseguir me responder. Por que de ter ido embora sem avisar? Por que não me falar que era da realeza? Por que ter se casado com ele, quando prometeu que eu seria seu marido? Se era por ser mais novo, um adolescente ingênuo. Por não saber como reagir as provocações. Por ser aquele que era dominado no sexo. Por não ser rico. Tudo.

Fingi não ter passado a noite toda chorando quando anunciaram a gravidez logo após o casamento. Fingi não ter ficado preocupado quando anunciaram que o bebê tinha nascido prematura, mas surpreendentemente saudável.

Tentei sair com outras mulheres. Altas. Baixas. Gordas. Magras. Loiras. Ruivas. Morenas. Mais velhas. Mais novas. Mas todas elas tinham algo que você tinha.

Desisti. Já estava com vinte e sete anos. Vida feita. Com um coração que ainda doía quando falavam da bela Imperatriz russa.

Já tinha passado dois dias desde que você tinha anunciado seu rompimento com o duque, afirmava que ele tentou vender o filho que nunca foi mostrado ao público no mercado negro e que tentou estupra-la para que tivessem um herdeiro legitimo. O duque dizia outra coisa, afirmava ser mentira e que ela tentou mata-lo enquanto dormia. Sem provas por parte dele. O casamento se desfez e ele foi preso. Ela passou a coroa para o irmão, afirmando que ele iria cuidar melhor do povo e que ela queria apenas uma vida pacifica ao lado do filho.

Essa era a notícia mais quente da família russa no momento. Passava no noticiário o tempo todo e em qualquer lugar. Inclusive na cafeteria onde eu estava, uma mesa ao lado da janela que dava de frente para uma quadra de basquete com um livro e uma solitária xícara de chá.

Não conseguia me concentrar, não quando a voz dela veio da televisão com o discurso que tinha feito dias atrás.

Olhei pela janela e vi um garoto sozinho com uma bola de basquete surrada. Com uma vontade de jogar repentina, peguei minhas coisas, paguei pelo chá e atravessei a rua. Coloquei a bolsa no banco e me aproximei do rapaz que não parecia ter chego aos dez anos de idade.

- Posso me juntar à você? - Perguntei arregaçando as mangas da camisa.

Ele me olhou incerto, meio tímido com os olhos azuis e os cabelos negros, levemente cacheados. Ele se posicionou e começamos a jogar. Pedi para pegar leve, ele sorriu docemente e concordou. Ele era bom. Tinha movimentos ágeis e certeiros, não errava nenhuma cesta. Quando eu estava com a bola, logo ela era roubada.

Imagine AnimesWhere stories live. Discover now