Velhos amigos

Começar do início
                                    

— Na caixa registradora. — Respondeu alto. — E eu também guardo um pouco escondido atrás do balcão. — Entregou tudo, só queria ficar em segurança. — Leva o que quiser, só deixa a gente em paz.

— Você tem duas beldade aqui, amigo. — Debochou. — Meu amigo aqui. — Colocou a mão no ombro do capanga que não era o coitado do mosquito. — Tem tesão em grávidas.

— Por favor, não. — Ele disse nervoso, viu Sophia se remexer, resmungar e negar várias vezes com a cabeça. — Deixa a gente...

— Em paz. — Ele completou. — Não sei bem se quero.

.
.
.

No apartamento, Micael tirava a mesa do café quando notou o celular de Arthur no chão. Devia ter caído do bolso e ele nem percebeu. Pensou várias vezes se devia ou não descer e levar, talvez só queria uma boa desculpa pra entrar lá e saber da briga de Sophia.

Deixou o aparelho de lado e voltou a limpar, mas aquilo o incomodou tanto, que assim que terminou a mesa, pegou o celular e caminhou pra fora.

Quando viu as portas aparentemente fechadas, franziu a testa. Era algo tão extraordinário que as portas tinham que ficar trancadas? Ele pensou.

Ia desistir, era melhor aguardar e saber da novidade pela Laura, mas sentia que havia algo de errado. Então bateu na porta e gritou.

— Arthur!

Do lado de dentro, os três assaltantes ficaram alarmados, o líder agachou ao lado de Arthur e sussurrou.

— Quem é?

— Um funcionário. — Avisou com medo. — É só deixar ele pra fora que já já ele desiste.

— Ué, ele tem que poder se juntar a nossa festa. — Debochou. — Estamos nos divertindo tanto juntinhos.

— É sério, ele é inofensivo! — Arthur reforçou.

— Ou ele vai sacar que tem algo de errado aqui e chamar a polícia? — Deduziu o plano de Arthur. — Eu não nasci ontem, amigo. — Puxou Sophia e a fez ficar de pé. Colocou a arma na cabeça da mesma. — Grita e manda ele entrar. Diz que tá aberta a porta. — E assim Arthur o fez.

Micael empurrou a pequena portinha de funcionários com força, eles deviam consertar aquilo, estava realmente terrível.
Entrou com o celular de Arthur na mão, ainda não havia percebido a situação.

— Olha eu não vim fuxicar, mas o celular ficou caído no chão, pensei que talvez fosse preci... MAS QUE PORRA! — Arregalou os olhos quando viu Sophia sob a mira da arma de Gil. — Que merda está rolando aqui? Vocês ficaram loucos? — Desviou o olhar para Arthur e Laura no chão.

— Micaela! — Gil disse com um sorriso. — Não estava esperando ver você aqui.

— Porra, eu não estava esperando ver você aqui nunca. — Disse sério e em seguida sorriu, deixando os amigos um tanto confusos. — Será que dá pra tirar essa arma da cabeça da Sophia.

— Sophia? — Gil repetiu o nome com surpresa, guardou a arma no cinto e então virou a loira pra si, dando uma boa olhada no rosto. — Eu não acredito que essa daqui é a nossa famosa Sophia. — Disse com humor. — E esse bebê aqui, é teu?

— Não. — Deu de ombros. — É do Augusto.

— Eu não acredito nessa merda?! — Disse pra Sophia que parecia ainda mais assustada. — É uma vagabunda mesmo.

— Tá legal, deixa ela em paz. — Pediu e Gil rolou os olhos. — E você Bruno, quando foi que saiu?

— Há pouquíssimo tempo. — Caminhou pra perto de Micael e lhe deu um abraço. — Não tenho uma mamãe pra me tirar de lá que nem você.

— Ah, vai tomar no seu cu. — Deu risada e foi cumprimentar mosquito. — Você não devia andar com esse pessoal, vai parar lá em Bangu de novo.

— Vai se foder, Micaela. — Gil deu risada e largou Sophia, caminhando até Micael pra um abraço. — Você que devia andar com a gente, sabia?!

— Desde quando vocês são assaltantes?? — Os quatro estavam em rodinhas. — Não combina com vocês.

— Estávamos ali no morro conversando e bebendo uma cerveja. — Bruno começou a contar. — Murilo desafiou a gente a descer e assaltar algum lugar. Tua namoradinha ali estava dando mole aqui na frente.

— Ex-namoradinha. — Corrigiu de forma sútil. — Isso aqui foi um desafio? Fala sério, vocês são escrotos demais. Eu espero que não terminem isso, eu trabalho aqui, não vão me deixar desempregado!

— Sabe que sempre tem uma vaga no nosso ramo. — Gil ofereceu. — Aquela sua amiga ali moreninha da certinho com uma encomenda minha.

— Você não pense em fazer isso. — Micael ordenou e saiu da rodinha indo até os amigos e os soltando. — Pelo amor de Deus, Gil.

— Relaxa, Micaela. — Ele deu uma risada aberta. — Não sabia que eram seus amigos, se soubesse, não tinha mexido com eles. — Micael olhou pra trás, ainda soltando a mão de Laura. — É verdade ué, seus amigos são meus amigos! Menos a vagabunda.

— Para com isso! — Deu risada e ficou de pé, junto com o pessoal, já livre. — Esquece isso.

— Eu não, se fosse minha mulher, já estava morta numa vala por aí. — Disse com certo nojo. — Mas antes de matar, eu tinha arrancado esse bebê pela boca!

— Ainda bem que eu não sou. — Respondeu com o mesmo tom de nojo que o bandido usou, antes mesmo de Sophia pensar na próxima frase, tinha levado um tapa na cara.

— Escuta aqui vagabunda, eu não sou seu amigo e não te dei permissão pra falar comigo nesse tom. — Micael puxou Sophia pra trás e a olhou.

— Não responde. — Disse a Sophia. — Ele tem um pavio curto demais pra você sequer respirar ao lado dele. — Se voltou para Gil. — Não precisa disso.

— Vamos embora daqui. — Avisou aos capangas. — Desculpe o incoveniente. — Sorriu a Arthur. — Vou avisar a galera que não é pra mexer com vocês.

— Obrigado, eu acho... — Falou baixinho.

— Vamos com a gente, Micaela! — Não era um convite e Micael arregalou os olhos.

— Vai me colocar em que furada? — Perguntou ainda assustado. — Sinceramente, não estou querendo voltar pro presídio não.

— Cala a boca e vem, antes que eu me estresse. — Gil saiu na frente, sendo seguido por mosquito e Bruno. Micael soltou um suspiro e olhou pros amigos.

— Vai ficar tudo bem. — Avisou, os três continuaram mudos, ainda assustados. — Vou tentar ligar pra dar notícias. — E caminhou pra fora, entrando no carro de Gil.

Aquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora