Capítulo 14: Uma linda amizade, apenas

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Mais um mês se passou, enfim dezembro chegou, e com ele as férias, quatro meses que Nathaniel havia voltado após quatro anos de sua partida, ainda mantinhamos nossa amizade estranha, mas amizade. Nossas quintas de bete haviam sido canceladas desde a internação de Bibe que continuava no hospital com tudo pago por ele.


Eu ainda o amava, ainda era apaixonada por ele, meu coração ainda acelerava ao vê-lo, eu ainda ficava nervosa, mas já não a todo momento. Ainda me constrangia segurar o olhar no seu, e ainda corava com coisas pequenas. Eu ainda o observava escondida, admirando seu jeito e sua beleza, e seu sorriso ainda me fazia sorrir, Nathaniel Alencar ainda morava em meus pensamentos, nossa promessa ainda era minha promessa, eu ainda a cumpria fielmente esperando que ele tomasse alguma iniciativa que ele desse alguma explicação ou cheque mate, afinal, eu nunca o via com garotas e os comentários eram sempre de afastamento geral de qualquer menina, isso me nutria as esperanças. Ele estava cumprindo a promessa também então por que não vinha falar comigo? Por que nunca em hipótese nenhuma falava comigo sobre sua ida? Por que sempre que lembrávamos de nossa infância ele excluía nosso pequeno romance? O beijo que ele me deu, as declarações de amor e a jura, a única jura de amor que me tinha proposto? Quatro meses não era tempo suficiente para aquela conversa? Já não bastava quatro anos esperando por ele? Será mesmo que ele havia se esquecido? Será mesmo que não havia passado de brincadeira de criança? Ele nunca havia me amado? Ele se arrependia do beijo, da promessa e de tudo relacionado ao nosso pequeno romance?


Uma lágrima escorreu por minha bochecha quando esses pensamentos invadiram minha mente em uma noite chuvosa enquanto eu observava a água que caía do céu tão de perto, eu estava na área verde do hospital debaixo da cobertura que separava a entrada para uma das alas do gramado cheio de flores, árvores e banquinhos, agora as lágrimas molhavam meu vestido longo azul e branco e eu já não conseguia contê-las.


"Por que me magoa tanto? Por que não me agarra ou me solta? Por que não diz que se lembra? Por que não diz que não liga?"


- Amber?


Era como se pensar nele o tivesse atraído até ali.A porta se fechou atrás dele. Tentei secar minhas lágrimas, mas não pude.


- Aconteceu alguma coisa? - ele perguntou preocupado.


Como ele ainda podia agir assim!? A mágoa e a ira tomaram conta de minhas atitudes.


- Aconteceu! Sim! - eu disse com raiva e andei até o meio gramado me encharcando com a chuva.


- Amber, o que você está fazendo!? Vai pegar uma gripe! - ele disse ameaçando vir atrás de mim.


Eu queria que ele viesse, ele tinha que se lembrar, foi numa chuva como aquela, num gramado como aquele, eu faria ele se lembrar!


- Não saio daqui! - gritei.


Só nós dois estávamos para o lado de fora.Vi ele bufar antes de por o celular e a carteira em um banquinho e andar até estar a poucos metros de distância de mim.


Aos poucos seus cabelos loiros ficaram encharcados e caíram por sua face, sua camisa preta se colou ao seu abdômen e então lá estava ele, meu Nathan de 12 anos, ingênuo e amoroso. Mas não era ele, aquele era um Nathan mais alto, mais forte, um de 16 anos, apesar de muito jovem era muito mais maduro do que me lembrava, e muito mais culpado.


O que eu estava fazendo? Não podia despejar minha raiva nele assim.


- Me desculpa, Nathan. - disse abaixando o olhar começando a ter remorso do que fazia.


Pela primeira vez desde que ele voltara eu o havia chamado daquele jeito outra vez. Vi seus pés chegarem mais perto dos meus.


Levantei meu olhar, seus olhos castanhos estavam firmes nos meus, já não eram tão tímidos quanto os da primeira vez.


- Por que me trouxe aqui? - ele perguntou.


Por trás de toda aquela casca de homem maduro ainda havia um adolescente com lembranças e sentimentos então.


- Qual foi a última vez que estivemos na chuva, Nathan?


Tomei coragem para perguntar, por favor, me diga que se lembra.


- Faz quatro anos, Am.


Ele havia me chamado de Am, ele se lembrava! Ele se lembrava!


- E o que fizemos, Nathan?


Meu coração estava mais acelerado do que qualquer outro dia desde sua chegada, quando ele passou os braços por meu corpo eu fechei os olhos tornando a chorar, dessa vez de alegria, ele se lembrava! Ele se lembrava! Ele não era indiferente!


Seu abraço ainda era tão quente e aconchegante quanto antes, como era bom saber disso. Eu me aninhei neles e em seu peito de forma calorosa em meio à chuva fria.


- Você sabe o que fizemos, Am. Não pense por um segundo que me arrependi daquilo.


Foi o que ele disse em meu ouvido em meio aquele abraço, e então me soltou.


Me soltou.


- Vamos entrar? Você precisa ficar seca e bem para cuidar de Bibe. - ele disse me estendendo a mão.


Eu ainda estava processando minha frustração quando peguei em sua mão e o segui hospital a dentro.


- Depois de uma reconciliação não deveria acontecer um beijo, Bibe? - eu matutava no quarto após estar tomada banho e trocada e Nathaniel ter ido embora.


- Não se não foi uma reconciliação amorosa.


- Mas ele disse que não se arrependia.


- Isso não significa que ele vai mudar como age com você, Be. Ouça sua Bibe e não crie expectativas.


- Eu não acredito que continuo nessa encruzilhada! - disse me deitando na cama ao lado da maca de Bibe e cobrindo minha cabeça frustrada e irritada com Nathaniel e seu mistério.

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