Capítulo 02: Volta às aulas

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Cheguei no colégio com não apenas pensamentos me perturbando, mas também os comentários de cada adolescente fofoqueiro. A notícia tinha saído na tarde anterior.


Todas as rodinhas falavam de Nathaniel Alencar de volta na escola. Inclusive a rodinha em que eu estava, com quatro amigas, Brisa, Cléo, Dandara e Sofia.


- Amber, por favor, troca de sala comigo!! - Brisa pediu em tom de súplica assim que me aproximei da rodinha.


- O quê? Por quê?


- O aluno novo, bobinha! - ela disse como se eu fosse tonta por não saber.


- Ele caiu na minha sala!? - perguntei com irritação.


- Ué, por que tá brava? - Cléo perguntou.


"Por que estou brava? Oras, se eu quisesse te contar..."


- Não estou brava. Estou surpresa.


Então Nathaniel havia caído na minha sala, eu ainda não conseguia definir se aquilo era bom ou ruim.


- Bem-vindos de volta, turma. Temos dois alunos novos nessa sala, um veio da sala ao lado e o outro veio de outra cidade, algum deles está aí?


O silêncio foi a resposta.


- Certo, provavelmente amanhã os veremos. Vamos iniciar.


Depois das aulas fui direto para a casa de Bibe, eu ia ajudá-la em casa todas as terças e quintas-feiras que eram os dias em que eu me dava folga. Bibe já não era uma mulher tão saudável e eu limpava sua casa, lavava suas roupas e cozinhava enquanto ela descansava, tomava sol, lia um livro ou qualquer coisa que não fosse trabalhar. Normalmente passávamos o dia conversando como costumávamos fazer quando ela trabalhava em casa.


Servir ao outro foi uma das coisas que descobri ser o propósito da vida terrena, eu havia aprendido isso com a cristã mais fervorosa que já havia conhecido: Bibe. Ela era uma mulher de virtudes admiráveis, eu não era muito de crenças, mas certamente se um dia fosse eu me tornaria cristã, porque Bibe era a expressão viva e ativa de tudo o que ela cria e que linda e fiel expressão. Bibe conseguiu, influenciada por sua fé, formar virtudes em mim que com certeza meus pais não conseguiriam, a laboriosidade era a mais forte delas, as segundas, quartas, sextas e quase todos os sábados eu trabalhava por conta própria como marketing digital a partir de estudos autodidatas do assunto que iniciei aos meus treze anos, desde então havia juntado um bom dinheiro e reinvestido em certificados, e aos meus 16 anos boa parte desse dinheiro estava aplicado no mercado financeiro, ainda não chegava perto do que meus pais tinham, mas era o suficiente para meus planos futuros.


Meus pais queriam um casamento arranjado para mim, e eu tinha em mente que não aceitaria isso jamais, então pagaria minha própria faculdade e como já sustentava a mim mesma com meu serviço, embora eles não soubessem, continuaria a fazer isso, continuar ou não na casa deles ainda era algo que eu definiria mais a frente.


Eu sabia perfeitamente morar sozinha, pois desde os 3 anos Bibe me ensinou a usar o banheiro, me aprontar, arrumar meu quarto e colocar minha louça na pia sozinha. Conforme fui crescendo ela ia me ensinando cada serviço que uma casa pequena de pessoas comuns da cidade tinha, então eu conseguia organizar muito bem tempo para casa, tempo para estudo e tempo para trabalho sem perder a cabeça, e Bibe soube aplicar exercícios e disciplinas diárias que treinaram minha atenção e diligência de modo que eu pude chegar aos 16 anos apta para decidir o meu futuro assim que me formasse no ensino médio. Porque ela sabia que estava criando uma menina para muito, muito mais do que meus pais me achavam capaz e sabia que meu futuro não seria bem como eles planejavam.


Bibe me amou e deu o seu melhor na minha criação como meus pais nunca fizeram e eu a amava como nunca amei meus pais. Eu a amava por tudo que me oferecia com todos os seus bons atributos e isso me trouxe uma mãe para a vida inteira e o amor desinteressado dela por mim deu a ela uma filha para a vida toda. A filha que ela perdeu dias antes de me ganhar.

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