Prólogo: A promessa dos 12

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Eu fui uma criança comum e o mérito disso não é meu, é de Bibe.


Bibe foi minha mãe muito mais que babá ou ama de leite, foi ela quem me criou e me ensinou tudo o que sei, foi ela quem forjou meu caráter a ferro e fogo e quem me direcionou em tudo na vida, foi minha mãe e meu pai, era ela a quem eu amava como se realmente tivesse saído de seu ventre. Nisso preciso ser grata aos meus pais que escolheram Bibe a dedo. Meus pais bilionários, contudo tinham falta em tempo, afeto e atenção, ou melhor tinham falta de alma, e isso, sim, provocou algumas coisas em mim, mas Bibe sempre deu seu melhor pra me tornar o mais comum e ajustada possível.


Eu não me recordo ao certo em qual dia eu e meu vizinho nos conhecemos, passamos a brincar e nos aproximamos tanto, mas Bibe diz que é desde que começamos a sentar enquanto ainda éramos bebês, ela e a mãe dele já nos juntavam no gramado e brincávamos por horas a fio. Foi assim que Nathaniel e eu, Amber, nos conhecemos e assim que crescemos.


Foi em janeiro quando comecei a reparar que a calça chino cinza escuro junto com a camisa polo e o tênis branco faziam juz ao seus cabelos lisos e loiros e belos olhos castanhos, era o aniversário de onze anos dele e eu nunca tinha passado tanto tempo reparando em tanta coisa nele ou pior, nunca tinha o achado tão bonito ao ponto de ficar com vergonha de conversar com ele e me sentir corar quando ele quebrou o gelo e me puxou pro seu lado no parabéns.Eu completaria onze em breve e a partir daquele dia eu queria ficar bonita e agir de modo diferente perto dele, era algo natural, eu não me forçava a isso, eu simplesmente passei a me arrumar mais e a ser mais melodramática perto dele, e foi no meu aniversário de onze, quatro meses depois, que ele me disse pela primeira vez.


- Nossa, Am. - ele corou. - Você é tão bonita...


Ali, nosso namorinho sem pedido nem avisos ou cerimônias começou, não precisávamos falar nada, o modo como sorríamos um para o outro e como nossas brincadeiras se tornavam motivos para pegarmos nas mãos, nos abraçarmos e depositarmos beijinhos na bochecha já dizia tudo: nos gostávamos.


Eram dias inocentes e coloridos para nós, tínhamos ambos 12 anos, sabíamos que vivíamos um romance de criança e era divertido sua mão pegar a minha quando ninguém via, ou mandar beijinhos no ar e cartas de amor secretas pela brecha gigante que ficava escondida atrás de um arbusto do meu para o seu quintal. E em uma tarde chuvosa desses nossos doces e vigorosos doze anos a Bibe nos deixou correr sem rumo tomando toda a chuva que conseguíamos.


Abrimos o portão de minha casa e fizemos, corremos e corremos até o parque mais próximo, era uma chuva sem raios nem trovões, mas a água que caia do céu era forte o que fazia não ter ninguém na rua. E talvez foi isso, ou o clima de paixão que a chuva traz, mas quando nos olhamos no meio de toda aquela água, num quase fim de ano ele sorriu. Um sorriso que nunca vou esquecer, porque depois de sorrir seu lábio se contraiu, nervoso suponho, e aproximou aqueles lábios dos meus, e me beijou, de forma confusa e inocente de dois recém-adolescentes que nunca tinham beijado lábios nenhum antes, nós nos beijamos, não foi um selinho, foi um beijão encharcado e desengonçado, o meu primeiro beijo, o primeiro beijo de Nathaniel. E ali, eu escolhi amá-lo, é lógico, ele tinha escolhido me amar antes, e assim passamos a roubar selinhos um do outro pelos dois meses que se seguiram, era uma delícia o friozinho na barriga que aquilo causava e Bibe sabia de tudo, ela ria e só me dizia para ter calma que éramos muito jovens, e calma era o que tínhamos.


Em um dia dentro desses dois meses estávamos sentados na grama do quintal de casa, meus dedos acariciavam as costas de suas mãos e ele sorria trocando olhares comigo, foi quando ele disse:


- Am, eu amo você. Já te disse. Mas eu amo muito você e por isso queria que fizéssemos uma promessa, ok?


Eu sorri corada.


- Tá bom, qual?


- Vamos prometer amar só um ao outro até morrermos? Não importando o que aconteça vamos sempre esperar um pelo outro, e seremos os únicos namorados um do outro até casarmos. Porque eu prometo Am, vou me casar com você.


- Claro, Nathan, eu te amo, eu prometo.


Ele sorriu e depositou um selinho em minha boca enquanto juntamos nossos mindinhos selando nossa promessa.


Eu nem sequer imaginava naquela época que não era isso o que acontecia com todo mundo, e as palavras "únicos" e "esperar" e "até morrermos" cravaram-se em meu coração de forma tão profunda que ao final desses dois meses quando Nathaniel foi embora da cidade e da casa ao lado me deixando apenas um curto bilhete, nem um mísero beijinho, abraço ou aperto de mão mesmo depois disso eu decidi que manteria minha promessa, até que ele voltasse, porque o bilhete dizia:


"Am, eu amo muito você. Não pude falar com você pessoalmente, eu não... não consegui, espero que possa me perdoar, mas nossa promessa, você lembra? Ela está de pé! Te prometo Am, voltarei para você, voltarei e me casarei com você!"


- Eu prometo, Nathan, esperarei por você, não amarei mais ninguém nem deixarei que ninguém faça gracinhas comigo como fazíamos, você é o único pra mim. - sussurrei em meio às lágrimas que eu não conseguia conter deitada na cama em meu quarto.


Estúpida? Talvez não se levar em conta que eu era uma pré-adolescente de 12 anos cheia de romances juvenis em minha mente.


Os meses foram passando e naqueles meses seguintes uma espécie de amargura e ressentimento surgia em mim e eu que vivia a par dos meus sentimentos fui facilmente domada por aquilo, e, sim, eu afastava a todos os garotos que tentavam se aproximar e nutria muito viva a certeza de que ele voltaria e se casaria comigo, nutri esse pensamento por cerca de dois anos após sua ida. Mas ainda assim a amargura de ele não ter me dado um mísero tchau e não ter me enviado uma mísera carta durante todo o tempo que se passou hora ou outra aparecia e eu me entregava a ela e chorava e esperava. Meus dias seguiram nublados e chorosos, até eu encontrar um serviço para me focar por um tempo, e depois fazer algumas amizades, não tão chegadas, mas ainda amigas, e então meus quinze anos chegaram, nenhuma festa para mim, eu rejeitava qualquer coisa assim, principalmente depois de saber que Bibe estava sendo aposentada e mandada embora de nossa casa, foi ali que meus dias passaram a ser negros como pesadas nuvens de uma tempestade que colheu muita água da terra.


Em pouco tempo, porém, consegui contornar essa minha tristeza, fazendo visitas regulares a casa de Bibe para servi-la depois de tanto tempo que ela dedicou servindo a mim. Além de continuar a estudar e trabalhar por conta escondido de meus pais. E assim mais um longo um ano e meio se passou e os dias que estavam bons ficaram na dúvida se o sol devia continuar brilhando ou se era a hora das nuvens cobri-lo.

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