— Quero que seja feliz, Soph.

— Eu sou muito feliz, obrigada. — Debochou. — O que ia ver?

— A ascenção Skywalker. — Avisou com um sorriso e a loira se animou. — Toma come pipoca. — O play foi dado e os dois ficaram em silêncio assistindo ao filme. Em certo momento Sophia tomou o lugar a pipoca e se deitou no colo de Micael, recebeu cafuné. Parecia que os dois tinham voltado cinco anos, vivendo como sempre viveram.

— Eu não acredito que acabou! — Sophia protestou. — Passou muito rápido.

— Mas foi um filme legal, eu curti. — A loira se sentou. — Agora eu vou ir escovar os dentes e dormir, você também devia, afinal, não pode ter olheiras amanhã, no seu grande dia.

— Micael... — Ela chamou quando ele já tinha levantado e estava de costas, caminhando pra deixar o pote e o copo na pia. — Você...

— Eu...? — Resmungou. — Eu o quê?

— Você vai deixar mesmo eu casar? — Perguntou baixinho e teve um suspiro de reposta. — Digo, você não vai tentar me fazer desistir?

— Eu não, a vida é sua, você sabe o que faz. — Deu de ombros como se pouco ligasse, mas fazia uma tremenda força pra manter essa fachada.

— Você realmente não me ama mais? — Surpreendeu o moreno com aquela pergunta. — Se disser que ama, eu desisto de tudo.

— Não, eu não amo. — Viu a careta de tristeza logo sumir e aparecer outra de raiva no lugar. Sophia era oito ou oitenta. — Sinto muito.

Saiu de perto, fez o que tinha que fazer e deitou na cama, se martirizando por não ter coragem de assumir um compromisso agora, enquanto era um fodido.

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Chegado o grande dia, Micael não saiu do quarto nem por um instante. Fingiu não estar em casa quando Augusto bateu na porta e silenciou o celular quando viu as chamadas dos amigos. Ficaria sumido o dia inteiro, não iria naquele casamento.

E conseguiu concluir o plano. Não saiu do quarto pra nada, não enquanto tinha gente em casa. Pouco depois das seis da tarde, ele saiu e foi mijar, estava a ponto de explodir. Procurou algo pra comer e ficou imaginando se aquela hora Sophia estava ou não casada.

Pegou o celular e viu as dezenas de mensagens. Em sua maioria de Arthur e Augusto. Recebeu uma foto de Laura, quando abriu, era Sophia vestida de noiva. Sorriu ao ver a lindeza que estava.

Num surto repentino de arrependimento, ele saiu correndo pra vestir uma roupa, precisava ir até esse casamento, precisava dizer a ela que a amava sim.

Correu e como correu. Pegou um táxi, mexendo na conta que sua mãe tinha depositado um dinheiro, mas quando finalmente chegou no local do evento, Sophia já estava no altar dizendo seus votos. Se sentiu mal ao ouvir.

Entrou na ponta do pé e se sentou no último banco, na beira. Seu coração estava apertado, mas era um idiota, agora era tarde demais, a não ser que fizesse um escândalo e não era capaz daquilo.

O juiz de paz perguntou se Sophia aceitava Augusto como seu legítimo esposo e a loira deu uma olhada no salão antes. Encontrou Micael e o encarou por alguns instantes, ele suplicou com o olhar para que dissesse "não". Viu seu mundo desabar quando ouviu a voz da loira embargada de emoção dizer um "sim" duvidoso.

O "Sim" de Augusto soou vitorioso, empolgado, realizado. Tinha plena certeza do que estava fazendo, parecia muito feliz.

Foram declarados marido e mulher, um beijo aconteceu e aplausos surgiram. Havia sido um idiota e agora ela era esposa de outra pessoa.

Os dois saíram da área montada para cerimônia e caminharam para receber os cumprimentos dos convidados.

— A ficha caiu? — Arthur e Laura chegaram perto dele de mãos dadas. Micael estava parado um pouco distante, observando os dois recebendo abraços e felicitações. Sorrisos o tempo todo, pareciam realizados.

— Caiu. — Engoliu em seco. — Eu precisava ter chegado aqui só um pouco antes.

— Meu amigo, eu sinto muito. — Deu tapinha nas costas de Micael. — Mas agora eles casaram, a não ser que você queira ir atrás de um divórcio pra eles, devia deixar pra lá.

— Um divórcio não é tão ruim.

— Te falei que um casamento não é tão fácil de terminar quanto um noivado.

— Eu não sei o que fazer, Arthur. — Micael tinha lágrimas nos olhos. — Eu sei que ela vai ficar bem e vai ter uma vida bacana que eu não poderia oferecer a ela, mas...

— Está tudo bem, amigo. — Continuou a tentar consolar. — E se não estiver agora, com o tempo fica. É bom que você pode seguir sua vida em paz.

— Talvez você tenha razão. — Ainda não tinha desviado o olhar do feliz casal. — Mas eu não vou lá cumprimentar não, eu vou procurar um drink. — Saiu de perto.

— Esse casamento não dura um ano. — Laura comentou com o namorado. — E eu digo um ano sendo muito generosa.

— Se ele decidir ir atrás da Sophia, não dura nem a noite de núpcias. — Os dois deram risadas e caminharam para perto de Sophia e Augusto para lhes desejar coisas boas.

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A certa altura, já a noite, Sophia dançava com um tio, irmão de sua mãe. Micael tomou coragem e foi até eles.

— Com licença, Osvaldo. — Conhecia todos os parentes de Sophia, ao menos os mais próximos. — Será que posso ter uma dança com a noiva?

— Claro que sim, Micael. — Soltou Sophia e lhe deu um beijo na testa. — Você está maravilhosa, querida. — Se afastou e Sophia se virou para Micael, que passou a mão pelas sua cintura a puxando para si.

— Achei que não viria aqui. — Sophia quebrou o silêncio. Os dois balançavam desajeitados pela pista de dança. — Todos te procuraram bastante.

— Eu não viria, ver você casando me matou dez vezes, se é possível.

— Não devia ter tido esse efeito, você disse que não me ama. — Ela tinha os braços em volta do pescoço dele. — Devia estar feliz por mim, olha só, realizando um sonho. — Fungou.

— Eu estou muito feliz que você vai ter uma vida maravilhosa ao lado de um cara que parece te amar muito. — Deitou a cabeça em seu peito e continuaram a balançar, completamente fora do ritmo. — Eu decidi vir de última hora pra dizer que amo você.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now