024.

559 49 2
                                    

quando chegou da áustria na segunda pela manhã, indo direto para o trabalho com uma carona de charles, gianna não pensou que teria dias tão estressantes pela frente. a energia estava tão boa e ela se sentia muito cansada depois de toda a correria dos últimos dois dias, mas jamais cogitou a possibilidade de que chegaria diretamente para uma cozinha completamente caótica.

pierre hermé não estaria presente em sua costumeira sala de aula, os alunos se reuniriam para comandar a boutique pelos dois turnos enquanto ele sentava-se numa das mesas redondas e caras do salão, como somente mais um cliente do local.

aquela era uma de suas últimas atividades como participantes do curso, o chef tinha em mãos um caderno de couro que parecia meio surrado e que ao mesmo tempo, custava mais do que toda a roupa cobrindo o corpo da italiana. e a cada brechada que ela se permitia através das pequenas janelas de vidro na porta que conectavam cozinha e salão, ela sentia um frio da barriga ao vê-lo anotando qualquer coisa.

confiava no próprio potencial, porém havia algo em chegar àquela parte do treinamento e se ver diante de algo que pouquíssimos tinham alcançado. pierre não era conhecido por tornar as coisas mais fáceis para ninguém e por mais que gianna parecesse estar num local positivo de suas avaliações, ele não sustentava ninguém lá somente por boa vontade ou qualquer coisa do tipo.

passou a manhã inteira tentando coexistir com jean, um dos poucos colegas que havia permanecido no curso, apesar de tudo. e estava sendo simplesmente caótico. o rapaz era extremamente mandão e insistia em tratá-la como se fosse sua subordinada — coisa que normalmente não tiraria a morena tão de tempo assim, mas que pela repetição incessante e pela tentativa de lhe direcionar tarefas patéticas, oficialmente lhe perturbou. sergei, como o bom amigo que havia se mostrado ser ao longo daqueles meses, se mantinha intermediando toda a situação para evitar quaisquer conflitos que pudessem colocá-los em perigo.

não por questão do destino, aquele dia era sempre lotado. hermé até convidava alguns de seus amigos pessoais para juntar-se à multidão de pessoas que gostaria de assistir o preparo pelos pupilos daquela edição, fossem quem fossem — a verdade é que muito raramente as pessoas se ocupavam em lembrar dos respectivos nomes ou qualquer coisa do tipo, a intenção era vê-los falhar em algum nível ou simplesmente ser deslumbrantes.

e no primeiro turno, gianna diria que a coisa toda tinha sido muito simples. não fossem as massas e pré cozimentos, assim como alguns afins com os quais precisavam estar bastante atentos, a cozinha não era um lugar ruim para se estar. a questão é que depois de um sanduíche com os mais variados tipos de patê, já que os alunos só conseguiram encontrar restos pelas vasilhas e panelas, iniciariam a segunda parte do evento: "jeter aux loups", em que eles eram realmente jogados aos lobos.

com uma breve reintrodução de pierre às pessoas presentes na boutique, os três cozinheiros foram convidados a reunir-se na cozinha aberta, com uma estrutura recém montada para recebê-los. jean era todo sorrisos e cumprimentos, agindo como se fosse um grande preferido de cada uma das pessoas presentes ali por amizade e mesmos grupos sociais. rambaudi notou o quão baixo aquilo poderia ser, ainda mais numa condição de tanta exposição e mostrou algum apoio bem discreto a edwards, que parecia mais tenso do que antes.

"boa sorte!" sussurrou, com um sorriso curto no canto dos lábios, somente para o amigo, que conseguiu, de alguma forma, retribuí-la com mesma atenção.

eles ficariam responsáveis, especificamente, pela conclusão de todos os itens doces produzidos pela casa. se dividiriam em suas respectivas partes das bancadas e por ser a única mulher, gianna foi colocada no meio, sob os olhos de todos por estar na posição mais central da mesa. uma parte sua não pôde deixar de se perguntar se, talvez, seu posicionamento não tivesse sido proposital agora que ela conseguia ver algumas câmeras aqui e ali. ainda assim, não era como se tivesse tanto espaço para se ocupar em questionar qualquer coisa.

the pianist ⁕ charles leclercWhere stories live. Discover now