009.

817 72 8
                                    

por mais que o monegasco tenha tentado ficar isolado da forma que, inicialmente, havia quisto, desde a mensagem que gianna lhe mandara, tudo o que ele descobriu querer foi telefonar para a italiana. conversar, ouvir qualquer coisa que ela tivesse a dizer sobre seu futuro, falar sobre os clientes ruins que atendera naquela noite e também sobre os colegas de trabalho que são lentos demais ao executar qualquer coisa na cozinha.

charles queria poder já estar em casa para tocar piano e acabar recebendo um convite inesperado para provar doces franceses recém preparados, com um gosto tão único e impressionante que lhe faltassem palavras para descrevê-los, mesmo que ele se considerasse um cara de salgados e com uma dialética muito boa. a verdade é que ele se remexeu de um lado para o outro dentro do quarto de hotel tanto quanto pôde, até que o que lhe restou foi pegar o telefone e começar uma chamada de vídeo.

deveria ser honesto ao reconhecer que era simplesmente patético de sua parte. já passava um pouco das duas e trinta da manhã em monte carlo e a garota provavelmente estava descansando para uma segunda-feira cheia e que começaria logo cedo, ele supunha; bem, não somente por isso, de uma forma geral, era absurdo ligar para alguém a uma hora dessas e ainda mais de vídeo simplesmente porque a pessoa havia se dado ao trabalho de assistir a uma corrida de duas horas — em que leclerc havia se saído de forma horrível, diga-se de passagem — e ainda lhe mandar uma mensagem somente para verificar que tudo estava no mínimo bem enquanto se dispunha a ouvi-lo.

e ele só teve capacidade de lhe responder com um frio 'quero ficar sozinho' ou qualquer baboseira que disse a todos que o cercavam. mas rambaudi estava longe demais para ser tão gentil assim e negada com tanta indiferença pelo rapaz de olhos claros que fizera questão de desmerecer sua atenção.

se arrependimento matasse... "oh, oi charles!" do outro lado da tela, o piloto observou, antes de qualquer outra coisa, que o colo dela estava coberto pelo que parecia ser uma toalha branca com estampa de... flores cor de rosa? e seu cabelo estava tão molhado quanto poderia, como se tivesse acabado de deixar o banho. "me assustei com uma ligação assim tão tarde e pensei que pudesse ser de nonna, ela esteve meio gripada esses últimos dias e me preocupei." completou, com um sorrisinho de lado. "deve estar dormindo agora porque me garantiu que estava bem melhor depois de uma sopa de legumes, então... está tudo bem?"

"sim, claro! está, está tudo ótimo." respondeu acelerado, ainda um tanto perdido pela possibilidade dela não atendê-lo, então surpreso por ela tê-lo feito e então confuso sobre a toalha. "isso na sua toalha são flores?" franziu o cenho ao perguntar, recebendo uma risada quase ao mesmo tempo.

"sim, são flores!" gianna confirmou, baixando a câmera só um pouco para que ele pudesse ver melhor. não de um jeito que lhe deixasse muito exposta, mas a súbita reflexão foi o suficiente para deixá-la levemente vermelha nas bochechas. charles não deixou de notar, mas também não comentou nada, contando-se em sorrir pequeno. "nonna diz que as coisas precisam ser alegres e de personalidade ao nosso redor. foi comigo comprar toalhas e me mostrou algumas opções, no final eu podia escolher entre cactos e flores... preferi as pétalas." contou, dando um sorriso outra vez enquanto sentava-se na cadeira próxima à cama.

"entendi..." respondeu, mudando um pouco de posição na cama, encostando melhor suas costas na cabeceira. "e você já ia se deitar?"

"mais ou menos... decidi lavar o cabelo logo e ainda vou secá-lo." a conversa parecia meio esquisita, mas gianna não desistiu ainda. "amanhã não terei aula com hermé! essa semana nós estamos divididos individualmente em dias e só terei aulas na quarta-feira." explicou. "então só preciso estar no restaurante à noite. não me preocupei tanto com horários." deu de ombros, inconscientemente. ela realmente merecia aquela semana menos movimentada e apesar de saber que isso implicava em mais dedicação caseira ao curso, ela preferia e estava cansada o suficiente para saber que tinha permissão de usar um lava-louças ali ao invés de cuidar de tudo como fazia na boutique. "você também já ia dormir?"

"entendi..." charles de repente pensou se deveria convidá-la para sair. todos os dias da semana, já que estaria em monte carlo por tempo o suficiente. decidiu por esperar um pouco, seria esquisito. mais esquisito do que ligar para alguém às duas da manhã. "sim, na verdade. estou deitado desde pouco antes das suas mensagens."

dessa vez, gianna não soube mais o que dizer porque não parecia seu lugar de criar um novo assunto. leclerc fizera a ligação e ela queria ouvir o que ele tivesse a dizer e bem, caso não tivesse nada, ela também entenderia.

"a verdade é que não consegui dormir desde que recusei sua oferta tão delicada." o rapaz de olhos claros confessou, passando a mão meio bruscamente pelos fios de cabelo que gianna vivia querendo tocar, e acabou por desviar do olhar dela, do outro lado da tela.

"ora, charles, é sério?" a jovem sorriu, balançando a cabeça levemente numa negativa.

"claro que sim... me mandou uma mensagem depois de assistir toda a corrida e eu dispensei sua ajuda." ele estalou a língua no céu da boca, fazendo um som de reprovação enquanto balançava a cabeça da mesma forma que ela havia feito. "muito, muito mal educado da minha parte. sua nonna ficaria desapontada."

então rambaudi riu tão alto que fez com que charles risse junto. "eu tenho certeza que ele entenderia muito tranquilamente sua negativa e iria inclusive preparar alguns bolinhos para animá-lo até que quisesse conversar sobre o assunto." complementou, sorrindo reconfortantemente.

"então você me fará bolinhos?" ele perguntou, com expectativa, brincando... mas não realmente. "quando eu chegar amanhã..."

"sim, você pode me ajudar a recheá-los e aí sentaremos de frente um ao outro até que você queira falar sobre." ela respondeu, sentindo-se um bocado mais feliz de onde estava, com o coração batendo alegre dentro do peito.

"só irei querer falar sobre quando você me der alguns beijos pra curar toda a dor em mim." de repente, ele já estava animado novamente, fingindo sentir dor de verdade com uma mão no peito, para ajudar em sua atuação. de lá, gianna riu nasalado.

"acho que só alguns não vai ser um problema..."

"só alguns?"

"charles leclerc... você por acaso me ligou somente para pedir um beijo?"

"um não, podem ser dez?" a italiana riu do lado de lá, balançando a cabeça em concordância. "e vinte e cinco?" repetiu a ação uma outra vez. "e quarenta?"

"acho que você terá que me convencer, charles..." ela brincou, mostrando um biquinho de tristeza fingida. "mas talvez não seja nem tão difícil assim." piscou, mais charmosa do que o piloto da ferrari gostaria de admitir. "buona notte." [boa noite] cumprimentou, acenando uma última vez.

"buona notte, bella." ele despediu-se, ainda conseguindo ver quando as bochechas da italiana se acenderam num tom avermelhado antes dela desligar.

dessa vez, charles teve dificuldade de dormir por razões diferentes e quando finalmente adormeceu, sonhou que estava caminhando por algum lugar muito parecido com sicília ao lado de gianna.

⁕ 

nossa, mas eu sou muito babona de vocês né? precisou um comentáriozinho dizendo pra eu soltar o capítulo antes de segunda e tá aqui... sexta-feira e eu entreguei! hahahah presente de fim de semana que é, oficialmente, o meu último sem tanto trabalho. minhas meio férias do emprego acabam no domingo e eu estou feliz por ter escrito tanto ao longo do mês! espero de verdade continuar com os dois projetos atuais a todo vapor e espero que vocês tenham gostado desse capítulo que também é pequenininho, mas achei digno do nosso charles leclerc hahah (eu pelo menos super imagino ele um gentleman daqueles que abre porta e puxa cadeira). deixem comentários, compartilhem com os amigos e se tudo der certo, vejo vocês na segunda (:

the pianist ⁕ charles leclercTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang