Capítulo 1: Espelho, espelho meu...

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Aquele não era o dia mais lindo para estar em Nova Iorque, ou para se morar lá. Nuvens negras de chuva estavam cobrindo cada centímetro daquela cidade, despejando uma chuva fria do céu. Eu podia ouvir o barulho dela no guarda-chuva que segurava, além de observar a água escorrendo pelo material preto do mesmo e ensopando a grama embaixo dos meus pés.

Ao meu redor, havia um mar de guarda-chuvas erguidos e pessoas vestidas de preto, tentando se esconder da chuva e se proteger do vento frio. Olhei para o meu lado, vendo minha madrasta alisar o vestido preto, antes de erguer um lenço branco e fingir limpar as lágrimas falsas que escorriam pelas suas bochechas.

O padre na frente do caixão estava murmurando algumas coisas que eu não conseguia prestar atenção. Meu cérebro havia sido desligado da tomada, porque não absorvia mais nada do que estava acontecendo a minha volta desde ontem a noite, quando tudo aconteceu.

Jimmy, o motorista do meu pai e faz tudo da casa, me acordou no meio da noite para avisar que meu pai não estava passando bem. Eu levantei em um pulo, correndo para o quarto que ele dividia com a minha madrasta. Ela estava jogada no chão do corredor, chorado alto de uma forma que eu jurava ser super teatral. Usava uma camisola azul que mal cobria seu corpo e tinha os cabelos negros e cacheados bagunçados como se um vendaval tivesse passado por cima dela. E seu rosto estava vermelho e inchado de tanto chorar.

Eu ignorei ela quando corri para o quarto, entrando no mesmo e encontrando meu pai sobre a cama, com os olhos abertos e vidrados no teto. Não se movia ou sequer respirava. Antes mesmo de me aproximar dele, sabia que não estava só passando mal. Ele já havia partido.

Então eu volto para o dia de hoje, uma noite chuvosa em Nova Iorque, enquanto o enterro do meu pai acontecido. Liam Scott faleceu aos 52 anos, quando estava indo dormir. Causa da morte? Eu não faço ideia, porque ninguém fala absolutamente nada pra mim. Minha madrasta passou o dia fingindo chorar e dizendo para qualquer um me deixar em paz, porque eu estava inconsolável.

Na verdade, ela pouco se importa com meu estado sentimental e certamente explodiria fogos de artifício se eu morresse. Mas meu pai se casou com ela quando eu tinha 13 anos e tive que suporta-la até agora. Sinto falta da minha mãe a maior parte do tempo e sei que agora vou sentir falta do meu pai também.

Ela partiu quando eu tinha 11 anos. Estou cheia de lembranças dela, me colocando pra dormir e contando histórias de contos de fada. Mas são só lembranças. A única pessoa que me restou foi essa mulher ao meu lado. Leah Scott, com 49 anos, uma saúde de ferro e olhos azuis presunçosos.

—Vamos! —Ela se virou, guardando o lenço na bolsa e saiu desfilando com seu salto alto. Só então percebi que o caixão já não estava mais ali e tudo que restava era a terra que ficava úmida com o cair da chuva. Todos já estavam se dispersando. —Catalina, vamos!

Passei a mão pelas bochechas, limpando as lágrimas que caiam dos meus olhos. Meu coração se apertou quando olhei uma última vez para o lugar que meu pai agora estava, antes de me virar e seguir minha madrasta. Jimmy estava andando ao lado dela, segurando o guarda-chuva para que ela não se molhasse, enquanto o próprio já estava encharcado até os ossos.

Observei ele abrir a porta do carro e ela entrar, então se virou pra mim, abrindo um sorriso fraco ao entrar no banco do motorista. Dei a volta e entrei no carro, puxando o cinto e me encolhendo o suficiente para fingir que não estava ali. Na verdade, eu só esperava que ela ignorasse minha presença como sempre fez.

—Amanhã cedo quero você no escritório do seu pai. —Afirmou, me fazendo soltar um suspiro pesado. —Vamos ter uma conversa séria.

—Tudo bem. —Falei, me encolhendo mais ainda.

Quando chegamos em casa, ela saiu do carro e todo ar de tristeza que exibia no cemitério foi embora. Ela parecia até mais jovem. Fiz uma careta, desviando de Jimmy e seguindo para dentro de casa até meu quarto.

—Jimmy, ligue para o advogado do meu falecido marido. Preciso ter uma conversa com ele. —Leah mandou, estalando os dedos na direção dele como se ele fosse um cachorro. —E mande Christine servir o jantar no escritório, obrigada.

—O que? —Parei no meio da escada que dava para o segundo andar, olhando pra ela. —Meu pai mal faleceu e você já vai atrás das coisas dele?

—Ele não vai voltar, não é? Está morto e enterrado. —Ela deu de ombros e eu senti meu coração apertar e uma vontade absurda de chorar e gritar com ela por ser tão insensível. —Vá para o seu quarto, Catalina. Ainda tem trabalho e faculdade pra ir amanhã.

—Você sequer amava meu pai? —Indaguei, limpando as lágrimas que escorriam pela minha bochecha. —Como pode falar assim como se não fosse nada?

—Catalina, chega! —Ela revirou os olhos, alisando o vestido preto. —Pro seu quarto, agora!

—Eu não tenho 10 anos! —Exclamei, comprimindo meus lábios ao vê-la cerrar os olhos na minha direção.

—Não, você não tem. Tem 22 anos nessa carinha bonitinha. Já está mais do que na hora de ir morar em outro lugar, não acha? —Indagou, se aproximando de mim ao subir os degraus e me olhar com aquele azul gélido presente nas suas iris. —Agora que seu pai não está aqui, eu não vou ficar passando a mão na sua cabeça e bancando uma adolescente ingrata.

—Eu sou filha dele. Não pode me expulsar dessa casa. —Afirmei, vendo ela soltar uma risadinha.

—Será que não? Eu acho que eu posso sim. —Ela parou no mesmo degrau que eu, inclinando o rosto borrado de maquiagem na minha direção. —O que foi, Lina, a vida não é o conto de fadas que sua mãe tanto lhe contava a noite?

—Não pode me mandar embora dessa casa. —Afirmei, sentindo meu coração cair dentro do peito ao ver que ela não parecia nem um pouco triste com a partida do meu pai. Estava mais feliz do que nunca.

—Espelho, espelho meu... —Ela continuou a subir as escadas, cantarolando enquanto eu sentia meu coração martelando no peito. —Existe alguém mais rica do que eu?

Dizem que o luto era a parte mais difícil depois que se perdia alguém. Mas Leah certamente não estava de luto. Ela estava comemorando. E isso estava doendo dentro de mim, porque era do meu pai que estávamos falando.



Continua...

Como conquistar Catalina Scott / Vol. 2Where stories live. Discover now