Não peça desculpas

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— Eu sei e eu fiquei bastante culpado, acredite em mim! — Se apressou a dizer. — Mas a Sophia estava de calça legging, ela tirou a blusa... Me desculpa, vai.

— Desculpar por uma coisa que você vai fazer outras mil vezes? — Falava entredentes, tentando segurar a raiva. — Não vem agir como se tivesse sido um evento único.

— Eu não disse nada disso! — Balançou as mãos. — Ela deixou claro que se eu quisesse mais podia ligar pra ela, mas eu não liguei. Estou aqui te contando essa merda porque você é meu amigo.

— Mas que belo amigo eu sou, não é mesmo?!  — Debochou. — Eu não sei o que você espera conseguir de mim, quer o quê? Uma benção? Vai lá amigo, transa com a Sophia quantas vezes você quiser!

— Será que pode parar de ser debochado? — Micael passou as mãos no rosto. — Eu vacilei, sei disso, mas eu podia te esconder toda essa merda. Tô aqui sendo sincero.

— Muito obrigado por isso. — Forçou um sorriso. — Eu não sei como faria pra dormir se não soubesse que vocês estavam juntos.

— Não estamos juntos. — Rebateu. — Aconteceu uma vez, eu não liguei mais, ela não ligou mais, ficou por isso mesmo.

— Aham, então fala aqui pra mim o que você achou disso? Não está louco de vontade de ligar? Durante essa semana você encontrou a coitada da Sam? — Não teve nenhuma resposta. — Não me peça desculpas por algo que você não se arrepende e que vai fazer outras vezes. — Repetiu. — Não precisa agir como se tivesse odiado o que aconteceu e nem pisar em ovos pra falar comigo.

— Eu não quero que você tenha raiva de mim. — Resmungou.

— Você vai fazer de qualquer jeito, eu com raiva ou sem raiva. A única coisa que muda é se eu vou te fazer o favor de aliviar sua consciência dizendo que está tudo bem.

— E não vai? — Deixou um pouco a máscara de culpado de lado e Micael balançou a cabeça.

— Você é inacreditável. — Bufou. — Não vou empatar a vida da Sophia, se é com você que ela quer ficar... — Deu de ombros.

— Mas vai ter ódio de mim e não querer mais que eu venha aqui?! — Micael não sabia responder aquilo, era muita informação num só dia. — Eu não quero que a nossa amizade acabe por isso.

— Augusto, será que podemos conversar em outro momento? — Pediu ainda baixo. — Não sou uma boa companhia agora.

— Quando quer que eu volte? Semana que vem? — Perguntou esperançoso.

— Ou mês que vem, ou ano que vem. Tanto faz, eu não vou a lugar nenhum. Estou aqui preso enquanto outra pessoa vive a minha vida. — Não ouviu resposta do amigo, pediu ao guarda que o levasse de volta a cela, Augusto o olhou e soltou um suspiro, aquela conversa tinha sido mais fácil do que havia imaginado que seria.

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— Que merda aconteceu? — Gil, que era um dos poucos que estavam na cela, perguntou quando viu Micael se jogar na cama que era sua desde que Bruno havia sido expulso dela. — Dá pra sentir de longe a sua irritação.

— Meu amigo ficou com a minha namorada. — Comentou irritado. — Ex-namorada.

— Porra, e ex-amigo também. — Gil deu risada. — Que situação de merda.

— Nem me fala, mas o que eu posso fazer? Estou perdendo a Sophia e tenho mais catorze anos pela frente. Até eu sair daqui ela casou e tem cinco filhos com ele. — Olhava a foto que aquela altura estava toda amassada. Guardava embaixo do colchão. — Eu tenho algum direito de reclamar?

— Sabe o que você pode fazer? — Gil falou e Micael o olhou claramente muito interessado. — Eu tenho uns contatos na rua, se quiser, mandamos uma mensagem, eles vão atrás dela e raspam a cabeça.

— Você ficou maluco? — Deu um grito e logo caiu na risada com o amigo, se é que podia chamar assim. — Eu não vou fazer uma coisa dessa! A vida é dela, tem o direito de ficar com quem quiser. Eu já te disse isso antes.

— E esse talarico aí? Não quer dar uma lição nele? Uma surrinha de leve só pra ficar esperto? — Ofereceu e novamente Micael riu. — Micaela você é muito chato, me fala como é que você estuprou alguém se você anda só na linha?

— Se eu tivesse a resposta pra essa pergunta... — Bufou. — Eu não lembro de nada que aconteceu aquela noite, você sabe, te contei esse rolê.

— Contou, mas porra, é surreal o quão mal contada está essa história, eu não consigo acreditar que você fez essa merda. Devia ir atrás essa vagabunda e apertar o pescoço dela até falar. — Apertou as mãos no ar como se tivesse realmente apertando pescoço de alguém e deixou Micael horrorizado.

— Quando eu sair daqui, talvez eu tente juntar algumas pistas, mas é bem difícil, não saberia nem por onde começar. Além do mais, acho que só vou querer esquecer essa fase ruim e tentar seguir a vida.

— Com a Sophia? — Micael olhou a foto novamente e então a rasgou.

— Não, ela vai ficar com Augusto, eles combinam um pouco, quem sabe até estejam casados quando eu sair daqui. Acho que não posso reclamar, queria que ela estivesse com alguém legal e ela está. Então não cabe a mim ter raiva dos dois.

— Você é um trouxa, Micaela. — Debochou com risada. — Devia mandar dar uma surra nele e raspar a cabeça dela. Os dois iam aprender. A mina te abandonou no pior momento da sua vida, merece.

— Tecnicamente, eu terminei com ela. — Gil fez uma careta.

— Não interessa, você estava passando por um choque, ela não devia ter levado a sério. Ela é uma cuzona, ele é um talarico e você não vai mudar meu pensamento.

— Tudo bem. — Deu risada novamente. — Eu respeito seu pensamento.

— Ah, para de ser compreensivo senão eu vou te botar pra dormir do lado da privada de novo. — Micael deu risada e não respondeu mais, precisava pensar em sua vida.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now