capítulo 14: não quero te deixar

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Pego a chave em minha bolsa de lado e caminho até a porta do meu apartamento, encaixo a chave e olho para a porta do lado.

Achei que poderíamos ter tido tudo...

Giro a chave e abro a porta.

Entro e suspiro fundo, a tranco com o peso e sentimento de derrotada.

Não sabia que sentiria um vazio tão grande, vivendo como antigamente.

Acho que antes, eu sabia que tinha alguém ali, mas agora... Não tem ninguém mais além de mim, só existe eu e eu.

E um irmão estranho.

Mas tudo bem, eu poderia não ter nada, poderia está na rua agora, sem saber se iria comer, passar frio, vê meu filho passando fome, ou trabalhando para sobreviver ao invés de está estudando.

Eu tenho uma puta sorte em ter um pouco do luxo de ter uma casa ótima, ter quantas roupas eu quiser, aparelhos de última geração.

Mas não tenho amigos.

Nao sei fazer amizade.

Eu sou tão sozinha, mas ao menos, sou sozinha com dinheiro na conta.

Sorrir com o pensamento.

Acho que seria bom ter alguém para reclamar de como a vida é chata.

Será que tem como comprar amigos?

Me sinto tão vazia.

Passo pelo meu segurança, que estava quase caindo no sono quando me viu entrar, eu o disse que iria na portaria buscar uma entrega, mas na verdade, fiquei na praça vendo os carros passar por poucos minutos, e voltei.

Entro em meu quarto, pego a cadeira com rodinhas e coloco em frente ao guarda roupa, subo em cima com o equilíbrio bom que ainda tenho, e pego a caixa que estava lá em cima.

Desci com dificuldades, mas conseguir sem nenhum arranhão.

A abrir e encontrei um misto de sentimentos bons e ruins.

Bons por que tinha grandes memórias boas em formatos de papel, e ruins por que serão eternamente papéis.

Fotos de apresentações da minha mãe, dela me ensinando alguns passos.

Época em que meu pai tinha uma câmera, e se sentia o próprio fotógrafo profissional e fazia o possível e impossível para tirar fotos até de quando escovamos os dentes.

E pensar que minha mãe se foi, e a família perfeita também.

Isso é tão deprimente.

Como se acostuma a isso?

Achei que meus pais eram a própria definição de casal perfeito, éramos família perfeita.

Pego a foto da minha primeira apresentação.

Por que eu parei de me apresentar mesmo?

Acho que senti falta... De ter os olhos da mamãe me olhando com admiração, de ter alguém ali me incentivando, e contando histórias de como ela chegou tão longe.

Nunca deixei de dançar, mas nunca passei horas da minha vida dedicando aos passos.

Em breve estarei formada, e ainda não sei para onde ir.

Tenho um infinito de possibilidades, mas nenhuma me anima, queria poder usar os meus pés, usar meu corpo, e expressar cada sentimento passado pela musica, através de passos ensaiados com tanto esforço e dedicação.

Seria tarde?

Eu ainda estou a caminho dos meus 18, eu tenho uma vida inteira pela frente, um futuro incerto, um sonho idiota.

Querido vizinho Where stories live. Discover now