Verônica foi arrancada de seu sono profundo com o seu celular tocando na sua mesa de cabeceira. Ela pegou o aparelho: eram cinco da manhã. O sol ainda estava nascendo.
No identificador de chamada, o nome de quem estava ligando: Anita Berlinger.
Não era possível uma coisa dessas.
— São cinco da manhã. – Foi tudo o que Verônica disse, a voz pastosa e arrastada de sono.
— Olha só, você sabe ler números. – Disse a voz da delegada do outro lado – Tô te esperando aqui na delegacia. Você tem quarenta minutos, no máximo.
Verônica se sentou na cama, esfregando os olhos. Só poderia estar alucinando.
— Você tá louca? – Perguntou a escrivã – Me mandar pra delegacia às cinco da manhã?
— É assim que funciona comigo, escrivã. – Verônica conseguia ouvir o sorriso na voz da mulher – Não queria entrar no caso? Pois então. É assim que os adultos trabalham.
Verônica não respondeu. Ainda estava absolutamente perplexa que Anita tivesse a capacidade de lhe tirar da cama com o sol nascendo para lhe arrastar para a delegacia.
— Você tem quarenta minutos.
E desligou.
Anita sorriu consigo mesma, guardando o celular no bolso. Realmente, não tinha necessidade nenhuma de arrastar Verônica para a delegacia tão cedo.
Mas, Deus, como era bom infernizar a vida daquela mulher.
Verônica levantou da cama, sentindo o corpo pesado. Tomou um banho frio para acordar, comeu café da manhã e saiu, xingando todas as gerações possíveis de Anita mentalmente.
Chegando na delegacia, aumentou ainda mais os xingamentos: a delegada estava sentada em sua sala, analisando vários documentos, sem um fio de cabelo fora do lugar. Verônica a amaldiçoou por estar tão perfeita mesmo tão cedo.
— Cheguei. – Anunciou a escrivã, entrando na sala de Anita sem nenhuma cerimônia. A delegada sequer ergueu o olhar.
— Bom dia pra você também.
— Vai, desembucha, por que tão cedo?
Verônica sabia que da última vez em que fora grossa com Anita, a delegada prometera consequências sérias. Mas não conseguia evitar: iam dar seis da manhã e ela estava sozinha no trabalho com a mulher que mais odiava no mundo. Nem a mais santa das pessoas controlaria a irritação em uma situação dessas.
— É melhor de investigar e pensar. – Respondeu Anita, ainda sem tirar os olhos dos papéis em sua mesa – É antes que todos possam ter tempo de se preparar e esconder alguma coisa. Assim, conseguimos uma vantagem.
E, claro, o motivo não dito: fazer da vida de Verônica um inferno.
A escrivã não entendeu exatamente o que a delegada queria dizer, boa parte por causa do seu sono. Ela apenas balançou a cabeça em negação, tentando acordar, e disse:
— Tá, e o que é pra eu fazer então?
— Pegar um café pra mim. – Respondeu Anita, agora sim olhando para Verônica, abrindo um sorriso cínico – Pode pegar pra você também, parece acabada.
Verônica precisou contar até trinta para não perder a cabeça e atacar Anita ali mesmo. Respirou fundo, foi até a máquina de café e preparou duas canecas, uma para si e uma para a delegada. Quando pegou o recipiente nas mãos, Anita sequer olhou para Verônica, muito menos agradeceu.
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Fogo
RomanceE se a organização criminosa de Matias, Brandão e Dóum não existisse? E se a vida de Verônica e Anita fosse apenas trabalharem juntas na delegacia, se odiando eternamente, mas tendo que conviver juntas? E, ainda, se elas tivessem que trabalhar em um...