Indigo pt.1

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— Oi! Achei que fosse demorar mais.

Jimin levantou do sofá quando viu o moreno passar pela porta e foi até o armário da sala pegar o kit de primeiros socorros para trocar o curativo do mesmo. Ele estava de costas então nem percebeu a carranca do mais novo e as sacolas em sua mão.

— Como foi lá? — Ele se virou para Jungkook e foi aí que uma expressão confusa e preocupada tomou seu rosto. — O que aconteceu? — Jimin perguntou encarando a figura irritada e visivelmente frustrada do garoto. Ele colocou as sacolas na mesa e tirou o casaco.

Ele estava ofegante e inquieto. transparecia raiva e andava de um lado pro outro, guardando tudo que havia tirado do lugar antes de ir pra lá: o casaco que levou para que não o reconhecessem, a máscara, as marmitas ainda cheias e os tênis de Jimin, que nem gostava de usar.

Jimin permaneceu quieto, tentando entender o que tinha acontecido. Quando viu que as marmitas foram guardadas na geladeira, ele reduziu as possibilidades para apenas duas:

1) a visita foi ruim e eles não quiseram comer a comida que Jungkook fez;

ou...

— Eu não entrei.

2) Ele não conseguiu ver seus irmãos.

Ele parou ao lado do balcão e passou as mãos pelo cabelo com raiva.

— Os caras estavam na porra da porta e quase me viram.

Os olhos de Jimin cresceram e seu coração apertou imediatamente.

— Que caras, Jungkook? — Ele perguntou se aproximando rapidamente.

— Puckerman, Wang, Bogum...os que querem me passar.

— Como assim? Te passar?"

— Me matar.

O coração de Jimin diminuiu mais ainda. Ele sabia que tinham pessoas atrás de Jungkook, mas ele parecia ter se esquecido da seriedade da situação.

— Eles viram você? Era por sua causa que eles estavam lá? — Jimin se sentiu minúsculo diante daquilo tudo e cruzou os braços para se esquentar do frio terrível que atingiu sua espinha junto.

—Não sei. Não sei de porra nenhuma. — O moreno murmurou, frustrado consigo mesmo.

A cabeça de Jungkook estava uma bagunça. Ele estava com raiva, medo, dor...estava cansado disso tudo. Foi um daqueles momentos em que ele desejava não ser ele. Ou não existir. Queria ser uma pessoa normal, com uma família normal. Queria não ter ódio do mundo. Queria não precisar viver fugindo.

Seus sentimentos estavam tão pesados que Jungkook apoiou as mãos no balcão e abaixou a cabeça, deixando toda a fumaça do ódio e da frustração sair do seu corpo.

Quando completou dezoito anos de idade, Jungkook estava decidido a visitar seus irmãos na cadeia, mas Hoseok não deixou. Disse que a idade dele não dizia nada sobre estar ou não preparado para lidar com as consequências que viriam com essa visita.

Por um tempo ele até entendeu, mas agora estava irritado com a possibilidade de que aquilo fosse algum tipo de aviso divino sobre essas tais consequências.

Consequências ruins? Ah, não fode. Jungkook já tinha lidado com a fome, o abandono, a perda, a solidão, a saudade, o medo, o frio, o desprezo. E o que ele tinha feito pra ter que receber tudo isso em troca?

Mas aí, a raiva se transformou em desespero e tristeza. E cansaço também.

Numa oração silenciosa, ele se pôs em seu lugar, sua mísera condição humana, pedindo a Deus que, se fosse possível, não por seus méritos, mas sim pela misericórdia divina, que aliviasse aquela dor dilacerante, que cortava seu coração como uma lâmina afiada.

FLUXO PERFEITO | jjk + pjmWhere stories live. Discover now