Prólogo - Forever Rain

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3 de março de 2021. 8 horas da manhã.

Era o ônibus mais vazio que Jungkook tinha conseguido pegar naquele dia.

Seus machucados não ardiam tanto por não estarem expostos ao sol, mas seus lábios estavam cada vez mais roxos e rachados. Por causa do frio, da ansiedade e do desespero que se faziam mais presentes a cada segundo do dia, as mãos dele tremiam como nunca e Jungkook já não sabia se a dor no estômago era de fome ou de ansiedade.

O motorista concordou em abrir a porta do meio, ainda que com má vontade. Assim como as outras pessoas que encontrava nos transportes e na rua, ele fez aquilo apenas para evitar o peso na consciência, mas para Jungkook ainda era muito.

Ele encarou aqueles 15 passageiros, respirou fundo e repetiu o mesmo discurso que gritava todos os dias dentro dos transportes coletivos para pouco mais de 30 pessoas com feições ranzinzas, mas que machucava como se estivesse falando tudo pela primeira vez. Tinha que reviver tudo outra vez, a cada ônibus que parava. Jungkook sentia sua garganta seca por causa da falta de água e por ter que fazer com que suas palavras soassem mais alto do que o barulho do motor do ônibus enquanto falava de seus irmãos na cadeia e a perda de seus pais.

Algumas pessoas o criticavam por contar sua história durante seus pedidos de ajuda, alegando que usar seus relatos para comover as pessoas é uma atitude desonesta, outras perguntavam o motivo pelo qual ele estava pedindo dinheiro, mesmo que já tivesse explicado, afim de fazê-lo admitir que usaria a quantia arrecadada para sustentar um suposto vício em drogas. No final, Jungkook não se importava com os motivos pelos quais as pessoas o ajudavam. Jungkook só não queria morrer.

Jungkook só precisava sobreviver.

Alguns passageiros, ainda que não pudessem ajudar financeiramente, tiravam seus fones de ouvido para escutá-lo e faziam questão de cumprimentá-lo de volta. Esses, apesar de não depositarem seu dinheiro no copo plástico que Jungkook usava para recolher as doações, contribuíam para que ele se sentisse menos invisível.

Por mais nova que fosse a rotina de pedinte, ela não era muito diferente da vida que ele tinha antes, o que o deu experiência o suficiente para perceber que a sociedade não sabe — e nem quer aprender — a lidar com pessoas que precisam de ajuda. Não era obrigação de ninguém ali oferecer uma solução pra ele de mão beijada, mas por maior que fosse a estranheza que um homem sujo, quase desnutrido e com nada além de uma bermuda, chinelos sujos e uma camisa velha pudesse trazer, Jungkook era só mais alguém que precisava de um pouco de atenção genuína e que estava desesperado pelas circunstâncias em que passou a viver desde que perdeu sua família.

Ele não tinha o que oferecer. As balas que tinha conseguido comprar pra vender já tinham acabado. Naquele dia ele só tinha um copo de plástico que conseguiu no posto de gasolina para pedir dinheiro. Qualquer contribuição ajudava. A maioria das pessoas o ignorou. 3 levantaram a mão para sinalizar que queriam ajudá-lo. Algumas moedas, 2 cédulas...até que o último passageiro o chamou. Um garoto de cabelos azuis, aparentemente da mesma idade que Jungkook, indo pra faculdade, talvez? Limpo, sorridente...sua mão cheirava a café. O moreno notou isso quando o outro colocou o dinheiro dentro do copo e disse: "Espero que ajude. Deus te abençoe, viu?".

Depois de alguns minutos insistindo e ouvindo ameaças de um senhor branco que tinha uma bolsa de couro, Jungkook sentiu seu sangue ferver tanto quanto as lágrimas em seus olhos. Era assim todos os dias. Um misto de raiva, dor, fome, desespero...Tudo isso fazia sua cabeça latejar mais ainda do que a ponta de seus dedos cansados. Ele percebeu o incômodo do garoto de cabelos azuis diante das ameaças do homem grisalho e podia jurar que o tinha visto lacrimejar. Essa foi a última vez em que sentiu-se acolhido como as outras pessoas ali se sentiriam quando encontrassem seus filhos, amigos, pais ou cônjuges quando chegassem em casa.

Um jovem de 20 anos deveria poder terminar os estudos, encontrar uma namorada (ou um namorado), assistir aos jogos do seu time de coração e dançar com seus amigos nas suas festas de aniversário cheias de comida. Um jovem de 20 anos deveria ter a oportunidade de aprender a ler e escrever. Um jovem de 20 anos deveria poder receber sorrisos amarelos de bom dia quando passasse na rua assim como o engravatado de 40 anos recebia. Um jovem de 20 anos deveria conseguir pagar por mais do que uma refeição por dia. Um jovem de 20 anos deveria receber abraços dos pais e beijos de boa noite. Um jovem de 20 anos deveria ter alguém para chorar com ele. Ou por ele. Mas Jungkook, apenas um jovem de 20 anos, não tinha nada disso.

Ele desceu do ônibus depois de olhar mais uma vez pro garoto de cabelos azuis e sentiu a chuva molhar seu corpo. Apesar de se incomodar com o frio, Jungkook gostaria que continuasse chovendo o dia inteiro, para que ele soubesse que alguém chorava com ele. Enquanto o céu derramava tantas lágrimas quanto os seus próprios olhos, ele subiu o morro assim como nos outros dias, mas ao invés de ir pra casa, foi até a boca de fumo. Jungkook finalmente se rendeu ao que parecia estar reservado a ele pelo destino.


 Ele largou o seu nada contando com a falsa esperança de ter tudo.










                                                                            * 


olar...

gente, e não é que começou mesmo, doideira, né? papo reto

não se esqueçam do votinho de pilantra e me contem o que vocês acharam, beleuza? Ah! quase esqueci, manas...a fic tem tag! uma que vocês já até conhecem, rsrs. pra quem quiser comentar no twitter, a tag é #bluecigarette.

é isso. inté. 


FLUXO PERFEITO | jjk + pjmWhere stories live. Discover now