— Tradução: eu tô ferrado. — Sentou de novo, ainda sem acreditar. — Mas se eu realmente fiz tudo o que falam que fiz, mereço ser condenado.

— Preciso que se lembre, Micael. — O advogado insistiu. — Eu não tenho base pra defender você, eu não sei o que aconteceu naquela noite e até então tudo está bem coerente.

— Eu não consigo, fiquei aqui a noite toda, o dia inteiro pensando. É um grande apagão. — Estava a ponto de chorar, mas não faria aquilo na frente do advogado.

— Então, sinceramente, eu acho que devemos alegar culpa. — Ergueu a cabeça incrédulo. — Eu não tenho como criar uma defesa consistente se você nem ao menos sabe o que aconteceu!

— Será que eu posso assistir os vídeos? — O advogado assentiu. — Depois que eu assumir que sou culpado, o que acontece? Eu pego quinze anos de prisão e fim? Fico marcado pra sempre como um estuprador?

— Se mantivemos a alegação de inocência e perdemos, o que sinceramente acho que vai acontecer, você pode pegar pena máxima em tudo. — O advogado deu de ombros. — Alega culpa, eu tento um bom acordo com o promotor por isso. Cumpre uma parte da pena e eu te tiro quando um terço passar.

— Fácil pra você falar, não consigo imaginar o inferno que vai ser passar por isso. Todo mundo sabe que estupradores sofrem na prisão. — Falou baixinho. — Eu realmente quero ver os vídeos.

— Vou solicitar ao delegado. — Caminhou pra fora da cela. — E conversar com o promotor sobre o seu caso, ver o que consigo de acordo, e então eu te passo. — Micael assentiu e observou um guarda aparecer pra trancar a cela.

Ficou pensando em tudo o que ouviu do advogado e em como tivera tido coragem de fazer aquilo com uma mulher, drogado ou não, não conseguia entender.

.
.
.

— Alguma novidade do Micael? — Sophia perguntou ao amigo assim que abriu a porta de seu apartamento. — Quando você ligou dizendo ser urgente minha mente já entrou em desespero.

— Não diz nem "oi". — Brincou e entrou no pequeno apartamento que Sophia morava sozinha. — É um assunto bem sério, por isso que eu vim aqui. O advogado que eu contratei pro Micael me ligou.

— Será que dá pra você parar com a porcaria do suspense e contar de uma vez? — Falou completamente angustiada e viu o amigo soltar um suspiro.

— Micael se declarou culpado das acusações. — Já era noite, aquela altura, Micael já tinha visto os vídeos e aceitado sua culpa. — Ele vai cumprir pena.

— O QUÊ?! — Ela deu um grito tão alto que Augusto levou as mãos aos ouvidos no susto. — ELE NÃO PODE DECLARAR CULPA SE NÃO FEZ NADA! ISSO NAO É JUSTO.

— Ele está convencido de que fez. — Disse com pesar.

— Então ele está louco, desde quando Micael levantaria a mão pra alguém? Ele é um banana, Guto! — Estava indignada. — E bom de lábia, bonito... Sinceramente, ele não é o tipo de homem que precisa forçar mulher nenhuma a fazer algo.

— Eu sei disso, mas tem um vídeo. — Sophia parou de falar um instante. — Um não, alguns. Tem da saída da casa noturna, os dois parecem bem animados. — A careta de Sophia foi bem clara. — Quando o carro para na frente do prédio dele, Micael sai do carro arrastando a mulher pelos cabelos!

— Não é ele! — Defendeu mais uma vez e Augusto puxou o celular, tinha conseguido os vídeos com o advogado, deu play e Sophia começou a assistir, em silêncio, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Não entra na minha cabeça o motivo. — Uma careta ainda maior se formou ao ver o namorado segurando a mulher pelo pescoço no elevador e lhe dando um tapa na cara.

— Isso tudo é muito surreal. — Sentou-se ao lado de Sophia e segurou uma de suas mãos. — Nem ele mesmo sabe o que aconteceu de fato, a única com memórias do dia é a mulher.

— E a gente tem que acreditar no que ela diz? — Puxou a mão, entregou o celular e se afastou. — Quem é que me garante que não foi essa maluca que pediu pra ele fazer essas coisas?!

— Trouxa foi ele que fez então. — Rebateu e ouviu um suspiro. — Olha, me desculpa, você sabe que eu amo o Micael, ele é meu melhor amigo e é por ele que estou aqui tentando ser um bom amigo pra você também, mas a gente não pode negar que algo aconteceu entre esses dois. — Ela andava de um lado pro outro, claramente nervosa. — Sinceramente, me surpreende muito o fato de você parecer não ligar pra isso.

— Lógico que ligo! — Parou de andar e encarou Augusto. — Mas eu amo o Micael e tenho certeza de que ele está precisando de mim.

— Não tenho dúvida. — Ficou de pé também. — Meu advogado disse que ele não quer mais receber visitas. — Soltou um longo suspiro. — Perguntei quando podia vê-lo.

— Ele deve estar se sentindo tão sozinho, tão culpado... — Fungou. — E agora, quando é a audiência? Eu quero ir.

— Vou perguntar ao advogado, quero ir também. Ele vai precisar de apoio. — Suspirou, triste. — Arthur disse que também quer ir. — Sophia limpou as lágrimas com as mãos e assentiu. — É bom pra ele saber que o amamos e estaremos aqui quando ele sair.

— Não estarei aqui quando ele sair. — Disse com pesar e viu Augusto não entender nada. — Ele terminou comigo ontem, disse que era pra eu seguir a minha vida se ele fosse condenado, mas eu não sabia que ele não ia nem ao menos tentar se defender.

— Ah, que isso! — Reclamou indignado. — Você não vai dar ouvidos a essa baboseira, vai? Micael ama você e todo mundo sabe! Ele está desnorteado, não pode realmente acreditar que ele prefere que você siga sua vida.

— Eu estou tão desnorteada quanto ele. — Deu de ombros. — Tenho muito o que pensar.

— Sei disso, vou indo! — Ela assistiu. — Vou encontrar a Samantha que já tá me ligando há tempos. Quando eu souber a data da audiência te mando uma mensagem, tá bem?

— Obrigada, Augusto! — Deu um abraço e um beijo em sua bochecha. — Você tem sido um anjo em nossas vidas.

— Amigo é pra isso. — Sorriu e então saiu dali, indo pra casa.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now