É assim que termina?

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— Não preciso de babá. — Ela virou as costas e ia saindo, mas o homem segurou em seu braço. — Me larga.

— É sério, deixa eu te dar uma carona. — Pediu novamente. — Se você vai de qualquer jeito deixa eu te levar. — Sophia assentiu e viu o amigo pegar a chave do carro, não sabia se o delegado liberaria a visita, mas precisava ao menos tentar.

O trojeto até a delegacia não era longo. Augusto puxou diferentes assuntos na tentativa de distrair Sophia do que estava acontecendo, até conseguiu, mas não por muito tempo.

A loira entrou na delegacia como um furacão. Augusto não tinha nem parado o carro na vaga quando a viu sair  e entrar pelas portas de vidro.

— Gostaria de falar com o delegado. — Pediu na recepção. — Urgente!

— É alguma queixa? — A recepcionista abriu a ficha para fazer as perguntas padrão a Sophia.

— Não! — Disse ainda urgente. — Quero visitar Micael Borges. — A recepcionista fez uma careta. — Não me diga que não posso, meu namorado foi acusado de estupro! Eu preciso entender!

— Eu até compreendo, mas eu não posso liberar. — Balançou a cabeça. — Eu sinto muito.

— Cadê o delegado?! — Insistiu, antes da mulher dar uma desculpa sem pé nem cabeça, o delegado apareceu ali.

— Henrique Barcellos. — Estendeu a mão para Sophia. — O delegado. — Sorriu com simpatia, não podia ver uma mulher bonita.

— Boa tarde! — Apertou a mão. — Preciso falar com Micael Borges.

— O estuprador? — Arregalou os olhos. — É sério?

— Ele não é um estuprador! — Disse baixo. — Eu preciso conversar com ele e entender. É meu namorado. — O delegado deu uma risada irônica.

— Se ele realmente tem uma namorada como você, dificulta ainda mais pra mim entender o motivo de ter forçado outra mulher. — Balançou a cabeça e começou a andar. — Venha, vou te dar vinte minutos. — Sophia sorriu e acompanhou o delegado.

Já na carceragem ela notou que Micael era o único ali. Ele estava deitado encarando o teto, enrolado no lençol de sua cama, que ainda estava com ele.

— Micael! — Ele ouviu a voz da namorada e levantou num pulo, na dúvida se era um sonho ou se ela realmente estava ali. — Oi! — Fungou ao ver o namorado atrás das grades.

— Vou deixar vocês a sós, mas não vou abrir a cela. — Avisou e os dois assentiram. Se retirou olhado pra trás, verificado os dois.

— Eu pedi ao Augusto que não te deixasse vir até aqui. — Falou assim que teve certeza que não tinha ninguém pra ouvir. — Isso aqui não é ambiente pra você, meu amor.

— Meu amor? — Remendou. — Que diabos aconteceu nessa madrugada? Porque eu não acredito que você estuprou alguém, mas provavelmente deve ter passado a noite com ela. Não é mesmo?

— Ei! — Disse com um tom de indignação, mas sabia que ela ficaria com ódio por conta da possível traição. — Eu não me lembro de nada que aconteceu!

— Como assim?! Você sai pra uma festa, bebe pra cacete, me trai e a sua defesa vai ser não lembrar? — Secou uma das lágrimas insistentes. — Como você teve coragem?

— Eu não tenho coragem de trair você, eu não acredito que fiz isso! — Insistiu naquela defesa. — Aquele diabo de mulher sentou do meu lado, eu não estava me sentindo bem, ela disse ser enfermeira e me ofereceu água. Sophia, eu disse a ela que tinha namorada, ela viu a minha aliança, conversamos por algum tempo e então eu só me lembro de acordar, pelado, com a polícia derrubando a porta do meu apartamento e ela dizendo que eu a estuprei.

— Se você realmente transou com ela, você me traiu, lembrando, ou não.

— Ela me drogou! — Continuou a se defender. — Eu gostaria muito de saber qual foi o interesse dela nisso, mas ela me drogou! Alguém quis acabar comigo e conseguiu! Eu vou perder tudo de mais importante na minha vida.

— Você é inocente, vai sair dessa.

— Tem inocentes indo pra cadeia e sendo condenados todos os dias. — Disse com pesar. — Se eu não conseguir me livrar dessa, eu preciso que me faça um favor.

— Se for abandonar você aqui, desiste. — Ela chegou perto e segurou nas barras grossas. — Mesmo você possivelmente tendo me traído, eu não vou te abandonar no momento que você mais precisa de mim.

— Sophia, o advogado fez as contas por baixo, se condenado, devo pegar uns quatorze anos. Você não vai ficar atrás de mim todo esse tempo. — Chegou perto da grade também. — Eu não quero nem que você venha me visitar!

— Não pode estar falando sério! — Resmungou. — Não pode terminar comigo assim, eu devia terminar com você, eu estou irritada com a sua traição e mesmo assim estou aqui!

— Eu amo você. — Passou uma mão em seu rosto. — Mas isso aqui é um paraíso, quando eu for pro presídio, vai ser terrível. Me desculpa, mas eu não posso deixar que a sua vida acabe junto com a minha.

— Você é um idiota. — Muito mais lágrimas escorreram de seu rosto. — Do jeito que você fala, parece ter certeza que vai ficar aqui.

— É a minha vez de dizer: estou com um mau pressentimento. — Deu uma risada fraca e Sophia fungou. — Me desculpe por não ter ouvido você.

— Sim, você devia ter ouvido, se tivesse topado meu programa com filme, pipoca e sexo não estaríamos passando por isso. — Ela então finalmente viu uma lágrima escorrer de seu rosto. — Eu amo você também.

— Promete pra mim que se eu for condenado você vai seguir a vida e ser feliz! — Insistiu e ela balançou a cabeça, positivamente. — Até porque, quando eu sair daqui, serei um zé ninguém.

— Mas eu sempre vou te amar. — Ele deu um beijinho por entre as grades. — Quero deixar claro que, se você não for condenado, esse namoro não está acabado e vamos conversar muito sobre essa traição.

— Nunca trairia você na minha vida, não se eu tiver lúcido. Eu não sei que droga essa criatura me deu pra fazer isso comigo. — Suspirou. — Vou sentir sua falta.

Uma oficial apareceu ali e pra avisar que o tempo estava acabado. Sophia recebeu outro selinho e então caminhou pra fora, secando as lágrimas.

Aquela NoiteWhere stories live. Discover now