[ X V I I ]

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Para Kieran, sentir as intenções assassinas de Avestan era fácil. Provavelmente por conta daquela estranha magia que emanava do regente e despertava seus maiores instintos de sobrevivência. Sentir as intenções assassinas do tal conselheiro, por outro lado, era algo com que ele ainda precisava se acostumar, e ele conseguia passar muito mais perto de lhe atingir do que Avestan já tinha conseguido com sua magia. Claro, havia alguns pontos que dificultavam a antecipação imediata de Kieran: Radulf era um militar muito bem treinado, ele conseguia se mover de forma hábil e sorrateira, logo, era difícil se livrar dos ataques dele; ele também era tão mortal quanto qualquer outra pessoa de Arcallis, portanto, não havia aquela magia assassina que despertava todos os instintos de Kieran; por fim, não tinha como prestar atenção em qualquer coisa nos arredores daquela cabana quando havia bem a sua frente um homem esculpido pelos deuses sem camisa dedicado ao trabalho braçal.

É, a culpa era de Wafula. Mas ele também tinha lhe alertado da presença de Radulf, então, nos últimos instantes, ele conseguiu fugir da primeira investida, que foi logo seguida por avanços de passos firmes e ágeis, golpes de uma adaga muito bem afiada que, diferente de Avestan e sua magia, miravam em pontos vitais bem específicos para tentar lhe causar muito estrago em um só golpe. Agora, com toda a fúria bem direcionada, Kieran podia sentir muito bem a aura assassina do conselheiro real. Aquele sim era um homem que queria lhe matar, sem um traço de piedade sequer.

― Ou! Calma aí, pra quê tudo isso?! ― Kieran continuava se esquivando dos golpes como conseguia, mas estava começando a notar que a lâmina passava cada vez mais próxima do tecido das suas roupas. Para além do conselheiro que lhe atacava, ele teve um vislumbre de algo que poderia talvez lhe dar uma brecha para fuga. ― Tem uma criança aqui, sabia!

A noção da presença de Dargan não diminuiu em nada as investidas do conselheiro. Enquanto ele continuava a avançar, Wafula seguia o seu trabalho cortando madeira muito tranquilo, como se nada de diferente estivesse acontecendo ao seu redor. Dargan, por outro lado, abandonou a brincadeira para observar muito curioso a perseguição entre Radulf e Kieran.

― Dargan, não vá pra perto deles. ― Wafula instruiu, mas foi tão eficaz quanto mandar o garoto correr com a machadinha para perseguir Kieran também, como se ele fosse entrar na brincadeira também.

― Ahhh! Eu vai brincar tabém! ― Dargan avançou contra Kieran que se desviava dos golpes, e talvez aquela tivesse sido a sua salvação. Era melhor se deixar atingir pela machadinha sem fio de Dargan do que pela adaga afiada e precisa de Radulf.

― Radulf, Cuidado pra não atropelar o Dargan! ― Wafula avisou ainda de onde estava, as duas mãos muito bem apoiadas sobre o cabo do machado, enquanto continuava observando a cena. ― Dargan, pare de correr atrás dele!

― Num!! Eu vai pegá primeiro!

O ímpeto do garoto e a habilidade dele eram louváveis, porque quando Kieran fugiu para trás da pilha de toras ainda por cortar, Dargan saltou sobre a madeira com muita agilidade, os pezinhos pulando de uma tora para outra, sem nem se abalar pelo fato de que as que ficavam para trás começaram a rolar e desmoronar. Agora, Kieran podia não ser um belo exemplo de cuidado com crianças, mas até ele parou de correr para se voltar na direção do garoto, prevendo uma queda certeira que o menino teria no topo das toras de madeira.

― Cuidado aí, garoto!

O último passo de Dargan foi na última tora de madeira que deslizou facilmente sem os apoios laterais, a queda seria dolorosa, mas nada do que uma criança não se recuperasse muito fácil. Kieran não o alcançaria de onde estava, e até encolheu os ombros quando antecipou o estrago. O que ele não esperava, claro, era que a agilidade de Radulf fosse ainda mais precisa do que quando estava tentando lhe matar. O conselheiro largou a adaga de lado e se jogou na direção de Dargan como se o garoto estivesse caindo de um próprio penhasco, usando o corpo para proteger o garoto de um machucado sério. Kieran até se surpreendeu, não com a habilidade que já esperava do militar, mas com o fato de que ele podia mesmo deixar um alvo de lado para ajudar uma criança que nem estava em risco de morte.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte I] [Concluída]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang