[ V I ]

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Improvável. Aquela era a única palavra capaz de explicar a situação em que Kieran tinha se metido, dentro do castelo de Arcallis, na companhia do próprio Anjo da Morte, depois de ter tentado piamente executar o seu último roubo e ter uma morte gloriosa. Ao invés de roubar e ser assassinado logo em seguida, estava ele ali, sentado num banco baixo na cabeceira da banheira branca enquanto os dedos encontravam caminho entre as tranças intrincadas do rei, cada porção de fios se desfazendo à medida que a água levava o sangue e facilitava o deslizar dos dedos no longo cabelo.

Era notável como Avestan estava apreciando o toque nos cabelos, porque depois que sentiu os fios se desenrolando, ele até se deu ao direito de relaxar a ponto de fechar os olhos e afundar mais o corpo na banheira, a cabeça apoiada na borda, enquanto ele parecia tão absolutamente vulnerável sob as mãos de Kieran que ninguém diria que era o temido regente de Arcallis, o Anjo da Morte, de quem ninguém se aproximava com o risco de ter um fim bem doloroso.

Estou começando a me perguntar se vossa alteza gosta que mexam nos seus cabelos ou se apenas gosta das pessoas ao seu serviço. ― Kieran comentou, depois de desfazer as tranças com mais facilidade do que as servas tinham executado algumas manhãs atrás. Ele passou ambas as mãos pelas laterais do rosto do rei, trazendo os longos fios molhados para trás, deixando que escorregassem para fora da banheira com a água já vermelha que se renovava aos poucos com a torneira aberta.

― Você está ao meu serviço, então? ― Avestan o encarou de baixo e Kieran sorriu em resposta.

― Acho que vai descobrir logo que não sou uma pessoa muito obediente, majestade.

Kieran aproveitou a posição em que estava, uma das mãos indo até o queixo do rei para puxá-lo um pouco para trás, olhando-o de cabeça para baixo pouco antes de unir os lábios aos dele de novo. O gesto foi mais comedido, mas logo ele aprofundou o beijo com a língua, mais paciente, sentindo o retorno do beijo também de Avestan, que pareceu se deixar levar dessa vez muito mais facilmente. Kieran deslizou a ponta dos dedos pelo queixo do rei, tocando a curva da mandíbula e descendo pelo pescoço, pelo pomo de adão, até alcançar a curva do ombro e a pele molhada parcialmente coberta pela água da banheira.

O rei finalmente se moveu, levando uma das mãos até a de Kieran, interrompendo qualquer pretensão dele de continuar o trajeto. Cessou o beijo também, e se afastou do ladrão para se sentar na banheira, unindo as duas mãos debaixo da torneira para levar a água limpa até o rosto e então, passar os dedos pelos cabelos molhados, colocando-os para trás. Kieran apenas observou as costas do regente, acompanhando os gestos dele com o olhar, ao apoiar os dois braços na borda da banheira.

― O que foi? Decidiu mudar de ideia justo agora sobre me deixar roubar qualquer coisa? E eu até desfiz as tranças. ― Kieran apoiou o cotovelo na borda da banheira e o queixo na mão. O rei se colocou de pé, ainda de costas, e saiu da banheira, os longos cabelos molhados grudados na pele também molhada, o que prendeu bem a atenção de Kieran para cada movimento de cada músculo dele.

Só depois de sair da banheira, com o corpo todo pingando, foi que Avestan voltou o olhar para Kieran, observando-o de cima com uma postura autoritária que dispensava até mesmo as peças de roupa finas e elegantes. Mesmo nu, dos pés à cabeça, toda a expressão corporal de Avestan denunciava que ele tinha nascido para dar ordens. Ele andou na direção de Kieran, ainda sentado no banco baixo perto da banheira, e parou por um instante.

― Venha.

Sem esperar por uma resposta positiva de Kieran, Avestan andou na direção da enorme cama que ficava do outro lado do quarto e se sentou ali, as gotas de água ainda escorrendo pelo seu corpo e pelo cabelo até o tecido que cobria o colchão. Em outra situação, Kieran teria rido daquele tipo de atitude de um homem que, pela primeira vez, dormiria com outro homem. Mas havia um ar de autoridade que circulava Avestan que tornou a cena toda interessante. Era como se ele, completamente nu, tivesse se sentado em um trono ao invés de uma cama, esperando apenas ser servido. E como aquela visão lhe dava vontade de fazer mais do que servir.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte I] [Concluída]Where stories live. Discover now