[ X V I ]

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Wafula riu da sua escolha de palavras. Bom, como não rir, considerando que era bem o que estava parecendo para as pessoas mais íntimas do rei: que ele só tinha invadido o castelo para transar com o regente. O que, por si só, era um desfecho estranho que Kieran não esperaria de nenhuma das suas empreitadas anteriores: dormir com parceiros de crime, sim; dormir com os alvos de seus roubos, não.

― Eu não invadi o castelo porque queria transar com o rei, foi tudo um grande acidente, se quer saber. ― "Um ótimo acidente, por sinal", Kieran fez questão de completar mentalmente, acompanhando o general até o interior da casa para largar os sacos de comida no pequeno cômodo que era a cozinha.

― "Acidente"? Do tipo você tropeçar e cair nu em cima de uma ereção? ― questionou Wafula, deixando uma risada generosa tomar conta do cômodo bem modesto, comparado ao castelo e ao palacete, mais ainda comparado ao cargo de alto status dele. Será que soldados não recebiam tanto dinheiro assim em Arcallis?

― Não esse tipo de acidente. ― Kieran rodou os olhos, tomando a liberdade de dar uma olhada na cozinha simples, que bem lembrava a casa da senhora Amit e o marido dela. Tinha alguns armários de madeira, uma lareira, uma pequena mesa encostada à parede e uma janela e uma porta que davam no lado de fora da casa.

― Eu não lhe culpo, o Idris é muito bonito, para um cara que gosta de outros caras, ele deve ser irresistível. ― o general começou a arrumar as coisas dentro da cozinha, pouco se importando em manter a atenção em Kieran, a despeito dele ser um ladrão conhecido que já tinha roubado a coroa do rei.

― Verdade. ― Kieran se sentou num dos bancos de madeira, cruzando as pernas de modo confortável. ― Mas em minha defesa, nenhuma das histórias sobre o Anjo da Morte falava sobre ele ser bonito daquele jeito. Até eu fui pego de surpresa.

― O que foi então? Estava fugindo e acabou no castelo por acidente? Como é que você o convenceu a transar, aliás? Acho que já tem muito tempo de seca pra o Idris pegar qualquer coisa que entra no castelo desavisado.

― Ouu, não precisa ofender também, hein. Eu tenho ótimas habilidades na cama. Inclusive, se quiser testar, estou à disposição. ― ele sorriu com o canto dos lábios e Wafula o encarou por cima do ombro com uma sobrancelha arqueada e um ar de descrença. ― Pode perguntar ao seu rei, se quiser referências. E já ficou meio óbvio que eu não invadi o castelo para matar ninguém, eu sou um ladrão, e estou muito bem assim, obrigado.

― Então acabou entrando no castelo por acidente sem saber que era a casa do Anjo da Morte? Pra quem veio de Brymoor, não me surpreenderia que você não soubesse onde estava se metendo. ― Wafula seguiu com a arrumação das coisas na cozinha, facilmente jogando enormes sacos pesados sobre as mesas ou armários, e a energia e a força deixavam Kieran bem distraído.

― Transar com ele foi um acidente, entrar no castelo não. Eu sabia muito bem onde estava me metendo, e por sinal, as histórias do Anjo da Morte chegam fácil até Brymoor, por isso que eu cruzei o continente especificamente em busca dele.

Wafula parou de arrumar as coisas na cozinha, não porque tinha terminado, mas porque a resposta de Kieran lhe deixou com uma confusão bem visível no rosto. Ele se virou na direção do ladrão, os braços cruzados diante do corpo, como se estivesse tentando avaliá-lo.

― Certo, então você veio direto pro ninho do dragão. ― ele concluiu, arqueando a sobrancelha falha, cortada por uma marca de cicatriz. ― Que aposta absurda andou perdendo em Brymoor para vir de um reino tão distante para encarar o Idris?

― É tão estranho ouvir "Idris", "Idris", "Idris". ― Kieran franziu o cenho, tentando assimilar aquele novo nome, mas com o questionamento mais direto de Wafula, ele deu de ombros, erguendo as mãos para o ar. ― Nenhuma aposta, na verdade, vim por vontade própria. Não ando por aí seguindo desafios alheios, a não ser que eu vá sair ganhando, e muito. Mas se quer mesmo saber, minha intenção era invadir o castelo do regente mais temido dos reinos do Sul, fazer um grande roubo e ter uma morte gloriosa que seria cantada pelos bardos por séculos e séculos no futuro. ― ele completou, com um ar convencido, quase majestoso.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte I] [Concluída]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt