Wafula riu da sua escolha de palavras. Bom, como não rir, considerando que era bem o que estava parecendo para as pessoas mais íntimas do rei: que ele só tinha invadido o castelo para transar com o regente. O que, por si só, era um desfecho estranho que Kieran não esperaria de nenhuma das suas empreitadas anteriores: dormir com parceiros de crime, sim; dormir com os alvos de seus roubos, não.
― Eu não invadi o castelo porque queria transar com o rei, foi tudo um grande acidente, se quer saber. ― "Um ótimo acidente, por sinal", Kieran fez questão de completar mentalmente, acompanhando o general até o interior da casa para largar os sacos de comida no pequeno cômodo que era a cozinha.
― "Acidente"? Do tipo você tropeçar e cair nu em cima de uma ereção? ― questionou Wafula, deixando uma risada generosa tomar conta do cômodo bem modesto, comparado ao castelo e ao palacete, mais ainda comparado ao cargo de alto status dele. Será que soldados não recebiam tanto dinheiro assim em Arcallis?
― Não esse tipo de acidente. ― Kieran rodou os olhos, tomando a liberdade de dar uma olhada na cozinha simples, que bem lembrava a casa da senhora Amit e o marido dela. Tinha alguns armários de madeira, uma lareira, uma pequena mesa encostada à parede e uma janela e uma porta que davam no lado de fora da casa.
― Eu não lhe culpo, o Idris é muito bonito, para um cara que gosta de outros caras, ele deve ser irresistível. ― o general começou a arrumar as coisas dentro da cozinha, pouco se importando em manter a atenção em Kieran, a despeito dele ser um ladrão conhecido que já tinha roubado a coroa do rei.
― Verdade. ― Kieran se sentou num dos bancos de madeira, cruzando as pernas de modo confortável. ― Mas em minha defesa, nenhuma das histórias sobre o Anjo da Morte falava sobre ele ser bonito daquele jeito. Até eu fui pego de surpresa.
― O que foi então? Estava fugindo e acabou no castelo por acidente? Como é que você o convenceu a transar, aliás? Acho que já tem muito tempo de seca pra o Idris pegar qualquer coisa que entra no castelo desavisado.
― Ouu, não precisa ofender também, hein. Eu tenho ótimas habilidades na cama. Inclusive, se quiser testar, estou à disposição. ― ele sorriu com o canto dos lábios e Wafula o encarou por cima do ombro com uma sobrancelha arqueada e um ar de descrença. ― Pode perguntar ao seu rei, se quiser referências. E já ficou meio óbvio que eu não invadi o castelo para matar ninguém, eu sou um ladrão, e estou muito bem assim, obrigado.
― Então acabou entrando no castelo por acidente sem saber que era a casa do Anjo da Morte? Pra quem veio de Brymoor, não me surpreenderia que você não soubesse onde estava se metendo. ― Wafula seguiu com a arrumação das coisas na cozinha, facilmente jogando enormes sacos pesados sobre as mesas ou armários, e a energia e a força deixavam Kieran bem distraído.
― Transar com ele foi um acidente, entrar no castelo não. Eu sabia muito bem onde estava me metendo, e por sinal, as histórias do Anjo da Morte chegam fácil até Brymoor, por isso que eu cruzei o continente especificamente em busca dele.
Wafula parou de arrumar as coisas na cozinha, não porque tinha terminado, mas porque a resposta de Kieran lhe deixou com uma confusão bem visível no rosto. Ele se virou na direção do ladrão, os braços cruzados diante do corpo, como se estivesse tentando avaliá-lo.
― Certo, então você veio direto pro ninho do dragão. ― ele concluiu, arqueando a sobrancelha falha, cortada por uma marca de cicatriz. ― Que aposta absurda andou perdendo em Brymoor para vir de um reino tão distante para encarar o Idris?
― É tão estranho ouvir "Idris", "Idris", "Idris". ― Kieran franziu o cenho, tentando assimilar aquele novo nome, mas com o questionamento mais direto de Wafula, ele deu de ombros, erguendo as mãos para o ar. ― Nenhuma aposta, na verdade, vim por vontade própria. Não ando por aí seguindo desafios alheios, a não ser que eu vá sair ganhando, e muito. Mas se quer mesmo saber, minha intenção era invadir o castelo do regente mais temido dos reinos do Sul, fazer um grande roubo e ter uma morte gloriosa que seria cantada pelos bardos por séculos e séculos no futuro. ― ele completou, com um ar convencido, quase majestoso.
DU LIEST GERADE
O Ladrão dos 13 Corações [Parte I] [Concluída]
FantasyKieran teve uma longa vida de sucesso em sua carreira de ladrão e conseguiu as maiores alcunhas diante dos mais absurdos feitos. "O Manto dos Sídhe", "O Mago da Noite", não havia lugar nos quatro cantos do mundo em que aqueles nomes não fossem conhe...