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A dor de cabeça era intensa. Kieran abriu os olhos lentamente para tentar identificar os seus arredores e ainda fazer sentido de cada uma das partes do corpo. Ele ainda podia sentir os dois braços e as duas pernas, o que era uma coisa positiva no seu estado atual, e fora o ardor leve de um corte ainda em recuperação na perna, havia só o latejar na cabeça que lhe despertou a memória para o golpe que tinha recebido na nuca, capaz de apagá-lo.

A brisa leve da noite e o cheiro de terra e grama lhe apontavam que ele estava num lugar aberto, mas já não eram as ruas de Zahi. Ele tentou se mover e notou que embora sentisse mãos e pés inteiros, as mãos estavam fortemente amarradas, a ponto dos dedos estarem formigando. Ele se moveu um pouco no chão gramado, identificando finalmente, sob a luz do luar, a trilha que dava nos terrenos principais do castelo. Não foi difícil para o ladrão compreender a situação em que estava, Kieran não era estranho a assaltos inesperados, capturas e perseguições, e sabendo que não estava mais na cidade, ainda com todas as roupas e todos os membros inteiros, só havia um motivo razoável pelo qual tinha sido arrastado para perto do castelo. Não era para ser preso pelos guardas do palacete, disso ele tinha certeza.

― Eu disse que ele não estava morto.

A voz grave e masculina despertou a atenção de Kieran, que tentou se sentar no chão para dar uma olhada ao redor e encontrar os seus agressores. Daquela vez, ele sentiu a aproximação e a aura perigosa acompanhada do cheiro de sangue que era um cartão de visita de mercenários e assassinos com os quais ele já estava acostumado. Kieran sentiu uma enorme mão firme em volta de seu braço e, num solavanco, foi colocado de pé com muita facilidade. Ele conseguiu então encarar um grupo de quatro homens, parados a alguns passos de distância, entre as árvores que ladeavam os terrenos do castelo, que lhe encaravam com aquele ar de intimidação que ele já conhecia. O homem que tinha lhe levantado parecia ter dois metros de altura, careca, com algumas marcas e cicatrizes no rosto que o deixavam mais assustador. Diante dele, os outros três tinham expressões igualmente intimidadoras, usando roupas escuras, surradas, com cintos e armas bem notáveis para quem quisesse ter certeza de que eles significavam problema. Ou a resolução de um problema, para quem quisesse contratar os serviços.

Embora estivesse acostumado a todo tipo de escória, mercenários e assassinos se enquadravam no tipo de pessoa com quem Kieran não gostava muito de lidar. Nunca tinha um meio-termo com eles, então era melhor ser cauteloso com as palavras.

― Se os senhores estão querendo me culpar também pela fúria do Anjo da Morte, gostaria de dizer que eu aceitaria conversar de forma pacífica, eu estou sempre aberto a críticas e sugest—

― Ande, ladrão. ― o homem que estivera sentado ao pé de uma das árvores se colocou de pé, e Kieran notou que ele era mais alto do que parecia, embora o corpo fosse magro e esguio. Ele o encarava fixamente, quase sem piscar os olhos escuros, e mesmo num porte magro, Kieran sabia que era o tipo de pessoa com quem precisava tomar cuidado.

― Sem apresentações? Nem um jantar, flores? ― ele ainda ousou, sem receber qualquer resposta do homem a sua frente, ou dos demais que continuavam calados e assistindo à situação.

Ande. ― ele reforçou, num tom mais incisivo e Kieran apenas deu de ombros.

― Se você insiste, quem sou eu para discutir com meus captores, não é? Melhor ser obediente. ― Kieran fez exatamente o que ele mandou, e começou a andar, claro, propositalmente na direção oposta ao terreno do castelo.

Ele não teve chance de dar dois passos sequer, o homem que o tinha levantado com um só braço puxou sua roupa noutro solavanco tão forte, que ele voltou os dois passos num só impulso, e quase não conseguiu se manter em pé.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte I] [Concluída]Where stories live. Discover now