Capítulo XXXVIII

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Nota da autora: escutam a música, vejam a tradução. Acho que combina com o momento.

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Na parte mais obscura do oceano, meu corpo se encontrava. Unido como um feto à sua mãe, estava congelando-se, aos poucos. O coração vazio e perdido numa margem da ideia do que poderia ser felicidade. A sensação profunda e densa de que algo havia escapado de minhas mãos, e eu era incapaz de recuperar.

O medo e esquecimento me envolvendo, e assim, era eu quem permitia. Não tinha mais nada pelo o que lutar.

Acordei. Minha cabeça a mil pensamentos sem resoluções. O medo estava me consumindo por completo desde a última noite, me desvirtuando do real e irreal. Não poderia sequer imaginar o quanto a visita e as palavras de Namora rondariam minha mente sem pestanejar. Era como se, a cada minuto singelo, as malditas palavras saltassem e rebobinassem, criando profundas camadas, tornando-se cada vez mais ameaçadoras e predadoras, mesmo não sendo realmente.

Não estava com medo de Namora. Não confunda isso, caro leitor. Minha apreensão aguda era mais profunda, e a sereia azul havia somente me relembrado de como as repentinas mudanças de meu humor poderiam machucar ao simplesmente se descontrolarem. A culpa desta minha angústia não era dela, e sim totalmente minha.

Por alguns momentos, com Namor, pensei que poderia escapar do calafrio em minha espinha, do medo de pesar com esses poderes malucos, sem explicação. Viajei na sensação de sua pele à minha, de suas doces palavras saindo de sua boca, causando calafrios em cada trechinho de meu corpo.

Idiota. Como pude realmente pensar que teria chance com um deus? Nunca haveria possibilidade, e mesmo assim, confesso, meu coração já estava se acostumando a sua presença, seus lábios rosados roçados aos meus, sua risada. Maldita risada.

Via-me completamente frágil e confusa com tudo aquilo, como se fosse uma simples adolescente perdida num romance impossível com seu ator favorito.

A cada dia, meus ossos apenas me consumiam mais e mais, descontrolando-se em coisas singelas. Os pensamentos perdendo-se, sem saber como ao menos se empoderar do que corria pelas minhas veias.

E finalmente, algo que ainda não tinha revelado a vocês, meus caros leitores. Isso porque precisava confundir a mim mesma, me enganar. E, acredite se quiser, quando não falamos em voz alta, remodelamos os acontecimentos em nossas mentes, tudo é possível. Posso criar e destruir uma ilusão somente construindo ela a meu favor, mostrando a mim o quanto pode ser real ou até mesmo absurda. A mente é poderosa e, a partir do momento no qual se aprende a usá-la, tudo está em suas mãos. E desta forma, por tanto tempo, eu vim mentindo tanto para minha própria pessoa que quase acreditei.

Antes mesmo de tentar me isolar, a própria "afinidade" com a água se encontrava em plena perdição. Às vezes, sem querer, me queimava no chuveiro. Ou congelava o gelo que acabava de colocar na geladeira. Quando chovia, percebia estar seca em segundos após passar por todas aquelas gotículas antes, ao correr para entrar no ônibus.

Todos estes fatores, aqui digo, eu neguei. Disse para mim mesma que eram somente imaginação, nada real. Penso, na verdade, que sempre fiz isso. Renegar a mim mesma poder realizar coisas inimagináveis, às quais assistimos em filmes infantis. Eu queria acreditar que não era nada. Acreditar que não havia queimado meu pai inteiro quando briguei com ele. Porém, nada disso adiantou.

Agora, aqui estava eu. Juntando os joelhos aos peitos, formando um casulo. Pensava em Namor. Pensava se eu poderia machucá-lo, por mais que fosse sem querer. Pensava se ainda poderia ampliar esses poderes, se seria capaz de sufocar alguém apenas retirando o ar de seus pulmões. Se seria possível reflorestar a Amazônia inteira, e o que o mundo acharia disso, o que fariam comigo. Se Nick Fury me apresentaria para os homens de terno mais relevantes, dizendo o quanto eu poderia ser útil.

O ar foi diminuindo, diminuindo em minha respiração... Eu estava assustada por não saber o que fazer, como continuar. Sendo hipócrita ao querer, em meu coração, desvendar tudo o que eu teria capacidade de ser e fazer e ainda passar o resto do tempo nesta praia, fingindo que o resto do mundo não existia, mas, em minha lúcida cabeça, tendo consciência de que Nick viria com seus homens de preto, Namor nunca mais voltaria de sua Atlântida e eu aceitaria. Por medo. 

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Nota da autora: Confesso que acho que estava meio que perdendo a boa escrita na história. Mas, hoje, consegui escrever melhor, assim como queria ter feito no último capítulo. Espero que gostem, de verdade. Sinto que a história já está acabando...

Boa notícia, Wakanda Forever finalmente vai chegar no Disney Plus!!

O Mar de Talokan // MarvelOnde histórias criam vida. Descubra agora