Capítulo V

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Era uma praia linda. Meus olhos nunca tinham estado em tal harmonia. As ondas, como num coral de canto bem treinado, uniam-se num som agradável. As bolhas as quais formavam faziam cócegas deliciosas nos meus pés, e, à medida que eu ia adentrando o mar, molhavam a barra do meu vestido branco. Era tudo perfeito.

Ao chegar à certa profundidade, passei a dominar as águas, nadava como uma sereia, me sentia livre. Passei a manipular, fazia lindos cristais ao redor. Estava indo mais fundo. Nadava mais rápido, saltando, e agora correndo sobre o mar. Dava piruetas e formava lindos arcos da água mais cristalina que poderia existir, por certo era o paraíso. Foi quando, de repente e infelizmente, algo me puxou para a parte mais obscura do oceano, onde nem a luz se atreve a ir.

Acordei assustada. Num sobressalto, foi meio que de repente. Eu estava confusa, uma explosão de medo e apreensão pelo meu sonho do dia anterior, se é que foi um.

Ao olhar as horas, percebi que dormi até demais. Já era quase meio-dia, precisava sair e andar um pouco. Quem sabe reconhecer as redondezas? Ah, a quem quero enganar? Eu queria tirar uma história a limpo. Aquele sonho do deus alado parecia mais uma memória, era necessário averiguar para ver se não estava completamente louca.

Arrumei-me, colocando um biquíni e uma saída de praia brancos, peguei um lanche e fui à praia. O mar estava calmo, nada de vento, ou qualquer outro barulho que seja, estava tudo estranhamente -ou felizmente- tranquilo. Até que avistei uma concha, mas não do tipo normal, que se encontra em qualquer praia. Não, era grande e verde esmeralda, o Sol praticamente fazia dela um espelho de tão polida. Obviamente, eu a peguei.

Neste momento, me senti observada, como se não fosse exatamente para eu pegar aquela dádiva da natureza. Mas, mesmo assim, passei a observá-la, e decidi ouvir o som que emitia. Porém, quando a aproximei do ouvido, não era o som do mar que emanava, era uma música. Linda. Uma melodia reconfortante, uma sonância molhada e refinada. Eu estava tão entretida na mesma que não o percebi se aproximar.

- Gostou?- disse, atrás de mim, aquela voz com sotaque. Não era, definitivamente, um sonho. Droga.

- Merda.- me virei quase imediatamente, e me segurei duas vezes mais para não o queimar outra vez.- Quem acha que é para me assustar assim?

- Então não gostou?

- De você ser real? Não, com certeza, não.

- Não, a música.- falou, demonstrando estar meio confuso sobre o que eu acabara de dizer.

- Ah... a música. Certo.- olhei para o lado, ainda estava meio apreensiva.- É linda. A concha é sua?

- Sim, inclusive, uma de minhas favoritas. De onde venho, elas emitem sons diversos. Mas essa é especial, pertencia à minha mãe.- assentiu.

- É adorável, mas por quê?

- Por que o quê?

- Por que deixá-la aqui? No meio do nada?

- Precisava falar com você novamente, sem que saísse correndo e me deixasse preso na água.- disse reprovando minhas ações, mas com certa leveza na voz.

- Preso? Não faço ideia do que esteja falando.- me fiz de sonsa, ele realmente queria saber sobre aquilo- Toma sua concha.- dei o objeto reluzente para o alado de volta, e virei-me o deixando só. Porém, como num déjà vu, ele agarrou meu pulso, mas, desta vez, consegui me controlar.

- Não pense que vai fugir de mim. Sabe muito bem do que eu estou falando.

- Hm?- olhei profundamente em seus olhos, porém com uma inocência fingida demais, como se realmente não fizesse ideia do que estava falando.

- Não sou idiota. Você ferveu a água que estava em minha pele ontem. Veja. - ele mostrou sua mão, parte estava ainda meio avermelhada.

- Ai meu Deus, desculpa. Desculpa. Desculpa mesmo. Você me assustou, e eu... Eu... Fiquei com medo. Não era para acontecer.

- Calma, não foi nada. Só fiquei curioso.- fiz uma expressão para que continuasse, estava arrependida por tê-lo machucado- Nunca vi alguém fazer tal coisa. É impressionante.

- O quê? Ferver a água?

- Não exatamente, mas sei que se consegue fazer isso, certamente tem um dom. E como disse, nunca vi antes. Nem pelos meus irmãos, mesmo com a afinidade que temos com a água, não conseguimos controlá-la. Estou impressionado.

- Está?

- Óbvio, e acho que me deve uma pela queimadura.- deu um sorriso de lado, como se soubesse que me sentiria mal pelo ocorrido. Ele está se aproveitando da situação - Gostaria de saber mais sobre este seu dom.

- Desculpa, mas como um Deus da água, ou sei lá o que você seja, não deveria saber o que sou?

- Talvez... Mas é exatamente por isso que estou tão intrigado.

- Não achava os homens entediantes, ou algo do tipo?- disse eu, agora com um pequeno sorriso.

- Em geral, sim, pequena. Mas você certamente é uma exceção.

Neste momento, senti um arrepio. Ok, estava curiosa com o homem da água.

O Mar de Talokan // MarvelOnde histórias criam vida. Descubra agora