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Parte XI

Meu silêncio era prova de que eu estava apavorado por estar com um Anjo Caído. Sempre acreditei em Deus, mas conhecer uma de suas criações duvidosas faz minha cabeça explodir com milhares de pensamentos.

É por isso que Jungkook é tão atraente?

- Então eu sou bonito para você, Anjo? - O Jeon estaciona o carro em frente a minha casa e começa a me observar.

- Por que não seria? - Retruco com um bico nos lábios.

- Talvez, eu seja feio. Anjos Caídos no mundo humano são considerados horríveis e causam medo.

- Eu te acho perfeito. - Tento segurar sua mão, mas ele impede. - É assustador saber sobre isso.

- Por isso apaguei suas memórias. Imaginei que teria trauma.

- Não permito que faça novamente, entendeu? - Vejo ele suspirar, porém assentiu. Ainda é muita informação para aceitar e sinto que posso ficar maluco a qualquer momento.
- E também não quero que leia minha mente.

- O problema é que você pensa tão bem sobre mim, não sei se consigo evitar.

- Ao menos tente, huh? - Insisti. Não há nada pior que alguém saber o que você pensa. - E sobre o sonho erótico?

- Não é culpa minha você pensar em mim toda hora. - Se defendeu. - Posso aparecer em seus sonhos, é assim que funciona. O que eu fizer em sua pele ficará amostra na vida real. - Jungkook sorriu ladino.

Neste momento, só queria me matar. Estive não obcecado pelo novato que projetei o sonho e ele o invadiu. Não que eu esteja reclamando. A culpa não é dele se é bonito e misterioso o suficiente para me fazer pensar vinte e quatro horas por dia.

- Por que você me escolheu? - Perguntei. - De tantos humanos, por quê eu?

- O que te faz pensar que te escolhi?

- Apenas responda. É tão difícil assim?

- Sim, é. - Ele umedece os lábios e fita minha boca hipinotizado. - Tão imperfeito, mas tão belo. - Senti seus dedos apertar meu queixo. - Melhor você entrar, seu pai está em casa.

- O que você disse? - Olhei para a varanda e lá estava o mais velho, esperando-me tão tarde. - Essa conversa não acabou, saiba disso.

- Não quer tirar sua maior dúvida? - Jungkook me impediu de sair. Meu pai pareceu impaciente, e com razão. O olhei confuso e o Jeon sorriu sacana. - O piercing inusitado, Anjo.

- Deixe para outra hora. - Saí as pressas do Jeep e o mesmo acenou antes de dar partida. - Pai, o que faz aqui?

- Já para dentro, mocinho. - Obedeço o homem na mesma hora. - Quero saber onde estava e com quem esteve. Especialmente o dono daquele Jeep.

- Não podemos falar depois? Está tarde e...

- Sua segurança é tudo, Taehyung. Quase morri do coração quando não te vi em casa, mas Jimin passou aqui e avisou que você estava com B.J.

- Tudo bem. Ele falou a verdade. E o cara do Jeep é... - Fiz uma pausa para buscar uma palavra que definisse o que Jungkook realmente é para mim. - Ele é um ficante.

- Não foi tão difícil, foi? - O homem sorriu sem graça. - Só temos um ao outro desde que sua mãe se foi, não cometa besteiras. Ouviu?

- Sim, senhor. - Eu ri.

- Quero conhecer seu ficante, trate de trazê-lo para que o conheça melhor e saiba com quem meu filho anda se relacionando.

Merda.

Não quis discordar, apenas assenti e fui para meu quarto. Agora que sei como algumas coisas funcionam, talvez usar o sonho para falar com o Jeon seja vantajoso.

Eu poderia pesquisar mais sobre Anjos Caídos e coisas relacionadas a criação do mundo, mas não acredito em humanos, é isto. Eles simplesmente seguem um livro antigo e tentam nos fazer temê-lo. Talvez, entender os dois lados possa nos fazer entender pequenas brechas.

Meu corpo estava tão cansado que relaxou rápido, meu sonho demorou para vir e finalmente apareceu.

- Na cozinha da minha própria casa? - Retruquei a mim mesmo. Tantos lugares para me imaginar e a essa foi a única que funcionou.

- O primeiro beijo é importante para vocês humanos. - Os passos de Jungkook cessaram próximo da mesa e seu olhar caiu sobre o balcão atrás de mim, um sorriso orgulhoso brotou em seus lábios. - Coisas simples são muito memoráveis.

- Mudando de assunto. - Pigarrei. Fiquei nervoso sob seu olhar profundo. Como pode alguém flertar tanto, Deus? - Meu pai quer conhecer você. Está preocupado sobre o que ando fazendo e sobre as amizades.

- Ele sempre foi um pai muito atencioso. - O Jeon assente. É claro que ele já deve saber disso, aish. - Marque o dia, prometo não faltar. - Jungkook umedece os lábios e os morde me olhando de cima a baixo. - Uma pena não poder te apresentar ao meu, pois me expulsou do Paraíso.

- Desejar é algo tão ruim assim?

- Ao provar do desejo você passa a querê-lo muito, muito mais. - Jungkook caminhou até mim e colocou as mãos no balcão, deixando-me submisso a ele. - É um pecado desejar tanto o impossível.

O Jeon acariciou meu rosto, arrumando os cabelos que caíam nos meus olhos e sorriu. Eu adoraria saber no que ele estava pensando.
Alguns segundos fixando o olhar no seu era como mergulhar num mar calmo, porém profundo e desconhecido.

- O que somos um para o outro, agora? - Indaguei. - Amigos?

- Fale por si só. - Nós dois rimos. - Eu sou o que você quiser que eu seja, Anjo.

- Não o conheço suficiente, devemos ir devagar. Agora que sei sobre você, pretendo aceitar sua imperfeição mais perfeita. - Dei o meu sorriso mais sincero para aquele Anjo e a reação que ele teve foi me beijar. Pareceu estranho, ao abrir os olhos o cenário ficou opaco. - O que está acontecendo?

- Alguém está te acordando. - Bufou irritado.

- Te vejo na escola?

- Sabe que sim. - Jungkook apertou meu queixo e deixou um beijo molhado em meus lábios.

Todo o cenário sumiu levando o Anjo Caído junto, senti que acordaria em breve e então despertei. Ofegante, tirei a coberta e passei a mão no cabelo, jogando-o para trás. Ainda não me acostumei com as reações que Jungkook me causa.

- Acorda, seu porco! - Vi Jimin bater à janela. Levantei e abri para o mais novo entrar. Fiquei irritado por ele estragar meu sonho. - Meu Deus, eu não consegui esperar na escola. Você está bem?

- Por que não estaria?

- Acabei te deixando sozinho naquele lugar. Yoongi apareceu e me levou para casa. - Park largou sua mochila e deitou em minha cama. - Como chegou aqui?

- Jungkook me trouxe.

- Pensando bem, acredito que ele tenha enfiado um rastreador no seu...Você sabe. - Jimin se cobriu e fechou os olhos. - Ele sempre estará com você. - O vi bocejar e cochilar, deve estar exausto.

Sorri com a cena fofa que é Park dormindo e fui trancar a janela. O frio não estava me incomodando, a visão que eu tinha era de muitas árvores à frente e a mesma sensação de estar sendo observado.

Felizmente tenho um Anjo cuidando de mim, mas precisamente um Anjo Caído que caiu por ter desejos incomuns no Paraíso. Isso é cruel.

- Deus, se estiver me ouvindo, sabe que tenho um pedido a fazer. - Dito olhando para os céus onde algo onipotente existe. - Estou rezando para que cuide bem do Jungkook. Ele não tem culpa de desejar algo assim. - Eu sorri, mas uma lágrima rolou meu rosto trazendo um aperto no coração. - Perdoa ele assim como você perdoa os humanos horrendos que circulam na terra.