CAPÍTULO 17

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EMMA - ATUALMENTE

— Um filho?

Assenti. Eu nunca falava sobre o meu bebê, ou pelo menos tentava não falar. Tinha acontecido há muito tempo atrás, mas ainda doía como se tivesse acontecido ontem.

— Como era o nome dele?

— O nome dele era Mark.

Liam passou a mão pelo rosto e vi o arrependimento em seus olhos pelo que tinha dito minutos atrás. Ele veio na minha direção e me abraçou apertado. Sua mão fez carinho no meu cabelo e meu rosto estava encostado em seu ombro.

Não percebi quando comecei a chorar, mas escutar Liam sussurrar no meu ouvido que sentia muito, enquanto eu que devia estar acalmando ele me deixou arrasada.

Ele se afastou um pouco e colocou as mãos no meu rosto.

— Quando isso aconteceu?

Não tive a oportunidade de falar pois a enfermeira apareceu com notícias.

— Desculpa interromper.

— Tudo bem — sequei meus olhos e me virei pra ela —

— A filha de vocês está bem, está medicada, se quiserem podem ir até o quarto.

Liam segurou a minha mão e fomos até o quarto. Darya estava dormindo e com algumas machas que sobraram da crise. Disse a Liam que ia sair para ligar para os pais dele e deixei ele com a filha.

— Senhora!

Era a enfermeira novamente.

— O médico disse que daqui a pouco vem para falar com você e o seu marido.

— Ah, ele não é meu marido!

— Perdão, pensei que fosse.

— Só vim dirigindo, ele estava muito nervoso. Mas obrigada, vou falar pra ele.

— Tudo bem, desculpe o meu erro.

Foi quando eu percebi. A enfermeira tinha se referido a Darya como nossa filha, mas estávamos tão nervosos que nem percebemos.

Fui para uma parte mais aberta do hospital para ligar para minha mãe e dar notícias.

— Emma, ainda bem que você ligou. Como ela está?

— Está bem, foi medicada. Era alergia ao camarão. O médico vai falar com o Liam daqui a pouco.

— Tudo bem. Vou falar para a Jane, ela está tão nervosa.

— Então pode dizer que ela vai ficar bem. Você e o Paul podem levar o Sean pra casa? Eu vou depois.

— Claro.

Encerrei a ligação e vi Liam atrás de mim.

— O médico disse que ela vai ficar bem, mas vai passar a noite internada.

Ele sentou ao meu lado e segurou a minha mão.

— Quando tudo aconteceu? Sobre o seu filho.

Respirei fundo. Eu sabia que ele não ia me deixar sair dali sem contar toda a história.

— Eu conheci um cara há uns anos, o nome dele é Tyler. Começamos a namorar e com uns quatro meses de namoro eu engravidei. Fiquei tão assustada, eu tinha 21 anos, estava terminando a faculdade e tinha começado no trabalho há pouco tempo, e achei que ia ficar sozinha. Mas o Tyler foi super parceiro, até chegou a me pedir em casamento — soltei uma risada — eu não aceitei. Sabia que ele estava fazendo aquilo só por causa do bebê. Quando eu recusei achei até que ele ficaria com raiva, mas ele continuou lá do meu lado, me dando suporte. Íamos contar para os nossos pais quando ele nascesse por que ainda não sabíamos bem o que ia ser da nossa vida, e ter minha mãe e os pais dele no nosso pé só ia deixar o clima mais tenso, então escondemos deles.

— Sua mãe não sabia?

— Ela não sabe até hoje. Como ela não tinha como me visitar, nossas conversas eram apenas pelo telefone. No dia do parto eu tentei ficar o mais calma possível. Foi um parto difícil, mas valeu tanto a pena quando eu segurei ele nos meus braços. — lembrei exatamente da cena — A primeira noite eu não consegui dormir, tinha alguma coisa me incomodando, eu queria ficar de olho nele sabe. Na manhã seguinte a enfermeira insistiu pra que eu dormisse, e me prometeu que eu ajudaria a dar banho nele quando acordasse. Eu fiz isso, dormi. Quando eu acordei ele estava com os olhinhos abertos observando o Tyler brincar com ele. Estava tudo bem, eu dei banho nele, coloquei a roupinha, mas aí quando anoiteceu eu percebi que ele estava um pouco quentinho, mais do que o normal sabe. — Liam escutava tudo com muita atenção — Chamei a enfermeira e ela conferiu a temperatura, vi a expressão preocupada quando ela chamou o médico, mas disse que provavelmente seria um alarme falso, eles levaram o Mark para fazer alguns exames. Durou uns vinte minutos mas pareciam horas, e quando voltaram, o médico disse que ele estava apenas com uma febre, e que ele ficaria bem.

Parei um pouco e me levantei precisando tomar um ar. Me encostei na parede depois de alguns minutos e continuei.

— O médico tinha razão, no dia seguinte a febre tinha passado e por isso não conseguiram descobrir logo de uma vez. Ele estava bem e como o parto tinha sido normal depois de dois dias fomos para o apartamento do Tyler. Eu tinha aceitado morar com ele por um tempo por que eu morava em um quartinho que mal cabia as minhas coisas. Tínhamos deixado um quarto pronto pra que eu e o Mark ficássemos. Passamos umas semanas com o nosso filho, aparentemente saudável até que a febre voltou e parecia não ir embora de jeito nenhum. Corremos para o hospital e o médico de plantão não era o mesmo que tinha feito o parto, apenas a enfermeira, ela disse que o outro já tinha feito exames e que não tinha acusado nada, mas o novo médico insistiu em repetir. Quando eles voltaram, disseram que o Mark estava com sepse neonatal. É uma bactéria que se vista cedo tem uma chance maior de cura, mas a dele estava avançada, ele precisou ficar internado, eles conseguiram estabilizar a situação por um tempo, mas aí ele teve uma parada cardíaca.

"Sinto muito Emma, o coração dele não tem mais batimentos."

— Eles tentaram tanto, Liam. Eu estava lá. A enfermeira tentou me tirar de lá, mas eu não deixei.

— E onde estava o Tyler?

— Ele tinha ido trabalhar, ele chegou uma hora depois. Mas eu recebi a notícia sozinha. Eu caí no chão, gritando e com o coração apertado, as enfermeiras tentaram me acalmar, mas eu estava fora de mim. Quando o médico anunciou o óbito e me pediu desculpas por não conseguir fazer mais nada eu só queria de chegar até o meu bebê, só queria ver o rostinho dele. Ele me ajudou a levantar e me levou até ele. Ver o meu menininho sem vida foi como arrancar meu coração do peito. Quando Tyler chegou eu estava do lado do corpinho dele, não precisei dizer nada por que ele soube na hora que me viu. Ele saiu do quarto e chorou no corredor, e eu não tinha forças pra consolar ele. Minha mãe nunca soube, só os pais do Tyler. Nos primeiros três anos, eu e ele íamos juntos até o túmulo do Mark no dia do aniversário dele, mas aí ele conseguiu um emprego no Canadá e hoje em dia ele manda as flores e eu levo.

— Eu não consigo imaginar o quanto você deve ter sofrido.

— Depois de alguns anos eu conheci o Sean, e ele se tornou o meu melhor amigo, ele acabou descobrindo que eu já tive um bebê e eu contei toda a história. Àquela altura Tyler já tinha ido embora e eu sufocava sozinha com isso. Nas primeiras semanas o Tyler tentava de todas as formas me animar, me fazer comer, ele sempre aparentava força na minha frente, mas de madrugada quando ele achava que eu estava dormindo, ele ia até a varanda do apartamento e chorava. Até que um dia eu sentei ao lado dele e choramos juntos de mãos dadas, e naquele dia nós dois começamos a nos reerguer.

— Você mantém muito contato com ele?

— Não muito. Hoje ele é casado, e a esposa está grávida. Conversamos de vez em quando por que ele sente medo de tudo se repetir, e eu tento acalmar ele. Eu nunca mais fui a mesma depois que perdi o meu filho.

Falar em voz alta outra a vez a história doeu, mas eu tinha conseguido terminar sem desabar no chão como tinha acontecido quando contei a Sean.

Liam estava quieto me encarando e eu não sabia mais o que dizer, tinha jogado toda a história em cima dele por que ele pediu.

— Fala alguma coisa!

Ele levantou e foi até mim, colocando as mãos no meu rosto e seu olhar penetrou bem no meu quando disse: — Tenho tanta admiração por você!

E era só isso que eu precisava ouvir. 

COMO A MEIA-NOITE [COMPLETO]Where stories live. Discover now