CAPÍTULO 5

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EMMA - ATUALMENTE

Sean escolheu um apartamento perto da filial que ficava há meia hora do bosque onde ia quando era adolescente. Mas quando pisei em Austin senti saudades daquela cabana. Então peguei o carro de aluguel e dirigi até lá.

Senti quando a primeira gota de chuva caiu. Olhei para o céu e estava nublado e sabia que uma tempestade se aproximava. Estava longe do carro e a cabana estava mais próxima corri até lá.

Estava quase igual a como eu lembrava. Só que as janelas estavam inteiras e a porta também, mas ainda não tinha luz.

— Podia ter modernizado isso aqui.

Escutei algo se mexendo no canto da sala e dei um pulo. Peguei meu celular e acendi a lanterna, indo bem devagar até a fonte do barulho. Atrás da poltrona velha tinha uma menina.

Estava assustada e parecia que tinha chorado.

— Oi pequena! — estendi minha mão e ela recuou — Tudo bem, eu não vou machucar você. Meu nome é Emma. — ela continuava a me olhar assustada, então me afastei e me sentei no chão — Vou ficar aqui até se sentir confortável para falar comigo, está bem? E está chovendo, acho que ficaremos aqui por um tempinho.

A chuva estalava no telhado e eu continuava sentada há uns 10 minutos na frente da menina.

— Darya!

— Como disse?

— Meu nome é Darya.

— É um nome muito bonito. Sempre gostei do mar.

— Como você sabe? — seus olhos estavam curiosos — Só minha família sabe.

— Tive alguém uma vez, e nós dois compartilhávamos da paixão pelo mar. Dei a ele uma lista de como o mar se chamava em vários idiomas. E na Pérsia Antiga, se chamava Darya.

— O que Emma significa?

— Não é tão bonito quanto o seu. Quantos anos você tem?

— Tenho seis.

— E como você veio parar nessa cabana sozinha?

— Eu estava passeando com a minha avó, a gente não se vê muito, então quando venho para Austin ela sempre me traz aqui. Aí eu me distraí com uma borboleta e me separei dela.

— Ela deve estar muito preocupada. Quando a chuva parar, eu te ajudo a encontrá-la, pode ser? — ela balançou a cabeça animada e sentou do meu lado — Onde você mora?

— Em Dallas. E você?

— Los Angeles.

— Veio visitar sua avó também?

— Não. — sorri vendo tanta doçura nos olhos daquela garotinha — Vim com um amigo, ele trabalha comigo e vai se mudar para ser chefe do meu jornal aqui.

— Você tem um jornal?

— Tenho. É isso que eu faço em Los Angeles, administro minha própria empresa.

— Que legal. E como é em Los Angeles? Meu pai me levou lá quando eu era bebê, então não lembro de nada.

— É uma cidade enorme, acho que você gostaria de lá.

— Quero viajar pelo mundo. Quero ser como o mar, passar por vários lugares do mundo, e quando eu for grande eu vou ser... grande.

Não pude conter a risada. Ela falava com tanta seriedade que podia imaginar aquela menina conquistando qualquer coisa que quisesse na vida. Ela tinha tanto potencial que desejei que os pais dela vissem isso e incentivassem os sonhos dela.

— Você já está na escola?

— Sim, ainda é meio estranho estar lá, mas eu gosto. — ela me encarou com aquela curiosidade de criança — Você vai passar muito tempo aqui?

— Só alguns dias, estou ajudando meu amigo a se adaptar, depois vou voltar.

— Que pena. Eu ia adorar brincar com você.

— Sou velha demais pra brincar.

— Não acho, você deve ter a idade do meu pai e dos meus tios e eles brincam comigo.

— Você fala mais sobre o seu pai, e a sua mãe?

— Nunca conheci. — simples assim. Não havia dor nos olhos dela ao falar da mãe, apenas indiferença, e era muito triste ver isso, então mudei de assunto —

— A chuva está diminuindo, daqui a pouco nós podemos ir.

Ouvi o nome dela ser chamado. Era a voz de um homem, e ele parecia desesperado.

— Darya! Cadê você?

— Ei, tem alguém te chamando!

— Deve ser a minha avó.

— É a voz de um homem.

Ela colocou um sorriso no rosto e foi até a porta e gritou: — Papai!

Peguei um vasinho que tinha na mesa de centro e segurei com força. Talvez fosse o pai da menina, mas se não fosse, queria ter algo para poder nos defender.

— Papai, estou na cabana!

Escutei os passos próximos e a silhueta de um homem apareceu atrás de uma árvore.

— Darya?

— Sou eu! Sou eu!

Ele veio correndo na nossa direção e quando viu a filha, desabou de joelhos na varanda e abraçou a menina.

Os traços estavam um pouco mais velhos. Ele tinha barba agora e músculos. Muitos músculos. Definitivamente não era mais o garoto que eu conheci.

Depois de uns minutos ele se afastou de Darya e finalmente me encarou. Não tinha dúvidas, os olhos eram os mesmos.

— Emma?

— Oi, Liam.

COMO A MEIA-NOITE [COMPLETO]Where stories live. Discover now