CAPÍTULO 10

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EMMA - 11 ANOS ATRÁS

Eu sempre amei a neve.

Todos os anos eu ficava olhando a previsão do tempo para saber o dia certo em que o primeiro floco de neve ia cair na minha janela.

Mas esse ano, quando ela caiu, eu estava sentada no chão do meu quarto, no escuro, apenas com a luz da lua iluminando o ambiente e meu rosto estava molhado.

Eu não conseguia controlar as lágrimas, e já tinha perdido a noção do tempo, se estava ali fazia horas ou minutos, mas tinha quase certeza que eram horas.

Meu pai tinha chegado em casa alterado. Não bêbado, fazia alguns meses que ele não bebia, mas estava irritado.

Fazia uns dois meses que ele não brigava com a minha mãe e como não estava bebendo, nós duas começamos a relaxar. Achávamos que as coisas poderiam mudar, e que ele finalmente tentaria arrumar um novo emprego.

Estávamos na cozinha terminando o jantar quando ele chegou e ficou nos encarando da porta.

— O que estão cozinhando?

— Carne e batatas. — minha mãe estava na mesa cortando alguns legumes enquanto eu estava lavando a louça —

— Vocês são duas, por que não fazem algo melhor?

— Cheguei faz pouco tempo do trabalho Robert, e Emma estava no colégio.

— E por que você não chegou mais cedo, Emma?

— É quinta, tenho reunião com o pessoal do jornal da escola.

— Isso é uma perda de tempo, fica indo para essas reuniões desnecessárias quando deveria estar em casa fazendo meu jantar.

— Você não trabalha, poderia chegar cedo em casa, de qualquer buraco que você se enfia o dia todo e fazer alguma coisa.

— Emma.

— Não, mãe. Ele sempre faz isso, diz que vai mudar e quando não está bebendo está criticando tudo que nós duas fazemos. Você que coloca comida na mesa por que ele não consegue parar em um emprego por que segundo ele, ninguém valoriza a mente brilhante que Robert Alcott tem. Estou no jornal da escola por que gosto, e isso ajuda com meus créditos para a faculdade.

— Para fazer uma faculdade comunitária não precisa ficar enfiada no colégio até tarde.

— Não vou para uma faculdade comunitária, estou lutando para conseguir entrar em uma universidade bem longe de você.

— E quem vai cuidar de mim?

— Não sei. Mas eu não nasci pra ser sua empregada, muito menos ser seu saco de pancadas reserva. Minha mãe já deveria ter te largado há muito tempo. Tantos homens por aí interessados nela, e ela só consegue ver você que é tão lixo que não consegue nem ser um marido ou um pai decente.

Eu nunca tinha explodido daquela forma com ele, e quando vi que ele estava se levantando para vim na minha direção e me bater, comecei a procurar alternativas para sair correndo, mas eu estava longe da porta.

Foi quando vi minha mãe se colocar na minha frente e gritar para que ele parasse.

— Saia da minha frente, Hannah.

— Ela é só uma garota. Pare com isso.

— Você é um covarde. Bate na minha mãe há anos e agora se acha no direito de bater em mim também.

— Emma, fique quieta por favor.

— Hannah, eu não vou dizer outra vez, saía da frente.

— Mãe, por favor, sai daí. Ele não vai encostar em mim. — minha adrenalina se misturou com o medo de que ele fizesse algo contra a minha mãe, então tentei convencê-la a sair de perto dele, e aí eu tentaria correr —

— Robert, pare.

Ele pegou minha mãe pelos ombros e jogou do outro lado da cozinha. Suas costas bateram com tudo na bancada e ela caiu no chão gemendo de dor, e tossindo, parecendo que estava com falta de ar.

Corri até ela e comecei a chorar, me culpando por ter começado uma briga com meu pai, e não ter obedecido quando ela me pediu para ficar quieta.

— Mamãe, desculpa. — meu pai se agachou do outro lado, tocando as costas dela quando eu gritei — Sai de perto dela, seu monstro nojento.

A raiva iluminou novamente seus olhos, e por alguns segundos ele esqueceu que minha mãe estava agonizando no chão, e levantou a mão para me dar um tapa.

Consegui ser rápida e segurei a mão e dei uma mordida forte, ele gritou e tentou se soltar, mas ao passo que eu mordia, também cravava minhas unhas em sua pele, quando achei que já tinha feito um bom estrago, soltei e ele caiu sentado.

Seu olhar de fúria passou de mim para a minha mãe, ele levantou e pegou a minha mãe e levou para o carro, levantei para ir atrás deles, mas quando cheguei na garagem ele me parou.

— Você fica.

— Eu vou.

— Se você der um passo e entrar nesse carro, ou tentar ir para o hospital, vai ser a última vez que você vai ver a sua mãe.

— Você não teria coragem.

— Teste a minha paciência outra vez, Emma, e não vai ter nada que você possa fazer para salvar a sua mãe.

Ele entrou no carro e saiu pela rua em direção ao hospital. Meu coração ficou apertado e as lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto.

Ela tinha se colocado na minha frente para me proteger e agora estava machucada e eu me sentia tão culpada.

Me tranquei no quarto e chorei até minha cabeça doer, foi quando depois de um tempo, vi o primeiro floco de neve cair na minha janela. Eu costumava receber o inverno com alegria, mesmo com o caos que era dentro de casa, mas agora eu não sentia nada, além de dor.

Meu pai tinha mandado uma mensagem dizendo que ela estava estável, mas que tinha algumas costelas quebradas e que os dois passariam a noite no hospital.

Mandei uma mensagem para Liam, mesmo sabendo que talvez ele não iria responder por já passar das onze. Uns 20 minutos depois, escutei uma batida na janela e vi Liam me esperando. Levantei e senti uma tontura pela dor de cabeça, mas abri a janela.

Ele estava de pijama, com um casaco por cima e me olhava preocupado.

— O que você tá fazendo aqui?

— Você disse que estava mal, senti que isso foi um pedido de ajuda.

Balancei a cabeça e deixei que entrasse. Ele fechou a janela e tirou o casaco enquanto eu contava o que tinha acontecido. Como meu pai não chamou uma ambulância, minha mãe quase morreu por que não foi tirada do local com o cuidado necessário, se ele tivesse sido responsável, ela não teria quebrado uma costela, muito menos passado por uma cirurgia.

Quando terminei de contar, desabei no chão chorando como uma criança. Ele me puxou para o seu colo enquanto eu falava: — Foi minha culpa, devia ter controlado minha raiva.

— Emma!

Sua voz firme fez com que eu parasse de chorar por um momento e olhasse para o seu rosto.

— Não é sua culpa. Foi ele que fez isso, ele é o monstro, você e a sua mãe são as vítimas.

— Mas eu deveria ter ficado quieta.

— Você foi silenciada por tempo demais. — ele me pegou no colo e me colocou na cama, depois de trancar a porta ele deitou ao meu lado me envolvendo no seu abraço — Vou dormir aqui com você.

— Não sei se consigo dormir.

— Então fico acordado com você.

E assim ele fez.

Passou a noite me protegendo, e sempre que a vontade de chorar voltava, ele me abraçava mais forte e beijava os meus cabelos, dizendo que tudo ficaria bem em algum momento.

E naquele momento, eu acreditei.

COMO A MEIA-NOITE [COMPLETO]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt