CAPÍTULO 11

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EMMA - ATUALMENTE

O primeiro floco de neve caiu.

E eu não estava protegida entre quatro paredes.

Estava na rua, exposta ao meu trauma, onde qualquer pessoa pudesse ver.

Tinha saído para dar um passeio enquanto esperava Sean voltar de uma loja, como não estava com vontade de dirigir, saí para andar sozinha.

Quando senti a neve cair nos meus ombros, eu paralisei. Fechei os olhos e respirei fundo tentando não lembrar daquela noite. Minha mãe estava bem agora, longe dele, eu não tinha mais 17 anos e não era uma garota indefesa.

Abri os olhos novamente, e como se fosse um pesadelo, vi meu pai parado do outro lado da rua. De primeira ele não me reconheceu, só ficou me encarando com um olhar de dúvida.

Então, atravessou a rua e veio na minha direção. Eu não conseguia sair do lugar. Pelo visto ele ainda não fazia ideia de quem eu era, poderia pedir ajuda e dizer que estava me sentindo desconfortável com a presença daquele homem, mas minhas pernas não ajudavam de jeito nenhum.

Quando ele parou na minha frente sua mente pareceu clarear, e ele olhou para a tatuagem no meu pulso.

— Emma.

— Oi, Robert.

— Engraçado que foi só a sua mãe pedir o divórcio que ela não me falou mais nada sobre você. Ela parece só contar as coisas para o namorado dela.

— Paul parece ser um parceiro melhor do que você jamais foi pra ela.

Ele riu com deboche.

Meu pai nunca acreditou que fosse um péssimo marido ou um péssimo pai. Depois de muitos anos, passei a sentir pena da pessoa que ele era.

Nunca perdoaria as coisas que ele fez ou disse, mas eu sentia pena. Agora estava sozinho, em uma casa onde nem eu, nem minha mãe queríamos entrar de novo. E olhando para ele agora, provavelmente de ressaca, com a barba por fazer e seu olhar de superioridade, eu perguntava se ele estava feliz com tudo que perdeu.

— Você está nessas roupas caras, salto alto. Por favor, Emma, você nunca gostou desse tipo de roupa. — ele se aproximou e senti seu hálito de cerveja — Que tipo de personagem você quer encenar?

— Perdeu a noção do tempo? Se passaram 10 anos, eu construí uma vida, eu amadureci, passei por coisas que você nem faz ideia. As roupas que visto, os sapatos que uso não são um personagem.

— Vejo que não é mais aquela menininha. Sabe, eu fiquei surpreso quando vi que você não usava meu sobrenome.

— Infelizmente, ainda está no meu registro, não é tão fácil tirar, mas não preciso ficar exibindo algo que sinto vergonha.

— Você é tão ingrata, sempre te dei tudo.

— Me dar uma casa, roupas e comida era sua obrigação como meu genitor. Pare de se fazer de vítima, você cavou sua própria cova, quando se mostrou um marido ruim e um péssimo pai.

Segurei forte a minha bolsa e dei meia volta, mas parei quando ele disse.

— Reconheci você pela tatuagem, o que ela significa?

— Não interessa pra você.

✸✸✸

Acabei voltando para o apartamento e me tranquei no quarto. Devo ter passado umas duas horas no notebook, respondendo e-mails, conferindo matérias que seriam publicadas, quando escutei batidas na porta.

— Emma? — Sean falou suavemente —

Levantei e destranquei a porta ele entrou.

— Demorei mais do que o esperado.

— Tudo bem.

— Você parece aflita.

Suspirei e me sentei no chão e ele sentou ao meu lado.

— Saí para dar uma volta e começou a nevar. Eu travei. — meu amigo segurou minha mão e apertou de leve — O pior, é que meu pai apareceu do outro lado da rua, parecia um pesadelo na minha mente. Aquela noite, e ele lá, parado tentando me reconhecer, e meus pés não se moviam.

— Ele te reconheceu?

— Sim. Fui forte, consegui falar com ele sem chorar, acho que foi ver o cinismo na cara dele que fez os meus pés voltarem a me obedecer e sair do lugar.

— E o que vai fazer agora?

— Eu tenho vontade de pegar minhas coisas e voltar para Los Angeles, mas prometi te ajudar a se adaptar aqui, e temos uma filial para abrir. Não vou bagunçar os negócios por causa de um homem que é parte do meu passado. Então vamos ao trabalho.

— Amanhã fazemos isso, sócia. Hoje temos um jantar com a sua mãe.

Gemi e me levantei.

— Não quero ir.

— Já adiamos isso por dois dias. Não custa nada se distrair um pouco.

— Jantamos e voltamos para cá, tudo bem?

— Se é só isso que eu vou conseguir. — ele deu de ombros e saiu do meu quarto e eu me joguei na cama —

— Só mais algumas semanas e você pode voltar para a sua vida, Emma.

Fui até o banheiro e tomei um banho demorado para limpar toda a energia negativa que tinha recebido depois daquele encontro com o meu pai.

✸✸✸

— Que bom que finalmente vieram! — minha mãe me abraçou da porta e eu fiquei constrangida — Entrem, sinta-se em casa, Sean!

— Obrigada!

— Emma, posso falar com você?

Assenti e fomos até a cozinha.

— Olha só, Liam vem com a família dele também!

— O que?

— Desculpe, você tem cancelado nos últimos dias, e eu já tinha marcado esse jantar com a Jane para conhecer a Darya, Liam também não queria vim, o coitadinho fica incomodado na minha presença, por que, você sabe.

— Claro, vocês tinham uma ótima relação até nós dois terminarmos o namoro e eu me mudar.

— Quando Sean veio até aqui de tarde dizendo que viriam hoje, eu não tinha mais como cancelar com os Taylor, e também não queria perder a oportunidade de ver você de novo. Sei que não se sente confortável me visitando e só queria me apegar ao pouco que tenho.

— Certo. Não é como se eu fosse espernear e ficar de cara feia o jantar inteiro, não se preocupe.

— Então vai ficar? — ela me olhou esperançosa e por alguns momentos me senti culpada por não visitá-la —

— Vou ficar.

Ela me abraçou outra vez e depois saiu para a sala de jantar para colocar os pratos na mesa.


Nota: tem muito mais em relação ao trauma da Emma, que eu vou retratar mais pra frente, tô tão empolgada com essa história, por que tem muita coisa ainda pra contar. 

COMO A MEIA-NOITE [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora