COMO A MEIA-NOITE [COMPLETO]

CAPÍTULO 2

LIAM - 10 ANOS DEPOIS

— Vai passar mais quanto tempo aqui?

— Umas três semanas.

— Eles querem te transferir para Austin?

— Estamos em negociação. Sabem que eu tenho uma vida confortável em Dallas e não queria deixar tudo para trás.

— Você tem nosso apoio se precisar voltar pra casa.

— Deixou de ser minha casa há anos, mãe.

— Liam, mora naquela cidade grande só você e a Darya, não seria bom ter ajuda?

— Criei minha filha desdeque ela nasceu, sempre me virei bem, mas tem o time, eles sempre me ajudam. E fazer essa mudança com ela, vai mexer com tudo.

— Stella não sabe o homem que perdeu.

— Ela não sabe a filha que perdeu. Não me importo dela ter terminado comigo, acho que nunca fui apaixonado por ela, mas me importo dela ter deixado uma lacuna na vida da Darya que por mais que eu me esforce nunca vou conseguir preencher.

— Ah, meu doce menino, tudo bem. — minha mãe pegou a xícara de chá e tomou um gole — Você tem se saído tão bem como pai.

— Faço o melhor que posso.

— E é por isso que entendo a sua decisão de não querer voltar para cá. Muitas lembranças.

Ela pôs a mão no meu peito e sei que sentiu as batidas do meu coração.

— Sinto tanto por nunca ter amado outra vez.

— Ela foi o amor da minha vida.

— Se passaram 10 anos, olhe o que vocês dois construíram, não era pra ser.

— É errado ainda ter esperanças?

— Não é errado, mas entenda Liam, o tempo é cruel, ele muda as pessoas. Você e a Emma não se falam há anos, um não sabe o que aconteceu na vida do outro, não são mais adolescentes, não sei se você encontrá-la vai achar a essência daquela Emma por quem foi apaixonado.

— Por quem sou apaixonado.

— A questão é que não foram 10 dias longe, foram 10 anos, só digo que se for para manter a esperança, que seja em algo que tem pelo menos 1% de chances de acontecer.

Não tinha o que comentar sobre isso.

Minha mãe sempre gostou de Emma, e quando ela se mudou para Los Angeles meus pais admiraram sua coragem de tentar recomeçar.

Quando o E'Mills Journal estourou, eles ficaram tão animados que ligaram para ela, mas eles esqueceram que talvez ela não estivesse mais o mesmo número.

Minha vida foi bem diferente da dela. Naquele primeiro ano eu virei assistente do time local e parecia que todo dia era igual. Ganhava o suficiente para ajudar meus pais em casa, mas queria mais, então depois de seis meses, eu saí.

Quando fiz 19 anos me alistei no exército. Minha mãe ficou furiosa, disse que eu não precisava daquilo que se fosse necessário ela pegaria um empréstimo e pagaria minha faculdade.

Mas eu não quis. Ainda estava perdido na vida e queria encontrar meu caminho, então assim fiz. Me alistei e fui enviado para Fort Hood para meu treinamento.

Quando me liberaram, não queria voltar para Austin, então usei o que tinha recebido do exército e aluguei uma kitnet em Dallas. Como já tinha experiência como ajudante de time, me candidatei para uma vaga de ajudante.

Mas o treinador do time ficou doente quatro dias antes do campeonato, e estavam todos desesperados, até que eu tentei ajudar, e deu certo. Quatro dias depois, o Midnight Texas ganhou o campeonato amador e a partir daí aqueles meninos começaram uma carreira profissional no futebol americano, e eu comecei minha carreira como treinador deles.

Com quase 21 anos eu estava no auge. Treinava um time em ascensão e tinha saído da kitnet para um pequeno apartamento. Foi quando conheci a Stella. Ela era prima de um antigo jogador e foi a primeira vez que me interessei em ficar com uma garota depois de Emma.

Começamos a namorar, mas eu sentia que faltava algo, não sabia bem o que. Com uns sete meses de namoro ela descobriu que estava grávida. Eu fiquei maluco.

Nunca achei que seria pai tão jovem, e também achei que seria pai com a Emma, então foi uma surpresa. Mais surpresa ainda quando cheguei no meu apartamento três dias depois de receber a notícia e encontrar a Stella jogada na cama com um frasco de um líquido estranho do lado.

Ela tinha vomitado muito, e percebi que estava sangrando, o pânico tomou conta de mim quando a ambulância chegou e fomos para o hospital.

Nunca vou esquecer quando o médico parou na minha frente e disse que ela tinha bebido uma substância que era abortiva. Por pouco não deu certo. Quando entrei no quarto encontrei ela raivosa e chorando, dizendo que não era pra ela ser mãe, que tinha estragado a vida dela.

A gravidez já estava avançada, então minha bebê conseguiu ser forte e aguentar até receber ajuda. Quando ela nasceu três meses depois, eu soube que faria de tudo por aquela garotinha.

— Que nome vamos colocar nela? — aquela altura eu e Stella não estávamos namorando, mas eu prometi que estaria ao lado delas — O que foi?

— Escolhe qualquer coisa.

— Você é a mãe, tem o direito de escolher.

— Eu não quero essa criança, eu não quero ser mãe.

— Achei que já tínhamos falado sobre isso.

— Não, você decidiu ser pai, me proibiu de abortar a menina, mas eu nunca quis. Quer ficar com ela? Fique. Mas eu não vou brincar de casinha com você.

— Vai deixa-la?

— Vou para Nova Iorque, recomeçar minha vida, não vou fazer isso com uma criança.

No fim daquele dia, Stella deixou a nossa filha no meu apartamento e foi embora sem olhar para trás.

Emma e Stella foram embora da minha vida sem olhar para trás, mas a diferença das duas é que quando Emma se foi, levou um pedaço do meu coração com ela, e quando Stella saiu, deixou a pessoa mais preciosa que eu poderia ter na vida.

Quando estava escolhendo o nome da bebê, lembro de Emma dizer algo quando éramos adolescentes sobre o mar: ele pode parecer infinito para nós que estamos na areia e não conseguimos ver até onde ele leva, mas essa é a melhor parte. Saber que não importa o caminho, sempre chegaremos de volta à costa, e será muita sorte ter alguém nos esperando.

Quando olhei nos olhos da minha filha vi a única mulher que eu sabia que sempre estaria esperando por mim, e por isso achei que ela merecia ter um nome que homenageasse o mar.

— Seu nome meu amor, vai ser Darya.

Nota: DARYA - na Pérsia Antiga, significa literalmente "mar"