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"duzentos- parte 1"

- Por favor- Peço.- Eu preciso saber. Confie em mim! Eu juro que eu guardo seu segredo.- Agarro sua mão.
"Estou muito atrevida hoje"

Jason fica sem saber o que dizer. Sinto que ele quer confiar em mim. Mas algo o impede.

- Você acha que é fácil? Se eu pudesse ter certeza que você acreditaria em mim, claro que eu já teria te contado, tudo.- Ele fecha os olhos e suspira. - Mas eu sei que você no minimo, ficaria em estado de choque.- Aproximo-me ainda mais dele, deixando nossos corpos praticamente colados.

- Me conta, até a parte que você achar...que eu aguento. - Ele tenta desviar os olhos dos meus, mas seguro seu rosto, conectando nossos olhares perdidos. - Me tira dessa agonia. Por favor.- Ele fica parado, olhando para mim. Em alguns momentos eu penso que ele vai dar um sorriso, e começar a contar os segredos que o cercam. Mas ele não o faz, apenas fica ali, me olhando por um longo tempo.
Para mim foi uma eternidade.

- Eu não tenho como te preparar, para o que eu tenho para te falar. Eu queria que houvessem outras maneiras.- Ele sorri, sem ânimo. - Mas você é persistente, uma hora ou outra, você descobriria.- Ele acaricia discretamente minha mão. - Só peço que mantenha sua mente aberta. Acredite no inacreditável.- Franzo a testa, eu não estou entendendo suas advertências. Porém esse mistério todo têm que ter um fim, então simplesmente digo:

- Pode confiar em mim. Eu já ví de tudo. Nada mais me surpreende.- Na verdade isso é mentira.
Quem não mentiria? Eu sou humana.
E além disso, é por uma boa causa.
Jason assente, e me puxa para a cadeira, onde outróra ele sentara.
Ele fica de pé, com seu ar superior. Fico sentada esperando que ele me dê as respostas que preciso.

Durante um tempo, ele fica andando de um lado para o outro.
Então de repente para, olhando para uma janela solitária, no canto direito da parede, e do nada começa a falar;

- Minha família e eu, nos mudamos para os antigos Estados Unidos, éramos tão pobres que vivíamos numa pequena cabana, que mal cabia duas pessoas, imagine uma família de cinco integrantes. - Eu sei bem, como é. - Eu tinha catorze anos, quando comecei a caçar para sustentar minha família. - Isso é plágio! Ele só pode estar copiando minha história. - Meu pai e meu irmão mais velho, haviam contraído um tipo de doença. Eles cuspiam sangue pela boca, era horrível! Então tudo ficou em minhas mãos.- Retiro tudo o que disse. - Todos os dias eu tinha que capturar algum animal, fazer o possível para manter nosso sustento. Mas então...o possível deixou de ser o bastante. As caças haviam se tornado cada vez mais difíceis, os animais começaram a sumir. Até o momento, em que um de nós morreu de fome; meu irmão Samien.- Ergo as sobrancelhas em total surpresa. - A culpa me consumiu, todos os dias eu sentava no meio da mata, e chorava escondido.
O que me deu um conforto, foi a ajuda de Thain, ela me ajudava a caçar. Depois de alguns dias de fome, conseguimos pegar um cervo bem grande.- Irônico.- Nós o levamos de volta para a cabana. Quando entramos, tivemos a surpresa de ver um casal bem vestido, em nossa frente. Eles nos olhavam de um jeito estranho, lembro-me como se fosse hoje, Thain se escondendo atrás de mim. Eu não acreditei quando eles disseram que haviam nos comprado, nós não queríamos ir, é claro. Mas eles nos obrigaram, nos amarraram e nos levaram para a fazenda deles. Nós nunca mais tivemos noticias dos nossos pais.- Nossa... Que coisa triste.- Eles nos transformaram em escravos, usavam a mim e a Thain, das maneiras mais sujas, e sórdidas que você possa imaginar. - Fecho os olhos. Não posso e não quero imaginar isso. - Mas eu sempre fui esperto, observador, e notei que a cada vez que eles mantinham contato íntimo conosco, tiravam um pouco de sangue de nossos lábios.- Fico atônita.

- Por que?- Pergunto sem ao menos pensar. Ele me repreende com o olhar.

- Não faça perguntas.- Diz friamente. Fico calada, "por enquanto!" Tenho que saber mais sobre ele. Jason continua - Eles extraíam sangue de nossos lábios, depois das "relações". Eu não sabia o porque, foi então que tive a ideia, de beijar a minha senhora enquanto ela repousava. No outro dia vi as consequências disso e carrego até hoje, as marcas nas minhas costas, que ela fez questão de mutilar com um chicote que carregava para cima e para baixo. Ela ficou com rosto desfigurado, por veias que pareciam querer escapar de sua pele.- Ele aponta para o próprio rosto. - Igual a mim, um monstro. Ela cortou meu lábio com os próprios dentes e sugou tanto sangue, que meus lábios ficaram inflamados por duas semanas.
Mas notei uma coisa; seu rosto havia se normalizado no momento em que ela bebeu sangue de mim. Então entendi o motivo pelo qual eles precisavam extrair sangue de nossos lábios depois de qualquer contato físico, era isso ou a auto-destruição.- Estou com dor de cabeça, essa história é tão confusa que faz minha mente dar voltas. Quem eram essas pessoas? O que é ele?- Essa tortura durou quinze anos, quinze anos de abusos, sofrimento. - Tento não chorar. Nunca me dei ao luxo de ser fresca, mas ninguém está vendo o quanto ele sofre, por causa do passado perturbador. - No dia da nossa liberdade. Estávamos com os senhores no quarto, eles acharam interessante ver Thain e eu nos tocando, como um casal.- Essas pessoas eram doentes.- Thain chorava muito naquele dia, e eu também. Estava em cima dela, pronto para consumar o ato sujo do incesto, quando ouvimos tiros. Era uma invasão, estavam tomando a fazenda. Os nossos senhores entraram em desespero, sem saber o que fazer.

Eles então trocaram palavras e nos olharam. De repente o senhor, nos levou para o fundo do quintal e começou a cavar duas covas, o chão era fácil de se corromper. A senhora cortou seus lábios e veio em nossa direção. Ela nos fez engolir seu sangue, tinha o gosto tão ruim, quanto ela. Quando o sangue parou de fluir de seus lábios. Ela arrancou o meu coração e o de Thain.- levo as mãos a boca. Mas espera...como ele está aqui?

- Depois disso não esperava acordar nunca mais. Mas então algo surpreendente aconteceu; eu senti a terra no meu rosto, não podia respirar, dei um soco na areia molhada a cima de mim, abrindo um pouco a passagem de ar. Vi a luz do dia, naquele momento soube, que era a luz da liberdade, eu estava numa cova superficial, Então simplesmente me ergui, vi os corpos dos senhores no chão. Fiquei feliz, como nunca tinha ficado na vida. Mas algo estava errado, eu não era mais eu mesmo, eles...não sei porque, nos transformaram em monstros, que vagam sobre a terra, através dos séculos.- Estou sem palavras. Minha boca abre e fecha compulsivamente, as palavras e os pensamentos sãos, fugiram de mim.

- Você usa palavras como; escravos, açoites, e pessoas que caçam para sobreviver. - Ele assente. - E uma coisa me chamou atenção; você disse que te transformaram num monstro que vaga pela terra através dos séculos. Só me diga uma coisa, quantos anos você tem?- Pergunto sem piscar. Ele demora a responder. Mas preferia que continuasse em silêncio.

- Mais de duzentos anos.

O Beijo de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora