IV

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"Justiça?"

- Me responde, onde eles estão?- digo, tentando parecer calma, segura, e capaz. Mas estou me borrando inteira aqui, um soco desse homem e eu me desmancho.

O homem à minha frente sai do palanque onde se encontrava.

Começa a se aproximar de mim, em passos firmes e seguros. Logo se vê que ele é realmente alguém importante e só o sapato dele deve valer mais que a minha vida (e não estou brincando)

Ele para de frente para mim, levanto a cabeça para olhá-lo nos olhos, como a boa atrevida que sou.

Sem tirar os olhos de mim, ele aponta para uma coisa ao fundo da sala. Desvio sorrateiramente meu olhar do dele, e olho para o local onde ele aponta.

Trata-se de um cômodo com quatro cadeiras e uma mesa de centro, pretas. Achei um pouco diferente, dado todo o contexto, uma sala completamente branca, e aqueles móveis negros em destaque, me lembram xadrez.

- Sente-se, por favor.- Diz ele. 

Pareceu educado da parte dele, dizer "por favor", mas é porque ninguém ouviu seu tom de voz, além de mim.

Caminho em passos largos, até o local indicado, ele puxa uma cadeira para mim, mas como sou uma menina muito boa, me sento em outro lugar, ele me encara por alguns segundos.

- E então, onde estão...- começo a falar, mas sou cortada pelo senhor gentileza.

- Café?- Estende um pequeno bule branco para mim. Decido ignorá-lo.

- Onde estão meus pais?- Pergunto, quase perdendo a paciência. 

E é neste momento, que ele faz a pior sacanagem da vida dele.

Me irritar.

- Café?- Pergunta, estendendo novamente o bule, o meu sangue começa a ferver, levanto-me e acerto o bule com a mão. Jogando-o para longe, derramando todo o líquido preto no chão branco da sala.

- Por favor, senhor café, me diga...onde estão os meus pais?- falo lentamente, encarando-o. Ele não expressa emoção alguma, mantém sua pose, com classe.

- Eu peço que fique calma, eu farei o possível para que você tenha todas as respostas que precisa.- diz. 

Eu acho que esse homem não é deste mundo, ou ele quer me irritar com essa calma e gentileza toda.

- Só me responde isso.- Peço sua clemência. Ele suspira.

- Eles estão bem, por enquanto.- diz, por fim, me deixando mais aliviada...espera "por enquanto"?

- Por enquanto? como assim?- tento argumentar, ele me olha com uma expressão de advertência, me contenho.

- Eu já respondi sua insistente pergunta, agora me responda, por que você não tem o chip?- porque não tenho celular. 

Decido, ter uma conversa, civilizada com ele.

- Meus pais disseram que vocês fariam algo ruim. E estavam certos- digo. Ele sorri. O desgraçado é lindo sorrindo.

- Você acha a justiça, uma coisa ruim?- Ele tem a cara de pau, de falar "justiça"? Depois de todas as atrocidades que aconteceram neste país?

Bato na mesa de vidro, com força.

- Você chama isso de justiça? Pessoas morrem todos os dias, em Hell's City, pelas mãos dos seus Terminators e vocês vivem aqui, escondidos atrás das barreiras dos Estados Semelhantes e muito bem por sinal, como se nada estivesse acontecendo! - Ele me olha fixamente.- Eu não chamo isso de justiça, chamo de ditadura- Ele sorri, de novo.

O Beijo de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora