IX

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"Pistas"

- O que está fazendo?- Ele pergunta baixinho, com a boca tão próxima a minha, que posso sentir seu hálito quente, batendo no meu rosto.

- Eu não sei. Acho que estou ficando maluca.- Falo, selando nossos lábios.
Sua barba dá um toque especial, arranhando levemente meu rosto. Ele se mostra voraz, experimentando cada centímetro da minha boca. Ele tem um gosto tão bom.

Nunca imaginei fazer isso na minha vida. Eu achava super nojento, duas pessoas se beijando.
Mas na prática, é uma perdição.

Escuto alguém bater na porta do quarto.
"filho da mãe!" penso. Estou ofegante, meus lábios estão dormentes, e meu rosto formiga.

Jason desgruda nossos lábios, ele não consegue me olhar nos olhos. Mas eu consigo, e agora posso ver o quão, tentador ele pode ser.

Ele caminha até a porta, e abre devagar.
Vejo um homem baixo, vestido de amarelo, com uma mala branca nas mãos.
Ele fala com Jason, tento ouvir alguma coisa mas é impossível.

Jason vira-se para mim, e ainda sem olhar nos meus olhos, diz:

- O médico está aqui, vou deixá-los.- Ele não espera minha resposta, apenas sai do quarto, dando passagem para o homem entrar.

- Como vai, senhorita?- Se essa pergunta, fosse feita cinco minutos atrás, minha resposta seria um sarcasmo ao quadrado, mas como eu vivi, um momento legal. Minha resposta é:

- Não sinto nada. Literalmente. Eu sofri um acidente, e fiquei sem os movimentos das pernas.- Falo. O homem assente, colocando a mala em cima de um cômodo.

- Eu sei qual foi o seu problema.- Ele abre a misteriosa mala.- E para sua sorte, eu sei como te tratar, hoje mesmo você poderá andar.- Fico tão feliz, que estaria pulando, nesse exato momento.- Mas tenho que alertá-la: seu tratamento será doloroso.- Eu faço qualquer coisa para andar, novamente.

- Tudo bem.- digo. Mais calmamente possível. Ele retira da mala uma espécie de...-acho que me lembro, pelo pouco que estudei- parece uma coluna vertebral, mas de metal, sem os ossos. Nas laterais, ela tem pequenos pés, que me Lembram uma centopeia.

O homem põe o objeto em cima da cama.
- Venha- ele diz, me ajudando a virar de costas.
Pega uma tesoura e começa a cortar minhas roupas. Fico meio sem jeito, ter que ficar nua na frente de um homem, é bizarro.

Ele põe um lençol cobrindo meus...países baixos.

- Preparada?- Ele pergunta, pegando o objeto de metal. Balanço a cabeça positivamente. - Tente não fazer movimentos bruscos. Um, dois,- Começo a ficar com medo. Mas recuar não adianta mais. - Três.- Diz, depositando o objeto frio, exatamente em cima da minha coluna.
No começo não sinto nada.

Então sinto a pior dor, da minha vida. Várias agulhas plugam-se em minhas costas. Aprofundam-se até os ossos da coluna.

Grito, grito e grito, gritos agudos, como nunca gritei na vida.
A dor só piora, até o momento em que começo a perder os sentidos, e então abraco a escuridão, como meu ponto de apoio.

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Abro os olhos.
Não sei quanto tempo eu dormi, mas a dor que esperava sentir quando acordasse, não está aqui. Nem uma dormência nas costas, absolutamente nada.

Estou com um vestido branco, tão leve quanto uma pena. Da cintura para baixo, estou coberta por um lençol. Reparo que há uma bolsa de soro, ao meu lado, ligada a um fio que termina no meu braço.

Tenho medo de tentar mexer os pés, e falhar. Nunca pensei em perder os movimentos dos meus preciosos.
Mas preciso ser corajosa, sempre fui. E não há motivos para não ser agora.

Retiro o lençol de cima das minhas pernas, respiro fundo e então movimento-as.
Fico estática, eufórica, todas as sensações que eu poderia sentir.
Choro, sorrio.
Aquela dor horrível, valeu para alguma coisa.
Levanto-me rapidamente da cama, arranco o fio do soro, do meu braço, e saio correndo do quarto. Preciso agradecer, eu nem acredito!

- Eu posso andar!- falo alto. Meus pés descalços estalam quando tocam o chão de mármore. É uma sensação estranhamente boa. - Jason.- Chamo-o, não obtenho resposta. - Jason!- Sem resposta.
Onde ele poderia estar?
Desço as escadas (com cuidado) tentando encontrá-lo.

- Jason.- Vejo-o de costas para mim, sentado numa grande cadeira de couro. Não consigo entender porque ele não respondeu, quando o chamei. - Estou andando!- Falo o óbvio.

- Deveria, estar na cama.- Fala sem olhar para mim. Por que ele está tão estranho?- O médico disse que você deveria ficar em repouso.

- Eu vim te agradecer, pelo o que fez por mim.- Falo sorridente. Ele assente.

- De nada. Eu não fiz mais do que minha obrigação. Afinal a culpa foi minha.- Tudo nele está estranho, até sua voz.

- Aconteceu alguma coisa?- Pergunto, me aproximando.

- Não chegue perto de mim!- Me repreende. Eu não pararia, mas ele me assustou. - Pode ir. Eu vou mandar levarem alguma coisa pra você comer, sei que está fraca.

- Foi o beijo? Você está assim, pelo beijo?- Ele não responde. - Eu te beijei, e daí? Foi apenas um beijo. Não precisa ficar irritado.- Provoco-o. Me aproximo dele, mas o mesmo se levanta da cadeira.

- Me escute, vai embora. Eu não estou bem.- Seguro seu braço, sinto sua tensão.

- Eu posso te ajudar?- Foi uma pergunta tola, se eu pudesse ajudá-lo, ele me pediria.

- Me obedeça, por favor.- Fala, rangendo os dentes.

- Sei que fui precipitada, eu não deveria te beijar.- tento olhar em seu rosto, mas ele faz de tudo, para não me encarar. - Quer saber? Desculpe-me. Eu vou embora.- Digo, abaixando a cabeça.

"Se você acha que me dei por vencida, esta se iludindo".

Espero ele achar que me venceu, viro-me de costas e "ando" lentamente até as escadas. Sei que ele está me observando, posso sentir seu olhar em cima de mim.

Caio "acidentalmente" em cima de uma mesinha com flores. Chego a arranhar a mão. Finjo uma dor insuportável.

Então sinto um frio em minha nuca, e a voz preocupada de Jason, atrás de mim.

- Você está bem?- Pergunta, ainda com a voz estranha. Ele me ajuda a levantar.

- Acho que não, eu me cortei. Olha!- Viro-me para ele, e tenho a visão mais perturbadora do mundo.
Veias, grossas e azuis sobem de seu pescoço, até sua boca, as veias são tão grossas, que nem sua barba consegue esconder.
Ele vira-se, tentando me evitar.

- Cuide disso.- Diz, como se tivesse sentindo dor.

- O que houve com você?- Pergunto. - Olha eu juro que não comi nada estranho. Só...estou há alguns dias sem escovar os dentes.- Ouço ele da uma risada triste.

- Antes fosse.- Fala, quase sussurrando. Tomo a liberdade de pegar sua mão.

- Me conta, o que foi?- Tento transmitir, que ele pode confiar em mim.

- Você só precisa saber, que...o que aconteceu entre nós, foi intimo demais e muito cedo. A culpa foi minha, por ter permitido.- Fico frente a frente com ele. Seu estado não me causa nojo ou medo, mas desperta um sentimento de curiosidade.

- Eu sei que posso te ajudar. Só me fala com o quê. Me deixa saber, acabe com esse mistério!


O Beijo de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora