VIII

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"Medo"

Tenho medo de abrir os olhos, e acordar com Jesus querendo pegar minha mão, e me levar para o infinito. Ainda tenho muito o que viver. Não quero morrer agora.

Por ironia, sinto alguém pegar minha mão. Resolvo abrir os olhos, e encarar o inevitável.

- Jason.- Sussurro. Ele agarra minha mão, como se fosse o bem mais precioso do mundo.
- O que aconteceu? Quanto tempo faz, que estou aqui?- pergunto.
Estou na minha prisão, esperava acordar no céu, ou quem sabe num hospital.

- Você caiu da escada. E ficou adormecida por dois dias. Um médico veio te ver, e...você vai ficar bem, eu prometo.- Estranhei a maneira dele, de falar.

Tento me levantar mas algo me apavora; não sinto minhas pernas.

- O que está acontecendo?- Pergunto desesperada. - Por que não sinto minhas pernas?- Noto a expressão carregada dele, me observando atentamente.

- Por favor se acalme, eu vou te curar, não importa quanto dinheiro, eu gaste.- Ele diz. Sinto lágrimas brotarem do fundo dos meus olhos.

- Você quer dizer...- Minha garganta dá um nó. - Que eu estou, aleijada?

- Paraplégica, sim.- Fecho os olhos absorvendo o choque. Minha sanidade se foi, perdi tudo. Estou vulnerável. - Mas eu prometo, que farei de tudo, para te deixar, normal de novo.- Não escutei direito o que ele disse, mas de uma coisa eu sei:

- Isso é culpa sua.- Sussurro, entre as lágrimas. - Você me trouxe para morar aqui, nesse lugar.

- Eu sei, eu sinto muito por isso.- Ele diz, com pesar na voz. Essa calma dele me irrita.

- Sente muito? Não. Eu sinto, por ter aceitado, essa sua ideia maluca, sem sentido.- Ele fecha os olhos. - Isso tudo, é culpa sua!- Deixo as lágrima fluírem. Verdadeiras cachoeiras desabam dos meus olhos. Droga! Detesto chorar.

- Queria, poder te curar, eu mesmo. Mas não posso. Não fique brava.- Me irrito, pego um copo cheio de água, que se encontra em cima de uma mesinha, ao lado da cama, e jogo em cima dele. Nunca tive uma pontaria tão ruim. Eu erro. O copo quebra ao entrar em contato com a parede.

- Me tira daqui! Me manda de volta, agora!- grito. Ele parece buscar forças, em algum lugar de seu corpo.
Jason vira-se de costas para mim. Vejo o quão tenso ele está.
Não tento me desculpar, de um modo a culpa é dele e de outro, a culpa é minha. Acho que passei muito tempo sem comer. Mas ele não têm porquê saber disso. Tenho que culpar alguém, então de outro modo, a culpa é dele de todo jeito.

- Eu...vou sair daqui. Te deixar pensar.- Fala, ainda de costas, sua voz está estranha, um pouco rouca e forçada. Ele anda até a porta, abre rápido e sai praticamente correndo.

Por um lado foi bom, mas por outro, eu senti um vazio. -Meu Deus-. Passo as mãos pelos cabelos. - Ou estou muito certa, ou muito louca, mas sinto algo por ele, algo que não consigo explicar, algo doente, atrativo, sujo, e de uma certa maneira libertador.-

Tento a todo custo, movimentar minhas pernas, mas é em vão. Começo a chorar de novo. Isso não pode estar acontecendo comigo. Só pode ser mais um pesadelo.

Começo a bater no meu próprio rosto, com força.
- Acorda, acorda, acorda...- Meu ato de desespero, parece divertir uma pessoa. Pois escuto uma risada.

Olho ao redor do quarto, e vejo quem é a pessoa, que estava se divertindo, com minha desgraça. Como ela entrou aqui?

Thain põe a mão sobre a boca, como um gesto de dissimulada, desculpa.

- Creio que agora, você não vai mais poder, pisar nas pedras no seu sapato, não é?- faz uma cara de pena. Não respondo a sua provocação. - Se eu tivesse planejado, isso não teria dado tão certo.- Por que ela me odeia tanto? - Você quis ser esperta, mas agora.- Sorri. - Está no seu devido lugar. Rastejando, pedindo por migalhas, e quando você estiver cansada de sofrer, eu vou pisar e te esmagar, como uma lesma.- Sua máscara, caiu totalmente. Agora posso ver o quão perigosa ela pode ser. Não entendo, o Jason me trata bem, sem motivos. Ela quer acabar comigo, também sem motivos. Mas ela não sabe de uma coisa: eu também sou perigosa.

Começo a puxar meus cabelos. - Para, por favor!- Grito. Rasgando minhas roupas, arranho e bato no meu próprio rosto.

- Você está maluca?- Thain, pergunta sem entender. Me arrasto pela cama, até chegar a beirada e cair no chão. Me machuco feio, sinto uma dor terrível, mas tem que valer a pena.

Thain, se ajoelha no chão. - Você ficou maluca?- Tenta me levantar, mas puxo-a para cima de mim.

- Para! Sai de cima de mim! Jason!- Grito, o mais alto que posso. Ele aparece, quase que imediatamente, acho que ele arrombou a porta.

- O que você está fazendo?- Ele fala alto, tirando Thain de cima de mim, e jogando-a do outro lado da cama, com uma só mão. Será que a vaca morreu?

Ele me pega nos braços, forço algumas lágrimas, mas algumas são de dor.

- Ela, ela me atacou.- Afundo a cabeça no seu ombro. - Me tira de perto dela. E-estou com medo. Muito medo.- Ele acaricia meus cabelos.

- Eu não vou deixar, ela chegar perto de você, de novo.- Me sinto, segura ao seu lado. De alguma forma, eu sei que ele sempre vai me proteger.

Mas sei que ele é culpado, pelo o que me aconteceu, mas para me livrar dessa vaca, eu faço qualquer coisa.

Ela se ergue do chão.
- Jay, ela é louca.- Aponta para mim. - Você sabe muito bem, que se eu à tivesse atacado, ela estaria morta.- Fala. Jason olha para mim, eu nego tristemente com a cabeça, ele desvia suas atenções para ela. - Ela é uma cobra! Um demônio, que está aqui para destruir tudo o que nós construímos.- Faço minha melhor cara de santa.

- Eu vou cuidar, para que ela fique bem, e eu quero ver você no escritório.- Ele diz para Thain, saindo do quarto.
Me acolho em seus braços. E me pergunto se fui má, em fazer isso, ou se poderia ter feito melhor. - Vai ficar tudo bem. Eu já mandei buscar o melhor médico, dos Estados Semelhantes. Logo, logo você poderá, andar de novo.

- Por que faz isso tudo por mim?- Pergunto, sei que talvez, ele não responda, mas eu jamais irei desistir. Ainda mais agora, que ele está emocionalmente quebrado.

- Eu gosto de você.- Ele me surpreende ao dizer. - Um dia, em breve, você entenderá.

- Mas, você nem me conhece.- Ele fica me encarando. Fico hipnotizada, com a profundidade do seu olhar, ele pede por algo. Mas não reconheço, o quê.

- Eu te conheço, você não imagina o quanto.- A emoção, impregnada em sua voz, me faz flutuar.
Ele entra num quarto, lindo. Maior que o meu.
É tudo tão discreto, e ao mesmo tempo, charmoso.
Ele caminha comigo, até a grande cama, que se encontra no centro, do quarto.
Me deposita, carinhosamente sobre o colchão macio.

Nesse momento, -Eu não sei porquê.- Senti vontade de beijá-lo. Provar do seu gosto.
A raiva, a negação pelo o que aconteceu comigo, ainda estão aqui, martelando em minha cabeça. Mas não consigo resistir.
A tentação é o pior defeito, na vida do ser humano.

Em menos de trinta minutos, estava querendo, matá-lo.
Mas agora, eu sei que ele fará de tudo, para me deixar segura, confortável.

Puxo-o para perto de mim, num ato de loucura.
Deixando nossos lábios, a centímetros de distância.


O Beijo de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora