Capítulo 33

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Os corredores pareciam maiores que seu usual, quanto mais Mor e Rhys corriam mais longe a biblioteca parecia estar. As escadas se tornaram verdadeiros obstáculos e no ar rondava a sensação de urgência e desespero. Aquela névoa que parecia transbordar da própria Elain estava cada vez mais intensa, o que significa que estavam cada vez mais perto dela, e da Morte também.

Conforme corriam esbarravam com sentinelas que chegavam para ajudar na vigilância, iriam cercar a casa dos ventos assim nenhum ser vivo sairia dali andando ou voando sem ser visto. 

A biblioteca estava em completo silêncio quando entraram, o estrondo da porta ecoou pelo local que a paz pela primeira vez era estranha. A escuridão predomina entre as enormes estantes e os corredores, as escadas que levavam para nossos acervos pareciam ainda mais escuro e silencioso. Um gemido entre os livros foi o som que os tirou daquele transe causado pela estranheza, dando lugar ao pavor. No chão uma sacerdotisa estava toda machucada, a dor em seus olhos fez o coração de Mor apertar. Por outro lado Rhys fervilhava em ódio, aquele lugar era o refúgio que lhes prometeu onde estariam seguras para levar a vida em paz longe de seus traumas. 

Não parecia ter nenhuma outra em volta, mas a fêmea que agora apertava as mãos de Mor parecia ter lido o questionamento nos olhos do Grão-Senhor.

— As outras conseguiram fugir — a sacerdotisa falava com dificuldade, tossia entre uma palavra e outra e sangue jorrava — Ela ainda tá aqui…

Rhys olhou para ela e depois para as mãos de sua prima que apertavam as mãos da sacerdotisa com força. 

— Leve ela para um curandeiro, agora!

Aquilo não era um pedido, mas uma ordem. Mor não esperou que lhe fosse dito mais uma vez, com cuidado levantou a fêmea em seus braços e a segurou firme correndo para um curandeiro, mas deixando seu primo sozinho. 

Não completamente, pois ela ainda estava ali. A morte ou Elain, não importava. Andando entre as estantes e brincando com a sanidade de Rhys, ela era tão ágil e sutil quanto a morte para aqueles que chegavam ao fim de suas vidas. A própria sombra se esgueirava entre a escuridão, olhava em volta mas tudo que conseguia era ver vultos por frações de segundos. Estava perto da porta, ela não se revelaria ali, estava o tentando atrair para dentro. Sem cogitar sobre Rhys colocou um sorriso presunçoso no rosto e calmamente andou até as escadas que davam para as profundezas da biblioteca.

Colocando a mão nos bolsos Rhys desceu degrau por degrau, fingia não estar preocupado com o vulto que ficava mais rápido. Parte dele realmente não estava, queria que aquele joguinho se desse por acabado e ele enfim olhasse para a morte não importava em que sentido pudesse ser. Sentiu uma presença atrás de uma das prateleiras quando olhou para a terceira prateleira, ao se virar lá estava ela, lá estava Elain com um sorriso sádico que não parecia lhe pertencer. Mas sua postura, a forma que seus ombros não pareciam pesar mesmo com a postura ereta, passava a sensação de que estava confortável com aquilo. Com a morte. 

— Vejamos aqui a irmã que desceu de posto, superar a Nestha em meu ranking é um grande feito Elain, parabéns! — precisava saber se alguma parte dela caia em provocações pessoais, se a incomodava o fato de ter machucado Feyre. 

— Uma lástima, você segue ocupando o primeiro lugar no meu, não se preocupe, o mérito não é seu mas sim do péssimo histórico de machos de minha irmã — Elain sorriu sádica.

Rhys manteve o sorriso presunçoso, não tomou distância ou proximidade, suas mãos seguiam guardadas dentro de seus bolsos e em suas costas não havia nenhuma asa. Não parecia desarmado mas despreocupado, queria transparecer para a fêmea a sua frente que nada daquilo o assustava. Talvez não por si, mas pelo seu povo e sua família ele temia, mas jamais deixaria isso transparecer. Aquela postura e sorrisos não o assustava diretamente, mas o confundia, não parecia com ela, não conseguia aceitar que era ela. Havia a perdido também, ela era irmã de sua parceira e não poderia negar que desenvolveu certo afeto por ela também pensou que algum dia ela se sentiria verdadeiramente parte da família deixando Feyre enfim realizada. Ali estava Elain jogando tudo pelo ralo, por causa de uma dor onde Rhys estava incluso na linha de acontecimentos, mesmo que indiretamente se sentia culpado, afinal ele estava lá e não conseguiu fazer nada.

Corte de Sombras e Cicatrizesحيث تعيش القصص. اكتشف الآن