Capítulo 26

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Dyami 

A cada mínimo barulho de galho partindo já fazia seu corpo travar. Os mesmos guardas ainda estavam lá, assim como sua avó Keitha. A pouco tempo as irmãs espectro deixaram o local, sabia pouco sobre elas mas o suficiente, trabalhavam em Velaris mas seus serviços de espionagem para Azriel era o grande destaque de ambas. Fato que só tomou conhecimento na última semana por sua avó que lhe contou algumas histórias e cargos da Corte.

O assunto que tiveram foi sutil, apenas sobre uma das irmãs da Grã-Senhora, Elain Archeron, aparentava uma mudança de humor preocupante na última semana variando entre exaustão ou agitação fora do comum, e por isso tomava alta quantidade de tônicos. Aparentava ser apenas algo pessoal mas ainda se lembrava daquele treinamento onde Ayla pediu as fêmeas para que relatassem qualquer informação sobre movimentação incomum ou coisas estranhas que acontecesse em Velaris, nunca informou o motivo mas parecia ser importante, então guardou a informação para relatar mais tarde.

Os guardas andavam de um lado pro outro e a noite cantava, mesmo que a situação parecesse entediante a adrenalina corria em suas veias e podia jurar que sua ansiedade era tamanha que sentiu o coração bombear seu sangue. Quieto demais e passível demais, viverá tempo o bastante naquele lugar para entender que aquilo era um elemento estranho. Olhou para as fêmeas à sua volta e para o local onde algumas estavam à espreita, era unânime sabia que todas pensavam o mesmo que ela e por isso a concentração era total.

Uma energia estranha eclodiu no ar e por algum motivo uma certeza avassaladora de que vinha de Ayla a invadiu. Não sabia se acreditava em deuses bondosos que ouvia preces ou no quanto rezar pra um caldeirão seria eficiente, mas ela tentou, com os olhos fixos no pequeno cômodo onde sua avó estava confinada ela implorou. Não soube se aquilo era uma piada de mal gosto de uma dessas divindades ou se só eram cruéis e entediados mas soube que algo havia dado errado quando uma das fêmeas posicionadas um pouco mais afastada gritou e então o céu caiu, pois inúmeros illyrianos estavam ali invadindo. Sabiam delas e não só isso se direcionava para onde as Valkyrias estavam. Iriam às matar independente de acordo. 

Posicionando sua espada na mão ela deu grito que estava entalado em sua garganta a muito tempo e correu em direção a batalha. Era a primeira vez que aquilo acontecia, eram oficialmente guerreiras e ali estava a primeira batalha, não era um treino, não poderiam falhar, não estenderam a mão para você caso caísse, mas sim te sentenciar a morte. Não era algo planejado, não lhe disseram que posição tomar, não lhe disseram palavras bonitas ou a chance de se despedirem antes de entrar em território inimigo. Foram enganadas e traídas dentro da própria casa, esse era o problema seu território inimigo era o lugar que chamavam de casa e seus vizinhos o inimigos. O choque de sua lâmina contra de um dos machos reverbera por todo seu corpo, se lembrava dele, um completo cretino que morava na esquina de sua casa, mas ainda assim não se sentia pronta para matar, não havia entendido o peso daquele ato até ali, até aquele momento. Se lembrava de uma das inúmeras conversas com Ayla e as Valkyrias, elas sempre reforçaram o peso de se estar em um campo de batalha, nunca tinha compreendido, até aquele momento. Quando cortasse sua garganta era o fim, o odiava com cada capacidade de ódio que tinha, mas aquilo não era sobre ele, o peso de matar era sobre si, se conseguiria conviver com aquele peso então excitou. Naquele momento notou uma dura realidade caindo sobre si que eles não se excitaram, nunca, foi quando desviou de um golpe certeiro dando um ela mesma. O macho à sua frente caiu e o sangue escorreu por sua mão.

— Nüma — gritou para fêmea com duas espadas, uma habilidade única e admirável. 

Correram uma até a outra recebendo proteção das outras. Era natural aquilo, nunca lhes foi dito que teriam algum tipo de liderança mas elas eram respeitadas por todas, acharam de início que o motivo era porque estavam entre as mais velhas mas até as que tinham o dobro de sua idade escutavam seus comandos naquele momento. Foram as primeiras a subir num ringue sendo fêmeas após anos, tinham o apoio e influência de suas avós, o que ajudou. Mas ainda assim tinham mérito próprio, pois foram o primeiro suporte que tiveram até que grandes treinadoras chegassem. Elas seguraram uma pequena tenda no meio da tempestade sem desistência, não era por suas habilidades ou força mas sim pela coragem.

— Precisamos chegar perto das nossas avós, o objetivo deles é elas, somos apenas um obstáculo — gritava para ser ouvida em meio ao caos.

— Estamos em número igual conseguimos conter eles — Nüma observou — As Valkyrias vivem! 

-— As Valkyrias vivem! — repetiu.

— Emerie está com outras quatro fêmeas ao sul, estão em desvantagem tem o dobro de illyrianos lá — não era longe estava a vista — Temos fêmeas em batalhas equilibradas ao norte, leste e ao oeste, pouco menos de vinte metros, estão nossos avós.

Dyami confirmou observando em volta fazendo uma análise mental rápida.

— Vou ajudar Emerie vá para nossas avós.

Nüma sorriu e girou ambas espadas no ar com um sorriso de lado, seu cabelo de cor mutável estava de um castanho ainda mais avermelhado, a maestria e simetria que as espadas giravam causava calafrios.

— Boa sorte, não morre!

— Boa sorte, não morre! — Dyami repetiu.

Estavam corretas, mas os gritos de machos se tornaram ainda mais plural e o estrondo deles posando ensurdecedor. Eram muitos, não era uma mera desvantagem, era algo covarde, agora não eram apenas machos com centenas de anos de treinos em vantagem mas sim uma grande quantidade deles. Seriam dizimadas, morreram sem saber o que aconteceu com o acordo no fim das contas. Raiva inundou não só ela mas todas fêmeas ali, se entreolharam como conseguiram, em meio à gritaria e ao sangue elas levantaram suas espadas diante da morte iminente e declararam fim aos dias de servidão ou que se curvam as vontades deles. Se fossem morrer seria lutando. 

Corte de Sombras e CicatrizesWhere stories live. Discover now