Prólogo

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Já haviam se passado seis meses desde o fim da guerra. Mas ainda se vivia as cicatrizes dela.

Rhys havia convocado a presença de Azriel para uma reunião rápida naquela manhã. Nos últimos tempos esse era o padrão entre o círculo íntimo, apenas reuniões rápidas. Todos estavam muito ocupados com burocracias que a guerra fez questão de deixar junto com o sangue derramado. 

Mor já estava fora há quase três meses, em uma viagem a qual seu primo a encarregou. Teve sua memória poupada de ver Keir entrar na cidade de luz, seu lar agora estava manchado por um fantasma do passado. Sacrifício necessários para se vencer a guerra. Sacrifícios que todos sentiram. Mas para Mor aquilo era demais. E por mais que isso parecesse um sinal de fraqueza toda sua família sabia que não era. A sua missão era a prova disso.
 
Amren cuidou pessoalmente da entrada de Keir, por mais que não pudesse mais usar a ameaça de ser liberta ainda era temida, ainda era grã feérica e era a segunda na sucessão da Corte Noturna, sua cabeça sempre erguida era o que precisavam para manter Keir sob controle e supervisão, e no fundo fez questão disso especialmente por Mor.

O solstício foi o último momento família que tiveram, após isso toda papelada e pendências que Feyre e Rhys haviam adiado se acumularam. As coisas estiveram em paz e calmaria por aqueles meses. Mas pouco se durou. 

-Preciso que você mantenha uma supervisão mais pesada em cima da Corte Outonal- Rhys apontou para o mapa.

-Estou muito ocupado observando além dessas terras irmão, acho que isso é algo que podemos adiar!

-Sei disso, muita coisa ao mesmo tempo- Rhysand suspirou.

-Acredito que os problemas que vem de fora será grande mas ainda é muito abstrato, mesmo as terras humanas fora daqui são bem protegidas- Azriel estava frustrado por isso, todos em volta sabiam mas não comentavam, quase cinco meses espionando e ainda pouco sabia.

-Se fosse só de fora, ainda temos problemas dentro de nossa própria corte- Rhys se referia aos illyrianos e as possíveis rebeliões, estavam muito quietos ainda e isso era sinal de problema.

-Como está o acampamento?

-Cassian e Nestha estão cuidando disso por enquanto.

A alguns meses Feyre expulsou sua irmã de Velaris, desde então ela vive com Cassian no acampamento. Começou a treinar, era poderosa. Até mesmo Devlon a temia, era uma bruxa ele sentiu isso desde o primeiro momento que a viu, e tremeu, qualquer um que observasse de perto veria seu corpo tremer. 

Eles não tocavam muito no assunto do relacionamento dos dois, era algo meio delicado que preferiam deixar quieto. Mas desde a mudança para o acampamento as coisas tomaram rumos um pouco diferentes. Apesar disso, as irmãs ainda não se falaram, provavelmente envoltas na desculpa que estavam ocupadas. Nestha com as rebeliões dos illiryanos e treino das illiryanas. Feyre com seus afazeres de Grã-Senhora. Estavam fugindo uma da outra, por medo.

-Bom- Azriel olhou para o mapa recordando do assunto inicial- Porque a preocupação com a outonal logo agora?

-Beron ainda está vivo!

-Alguém não prometeu caçá-lo?- Azriel deu uma leve risada olhando para cima enquanto lembrava de todas promessas de mortes durante a guerra- ou foi de caçar o Keir?

-Que seja os dois- Rhys gargalhou, algo raro no momento- Acho que foi a Amren e juro que ela quase o fez quando ele pisou aqui.

-Tenho pena dele- mais uma vez risadas preencheram o espaço até que se silenciaram trazendo a preocupação consigo.

Rhys temia os acordos feitos durante a guerra, durante o desespero pela sobrevivência de todos em Prythian . Um deles era que Eris se tornaria Grão-Senhor. Beron continuava vivo, assim como o acordo. E as coisas por aquela terra andavam muito calmas, quietas. O filho disposto a trair o próprio pai por um trono, não seria difícil de trair a todos. Era alguém para se manter os olhos bem abertos, e até então haviam deixado passar.

 
*

Azriel atravessou direto para a fronteira assim que o amanhecer chegou. Passou a noite quase que em claro analisando todas as investigações dos últimos meses, procurando algo que talvez tivesse deixar passar. Mas nada, sabia disso, não era a primeira vez que revisava tudo, não era nem sequer a segunda, já havia pedido as contas.

As outras cortes tinham uma tonalidade diferente de sua corte, especialmente a outonal nessa época do ano cheirava a maçãs e ouvia se um riacho vivo. Não soava nada como aqueles a seu comando. Irônico, pensou. 

Se escondeu sob as sombras por três dias no local, nada se descobriu. Nada sobre o que se preocupar até então, além da falta de informação e excessividade de quietude. Isso o preocupava, um ataque surpresa é a melhor opção quando se tem uma corte com um mestre espião a sua vigia.

Beron não saia de suas terras a alguns meses, o que era estranho, afinal viagens para selar laços entre as cortes era comum no atual momento. Mas ali ele se manteve. Não desconfiava que alimentava uma cobra debaixo do próprio teto.

Eris havia viajado à Adriata para uma reunião com Tarquin. Nada que o intrigou até então, as sazonais costumavam ter laços mais fortes entre si, assim como as solares. 

O que lhe preocupava era que Eris partiria da corte Estival direto para Primaveril no outro dia. Tamlim não era grande preocupação até então, mas com o herdeiro da outonal junto às coisas mudaram um pouco. Além de que aquelas terras eram a fronteira com as terras humanas. Não sabia as intenções e relações de Eris com eles e resolveu ir direto para lá. 

Vôo até lá sob a floresta com o crepúsculo sob o céu. A floresta era densa, mas não aparentava nada de errado. Suas sombras tocavam cada folha caída no chão por uma extensão de cinco quilômetros, onde não havia nada, nem ninguém. 

No silêncio, sentiu um estalo em sua mente. Uma dor profunda, que o deixou levemente inebriado, não conseguiria atravessar agora ou pelo menos não tinha certeza se isso afetaria seu controle na travessia. 

A dor passou como algo que nunca esteve ali, assim que seus pés tocaram as folhas secas da floresta, um leve puxão em sua mente o trouxe para sinal de alerta. 

A floresta se mantinha calma. Nada nem ninguém por ali. 

Azriel não teve nem a oportunidade de desviar ou de notar a adaga que vinha em sua direção. Passando de raspão pelo seu braço, onde sangue escorre, manchando seu sifão. Em sua face a confusão. Como não percebeu? Como não ouviu? Nem as sombras conseguiram lhe preparar para o que vinha. Como? 

-Para um mestre espião você é bem distraído - Uma fêmea, com um sorriso divertido e perverso o encarava enquanto seus dedos brincavam com outra lâmina.

Corte de Sombras e CicatrizesWhere stories live. Discover now