Capítulo 15

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Azriel 

Os acontecimentos após segurar o corpo desacordado de Ayla eram memórias embaralhadas. Assim que pisaram de volta no acampamento illyrianos Feyra, que correu em desespero para sua irmã, e Rhysand já o esperavam junto com a unidade de curandeiros, incluindo a favorita do círculo íntimo. O corpo agora tão frágil de Ayla aparentava gelado em seus braços, implorando para que a falta de pulsação fosse apenas uma impressão causada por seu atordoamento. Cada uma foi colocada em uma liteira e levadas, poucos minutos depois os curandeiros já haviam voltado com informações de urgências e nada boas, precisavam de seres com poderes de cura, e analisando elas precisavam, muito provavelmente, o mais poderoso deles que por infortúnio do destino morava em outra corte.

Só notou que segurava a mão dela com firmeza mas sem força, não queria machuca-la, quando Rhys o pediu para se afastar da mesma, por mais delicado que fosse a situação do corpo delas a urgência que eles acreditavam precisar tomou frente do toque cauteloso, o Grão-Senhor da Corte Noturna pegou ambas de uma vez, cada uma de uma em seu ombro, e atravessou para a corte Diurna. Sem aviso prévio ele estaria pisando em outro território, por mais desleixado e perigoso que aquilo fosse não importava, era a única esperança que lhes foi dada. Feyra passou a ter asas, e então eles fizeram seu caminho para corte de Helion, em questão de segundos Amren estava no acampamento ajudando a organizar a bagunça dando ordens e supervisionando. Uma atitude que a Corte jamais tomaria em outra circunstância, ela cuidava de Velaris e não trabalhava com Devlon ou com os illyrianos. Mas naquele momento a situação piorar era uma piada amarga, algo quase transformou o acampamento em pó e os únicos seres com respostas para aquilo podiam estar mais perto da morte que da vida. Quando chegaram na corte as fronteiras já estavam abertas, e havia feéricos aguardando por eles, foram levados para uma área reservada para eles com quartos e um salão onde Rhys os aguardava, sozinho, Helion já estava com elas. 

Ele voltou apenas no outro dia, o que tornou a noite deles uma eternidade. Feyra chorava em um canto, com os braços de seu parceiro a sua volta, ela e a irmã ainda estavam em sua zona fria e perder a mesma sem poder resolver as coisas antes era aterrorizante para ela, talvez para qualquer naquela situação. Cassian chorava baixo em um canto, apenas algumas lágrimas escorrendo, iria negar aquilo para o resto da vida mas não escondia o rosto naquele momento, sua mente estava longe naquele momento, pensando em sua parceira. A apenas uma semana ele contou para o mestre espião sobre o laço de parceria ao qual, na pior das hipóteses, não teve tempo de aceitar. 

-Ela é minha parceira - ele disse naquele dia com uma felicidade e confusão genuína na voz, Azriel não perguntou como ele chegou naquela conclusão mas sabia das suspeitas que seu irmão alimentava. 

O mestre espião se encontrava ainda mais recluso que seu habitual, as sombras estavam densas transpassando ao seu redor, estava sentado com os cotovelos apoiados no joelho e um olhar duro a frente, não havia lágrimas ali mas seus olhos estavam em um vermelho intenso. Suas pernas passaram a noite inteira tremendo, e em todo momento desviava seu olhar para a porta. Dentro de si havia uma confusão de pensamentos e sentimentos. Acreditava que a preocupação era genuína como sentiria por qualquer um do círculo íntimo, mas esse era o ponto, ela não era exatamente parte dele. O que eram, era uma questão que rondava seus pensamentos, que linhas eles haviam cruzado e quantos passos recuado na última semana. Queria sentir as sombras dela nas suas, principalmente que ela o permitisse isso, esperava que ela acordasse e o perdoasse, nem que levasse anos para ela confiar nele novamente, ele queria, precisava, sentir seus dedos novamente em seus ombros. Ele só queria ver ela revirar os olhos e odiar o mundo todo a sua volta mais um vez, queria segurar a risada enquanto todos tremiam na sua presença. Que ela jogasse uma adaga em sua perna e chutasse em cima, como na primeira vez que se encontraram, mas que ela saísse viva de lá e de alguma maneira lhe desse o perdão. Azriel suspirou e tombando sua cabeça para trás passou as mãos por seu rosto e cabelo, merda, ele a queria, queria aquela criatura perversa e agora tão frágil. Ela não é frágil, é o ser mais poderoso que conhece e te mataria se descobrisse que cogitou essa definição a ela, Azriel pensou e riu fraco de seus devaneios.

Corte de Sombras e CicatrizesWhere stories live. Discover now