8. Encontros e Reencontros

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- Nem adianta desistir. Você já veio até aqui, seu mala!

- Olha o tamanho dessa fila, cara. Você está maluco!

- Disse o velho de cem anos. O senhor não pode esperar cinco minutos? A fila está andando bem rápido.

Não respondo nada e, também nem tento. É inútil tentar dobrar esse cara. Mas pensando bem, ele está certo. Estou mais ranzinza do que meu bizavô.

Nós realmente entramos em menos de cinco minutos e logo ao entrar vejo uma aglomeração estranha numa espécie de salão de dança todo espelhado.

- Você me trouxe aqui para ter aulas de dança, Chris? – digo, desconfiado.

- Esse é só um dos ambientes da casa. Tem mais dois lá para cima. – diz Christopher apontando para as escadas logo à frente.

- Ah tá.

Ao centro do salão, algumas pessoas faziam filas atrás do "professor de dança" que ensinava uns passos de uma dança até então desconhecida por mim. E ainda ao redor dessas pessoas, outras pessoas faziam uma roda para assistir aos outros dançando. Eu também parei ali, não por vergonha de dançar, como muitas daquelas pessoas, mas porque algo. Minto. Alguém me chamou muito à atenção. Porém fui logo afastado de meus pensamentos, interrompido por Christopher:

- Acorda, Joaquín. É só uma aula de dança. Vamos para a pista lá em cima.

Apenas ouço o que ele diz, mas continuo olhando para frente. Vi algo bem mais interessante do ficar olhando para a cara do Chris. Aquela mulher incrível da qual eu atropelei hoje. Ela está ainda mais linda agora. A roupa que ela usa, deixa aquelas pernas negras torneadas, os braços e as costas de fora. Seu sorriso chama ainda mais atenção, ela parece uma criança quando ganha um doce de tão contente que aparenta estar.

- Joaquín? – a voz de Christopher soa como um estalo para mim e desta vez sou obrigado a desviar a atenção para ele.

- O que é, Christopher?

- Você nem ouviu o que eu disse, parece que está vidrado. O que você está vendo aí?

Volto o olhar para frente, porém perco aquela mulher espetacular de vista.

- Eu estava – digo dando uma certa ênfase ao 'estava' – apenas distraído com algo. Mas você me interrompeu.

- Aproveita e vamos lá em cima beber algo.

Ainda dou mais uma olhada ao redor para ver se eu consigo encontra-la, mas é em vão. Ela sumiu em meio à multidão e logo em seguida o instrutor encerrou a aula e aí que ficou ainda mais difícil de encontra-la. Decido então acompanhar Christopher até o próximo andar. Chegamos a uma pista de dança que tocava alguma dessas músicas pop que eu não sou muito chegado e fomos em direção ao bar.

- Duas cervejas, por favor. – digo ao garçom.

Assim que ele traz as cervejas, entrego uma ao Christopher e fico com a outra. Foi só o tempo de virar para pegar a cerveja que Christopher já estava xavecando uma mulher. Bonita, mas só. Uma mulher da voz estridente que não consegui fazer outra coisa se não dar risada e então resolvi sair de perto para não constranger a moça. Que idiota. Ela só tem uma voz pouco peculiar e eu tenho certeza que para o Chris isto não tem a menor importância. E ele é que está certo. Que bobagem!

Decido subir às escadas logo ao lado do bar para descobrir o que mais tem lá em cima, já que eu não vou aguentar ficar muito tempo ouvindo estas musiquinhas sem pé nem cabeça a noite inteira mesmo. Assim que subo as escadas dou de cara com algumas pessoas se acomodando de frente para uma cortina preta. Vejo uma mesa vaga à direita e resolvo me acomodar ali. Puxo uma cadeira e me sento. Está tocando uma música que é mais a minha cara, mais sossegada, sem aquelas batidas que chegam a dar dor de cabeça.

- É aqui mesmo que eu vou ficar.

Alguns minutos depois a cortina se abre e aparecem dois homens e uma mulher. Um destes homens era uma espécie de dj, e as outras duas pessoas os cantores. À medida em que eles foram começando a cantar, o ambiente foi enchendo até não sobrar muito espaço no local. Algumas pessoas até arriscavam alguns passos de dança enquanto outros ainda não haviam bebido o suficiente para perder a timidez. E ainda, penso eu, que havia aqueles como eu que não levam a melhor vocação para a dança e preferem apenas observar.

Estava completamente distraído assistindo ao show quando ouço uma cadeira se arrastar ao meu lado. Quando desvio o olhar vejo que é Christopher quem à esta hora já está sentado.

- Cadê aquela moça que você estava conversando lá embaixo?

- Aquela da voz estranha? – sorrio e faço que sim com a cabeça. – É história antiga, mas você sabe que eu não curto um flashback.

- Ah, claro. Imagina se curtisse...


******


- Lu, vamos ver qual é o daquele show lá em cima. Já deve ter começado, já que faz um tempinho que acabou o workshop aqui.

- Vamos sim, amiga. – ela dá um último gole no dry Martini e deposita a taça sobre o balcão do bar.

- Na semana que vem eu não garanto que eu vou conseguir vir aqui já que eu terei algumas reuniões com o Mr. Jones à respeito da turnê. Mas aí na outra semana a gente vem um pouquinho mais cedo para aproveitar melhor o workshop.

- Perfeito!

Saímos do bar e vamos direto para o terceiro ambiente que já estava quase lotado e seguimos em direção ao bar. Olho ao redor procurando algum lugar para nos sentarmos porém não encontro nenhuma mesa vazia.

- Nossa, está bem cheio aqui. – comento.

- Pois é, menina! Está bem cheio mesmo, mas a gente se diverte do mesmo jeito.

- Isso sem dúvidas. – sorrimos.

- Ai, Dan. Há quanto tempo não saíamos só as duas, não?! – ela me dá então um abraço apertado. – Você continua me fazendo muita falta.

- Ô, minha amiga. – me afasto um pouco dela e dou um beijo em sua testa. – Agora não é hora de chorar, então pare de dizer estas coisas. – seguro em suas mãos e olho no fundo dos seus olhos. – Você sabe que você vai ser sempre  minha irmãzinha. Agora chega, vamos dançar.

- Um "Sex On The Beach" e um "Martini", por favor. – digo ao garçom.

Assim que pegamos as bebidas nos aproximamos mais do  show e começamos a beber e dançar no pouco espaço que nos cabia quando alguém se aproxima de minha amiga e ela então me chama para ir sentar e me puxa.

- Mas não tem lug... – antes que eu termine a frase eu me viro e dou de cara com aquela beldade de mais cedo. O "doutorzinho" amigo de Luíza. – Olá.

- Como vai? – ele estende sua mão para que eu o cumprimente. – Tem dois lugares na minha mesa, por que vocês não se sentam conosco?

- Conosco quem? – indago.

- Venham! – ele finge não ouvir minha última pergunta e faz menção para que eu e Luíza o acompanhássemos.

Assim vamos eu e Luíza acompanhando o Joaquín até a mesa porém quando estamos quase chegando Luíza segura minha mão e a aperta, seguindo por um resmungo:

- Não é possível! Tanto lugar nessa cidade...

- O que foi, amiga? – Ela não responde mas eu logo imagino o que está acontecendo quando Joaquín me apresenta ao rapaz que estava sentado à mesa.

Quem Vos Fala, Destino?Where stories live. Discover now