17. The hell

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|| Hailey Rhode Winchester ||

Era domingo. E tecnicamente, a biblioteca não abriria. Sabendo disso, Sam e Dean me arrastaram para um bar local. Vestidos em roupas peculiares; eles exibiam aparências femininas, com acessórios invejaveis. Dean apostou em uma peruca loira, um pouco desidratada aos meus olhos; com brincos grandes e uma bolsa cor de rosa, que combinava com o conjunto de saia e blusa que vestia. Para minha surpresa, ele sabia desfilar de saltos. Entretanto, Sam não adotou a aparência padronizada de cabelos longos; mas usava argolas ainda maiores nas orelhas; os cabelos caídos sobre os olhos feito cortinas brilhantes, enquanto usava um vestido preto e sapatos da mesma cor.

Era dia de cerveja gratuita no bar drinkstreet, e para ganhar a quantidade que quisesse, bastava vestir roupas contrárias ao padrão imposto para seu sexo. Por sorte, não fui obrigada a vestir um também, uma vez que não gostava tanto de cerveja e tinha uma preferência por vinho branco, o que não fazia parte da promoção.

Sentamos à mesa e olho ao redor; onde mulheres estavam vestidas com roupas largas e masculinas, enquanto homens usavam saias curtas e riam de suas próprias aparências. Bebendo e sorrindo; a ideia era cômica demais para simplesmente não viralizar por toda a região.

Pedi meu vinho, retomando minha atenção a Sam e Dean, que permaneciam com os olhos grudados na tela gigante no centro do local. Não prestei atenção na programação e desfrutei de minha bebida.

— Minha calcinha está me matando! — reclamou Dean ao desviar sua atenção da tela e mover o quadril desconfortavelmente no assento.

— Não precisava exatamente usar calcinha, Dean...— Sam disse; o cenho franzido para o irmão, que deu de ombros.

— Vocês estão Hilários. — acabo rindo, tomando outro pequeno gole em meu vinho. Pelo visto, apenas eu estava bebendo aquele tipo de bebida.

—  Preciso admitir que ser mulher realmente não é fácil. Uns idiotas buzinaram pra mim e me chamaram de "gracinha". Que caras sem criatividade!

— Realmente, você está uma gracinha. Eu te achei uma gostosa desde que entrou aqui, está me provocando nessa saiazinha. — digo para Dean, imitando uma voz masculina. Sua expressão me faz rir.

Mas um som me faz parar. Dentro de minha cabeça. Cogitei questionar se eles também ouviam, mas o zumbido tornou-se dor. Modificando minha aparência. Logo, não ouvia mais as vozes ao redor, nem mesmo quando os lábios de meus irmãos se moveram; os rostos preocupados um tanto distantes e turvos. Cerro meus punhos, as unhas arrastando na mesa.
E então tudo para. A dor se esvaiu e o som, que também turvava minha visão, também desapareceu. Noto que meus irmãos estavam ao meu lado, tentando descobrir o que exatamente eu sentia. Mas meus olhos foram direto para a tela oscilante do local.

"O filho do empresário Jeremy Bieber, a qual foi dado como morto há algumas semanas atrás, reaparece na propriedade Bieber, alegando que foi sequestrado e brutalmente torturado por homens considerados inimigos de seu pai.

Justin Drew Bieber, de vinte e um anos, está vivo.

Apesar de, segundo médicos e policiais alegarem que seus restos mortais foram encontrados em uma floresta próxima da propriedade. A questão está sendo investigada e apurada. Neste caso, Justin concedeu uma breve aparição, confire a seguir:"

Neste momento, não acredito no que vejo. Penso que meus olhos me traíram, e mostram imagens irreais de algo que não aconteceu e não estava acontecendo. A imagem retrata Justin, sobre um palco enquanto diversas câmeras e microfones estavam virados para ele.

" — sei que muitos de vocês têm perguntas a serem respondidas. Porém não pretendo dizer nada que possa de alguma forma, deixar o público ainda mais confuso. Meu caso está sendo apurado. Vou contribuir para a punição daqueles que me fizeram mal, e que enganaram minha família e o mundo sobre minha morte. Como podem ver, ainda estou vivo. Consegui escapar da morte eminente e farei disso uma grande justiça. Que a lei recaia sobre os ombros dos culpados. Obrigado aos envolvidos nesse caso."

E de repente, uma salva de palmas ecoam no vídeo. E justin se retira do palco com um aceno breve. Todo o ar retorna a ser respirável. E ainda tenho a atenção de Sam e Dean sobre mim.

— O que estava sentindo, Hailey? O que está acontecendo com você? Não é a primeira vez que isso acontece. Precisa nos contar imediatamente o que está acontecendo. — Dean diz, em um tom sério, apesar de sua voz demonstrar que o álcool começava a fazer efeito em sua voz. Sam me olha com o mesmo tipo de preocupação, aguardando pela minha resposta.

— É... eu não sei se consigo explicar tudo. Não consigo entender todas as coisas que vêm acontecendo comigo. Realmente não consigo... assimilar tudo, entendem? Podem por favor só retomar ao que estavam fazendo? Eu preciso tomar um ar...— me levanto, contornando a mesa. Quando Sam insunou ir atrás de mim, Dean o seguira pelo braço.

Já do lado de fora do bar, longe da agitação eminente, respiro o ar fresco do bairro enquanto admirava a arquitetura do lugar. Árvores bem aparadas e lindas, trazendo um pouco da natureza em meia a tantas construções. Agarro meu próprio corpo, sentindo o vento rodopiar por minhas pernas.

— Tem ideia do que fez? — uma voz disse atrás de mim, arrepiando-me. Aperto minha pele com mais força, sabendo de quem se tratava. Mas por um momento me pergunto se ele estava falando dentro da minha cabeça ou de fato atrás de mim.

— Acho que não...— sussurro baixo ao me virar, observando Castiel em minha frente. Quase não acredito no que vejo quando os olhos de sua forma humana brilharam em minha direção, uma luz cintilante azulada que parecia ser sua alma angelical.

— Você libertou a criatura mais perversa que já existiu. Acha mesmo que é o mesmo Justin que a atormentou? Não se engane, Haamiah, ele está forte. E sem alma.

— O que... O que isso significa? — Hesito, apertando minha própria pele ainda mais, minhas pequenas unhas machucando o lugar.

— Fignifica que o Apocalipse está próximo. E você deve estar preparada.

|| Justin Drew Bieber ||
The hell.

Pior do que a morte, é a vida. A constante lembrança de um fardo; ou dos seus piores pesadelos e medos. Revivendo-os, dia e noite. Após a morte, o cérebro não é mais capaz de reproduzir lembranças; ele apodrece. Assim como os demais órgãos.
Mas, enquanto vivemos, existem aqueles dias em que seus erros lhe perseguem feito demônios. As crises existenciais são constantes. Até lentamente a alma desorientar-se.

Estar preso em sua própria mente é pior do que estar no próprio inferno escaldante. Diria que todos têm sua própria visão de inferno, baseado naquilo que considera mais pestilento.

Mas estar a frente de meu pai, com seus ossos paralisados e a vulnerabilidade refletida em sua retina, era a minha percepção de paraíso. Diante da ideia de que todos os seus medos, ações mais perversas, e pecados mais macabros passavam diante de sua mente, obrigando-o a assistir cena pós cena, era de fato satisfatório. A tentativa de movimento sacudiasse diante de meu poder, o que me levava a apertar as amarras invisíveis em seu interior, que o empediam de falar, andar, mover-se e as vezes até mesmo de respirar.

— Justin? Meu filho...— vejo o corpo de minha mãe surgir na brecha da porta, e mantenho meus olhos sobre meu pai, que era mantido em uma cadeira de rodas desde a minha volta. O que os outros acreditam é que meu pai havia descoberto uma doença de paralisia nos ossos, e não a tratou. Por isso, encontra-se em um estágio mais avançado de Esclerose lateral Amiotrófica.

— Olá — digo, sem tirar meus olhos do homem a frente. Os olhos sem menos piscar em minha direção. A mulher contorna a mesa em minha frente e abraça meu corpo pela lateral, beijando um lado de minha bochecha.

— Está com fome? — ela questiona, ainda alisando meu cabelo de modo repetitivo, o que quase me levou a afastá-la com a mão. Minha atenção mantia-se voltada para meu pai.

— Não vai perguntar se ele está? — questiono, erguendo uma de minhas sobrancelhas.

— Acho que ele merece o que está passando. Duvido que consiga engolir nesse estado.

Sorrio enquanto os dedos magros de mulher passavam por minha mandíbula, me satisfazendo com a imagem de meu próprio pai tentando engolir algo sólido enquanto seu esôfago não exerce a função adequadamente.

— Tem razão. Todos temos o que merecemos.

Save MeWhere stories live. Discover now