País das Neves - Yasunari Kawabata

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Esse foi o primeiro livro japonês que li, influenciada pela resenha da Emmie.

Yasunari Kawabata foi o primeiro do seu país a receber um prêmio Nobel de literatura, em 1968. Esse livro é chamado por muitos de sua "obra prima", e conta a história de Shimamura, um homem rico que viaja periodicamente a uma região montanhosa e isolada com fontes termais, sempre no inverno, quando a neve cobre toda a superfície do solo. Lá ele conheceu uma jovem gueixa, de origem humilde mas muito bela, com quem ele passa a maior parte do tempo, e paralelamente, conhece uma jovem chamada Yoko, por quem ele desenvolve grande interesse e fascínio.

Esse livro tem trechos belíssimos, descritivos e envolventes, que me fazem pensar que o autor gostava mais de construir cenas do que um enredo de fato, com início meio e fim.

O livro não começa com um encontro inicial entre os personagens principais, nem com uma viagem a um lugar desconhecido. É uma volta, a um lugar conhecido, mas que sempre reserva a beleza do mistério; e uma personagem também misteriosa que é apresentada na primeira página, mas bem lentamente desenvolvida no decorrer da história.

"Shimamura nem por um instante pensou que poderia ser incorreto, ou mesmo incoveniente, observar daquele modo a jovem, sem tirar os olhos dela, de tal modo permanecia sob o encanto simultaneamente irreal e sobrenatural do quadro que tinha diante dos seus olhos, seduzido pela estranha beleza daquele rosto arrastado pela paisagem noturna. Esquecia-se de si próprio, dominado inteiramente pela magia daquele jogo, sem saber se estava sonhando ou não."

Além da beleza, há também uma percepção aguçada e sensível das coisas cotidianas, fazendo uso do sentido figurado, Kawabata parece através da sua escrita, ansiar pela expressão do que mora nas entrelinhas, pela expressão das emoções, dos desejos, dos sonhos etc.

No próprio personagem do Shimamura há uma característica ambígua: o idealismo. Era tanto ao ponto de considerar o Ballet uma paixão sem nunca ter assistido de fato a dança.

"Para quê arriscar-se a presenciar realizações decepcionantes, enfrentar o ballet concretizado em espetáculo, se a sua imaginação lhe oferecia o espetáculo incomparável e infinito da dança sonhada? Fruía inesgotavelmente as delícias insuperáveis à maneira do amante ideal, esse amor sublime e platônico que jamais encontrou o objeto da sua paixão."

Desse modo, acabava por fazer a mesma coisa com Komako, a gueixa apaixonada. Idealizava-a de tal modo que se negava a consumar qualquer coisa que levasse o sonho à ruína da realidade. E assim, ela permanecia ao seu redor, orbitando-o enquanto ele a admirava, sem nunca corresponder aos seus anseios.

Kawabata exprimiu muito bem a solidão nesse livro, sendo algo que ele conheceu bem devido a sua história de vida, ficando orfão aos quatro anos e depois perdendo a avó e o avô antes dos quinze. Não só no Shimamura com seus devaneios melancólicos, mas principalmente nas personagens femininas, onde se percebe um desamparo e um vazio latentes.

"Achara na sua voz uma doçura tão desconcertante, um acento de espontaneidade tão imediato, que ficara pertubado; sentia-se um pouco culpado, com o sentimento de tê-la conquistado muito facilmente, quase contra sua vontade."

Este livro tem riqueza de profundidade psíquica, explora bastante os sentimentos,sensações e pensamentos dos personagens, mas, minha única ressalva é que o estilo do autor tornou para mim a leitura muito mais lenta e ás vezes um pouco cansativa, contudo é um livro pequeno e muito belo.

Reafirmo que é verdade quando dizem que Yasunari Kawabata "pinta as palavras de branco irradiante."

Nota ⭐⭐⭐✨ (3.5)

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⏰ Недавно обновлено: Nov 04, 2022 ⏰

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