Torto Arado - Itamar Vieira Junior

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Esses dias, enquanto lia esse livro, olhei para minha mão e falei "minha mão se parece muito com a de vó Joana, os mesmos dedos compridos e finos", e me lembrava com muita clareza de suas mãos pretinhas e enrugadas. Foi dela que me lembrei diversas vezes ao realizar essa leitura. Apesar das diferenças no aspecto religioso, a história se associa muito às narrativas familiares sobre a vida e os antepassados de minha bisavó, que morreu há alguns anos, passando também a maior parte de sua vida trabalhando na terra, a terra que inclusive se revela nesse enredo como um elemento tão sacro quanto fundamental na cosmovisão dos personagens.

 A história do povo quilombola, neste livro especificamente, os inquilinos da fazenda Água Negra, localizada no sertão baiano, protagonizam uma trama repleta de eventos dramáticos que me fizeram revisitar memórias antigas e me questionar sobre um passado distante, sobre quem foram as pessoas que compuseram a ancestralidade de minha genealogia, como viveram, como sofreram, como lutaram, como foram oprimidos e como oprimiram. 

A escrita do autor é envolvente e magnética, com descrições que fazem o leitor se sentir ali naquele cenário, observando a sucessão de acontecimentos descritas com beleza e palpabilidade.

A presença marcante de uma feminilidade bruta, no sentido do que é primordial/primitivo, faz com que as personagens mulheres deste livro se perpetuem na nossa memória, sendo elas tão cruas e reais portanto inesquecíveis. 

Um livro que tanto narra quanto denuncia a história sofrida de um país com um passado e um presente doloroso, miseravelmente marcado pela escravidão.

⭐⭐⭐⭐⭐ (5 estrelas)

Minhas Leituras (Resenhas)Where stories live. Discover now