𝐭𝐰𝐞𝐧𝐭𝐲, mirror

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Afinal, é 8 de setembro.

Mesmo com toda a confusão que aconteceu na última semana, inclusive a própria recaída perante a cocaína, ele não esqueceria do que Kazutora tinha o confidenciado, que hoje seria o dia em que visitaria o pai depois de cinco anos. Por causa das grades horárias serem diferentes, geralmente só conseguem se ver na hora do almoço e nos treinos, já que no resto do dia tinham suas próprias obrigações para cumprir.

Assim, Mikey se viu determinado a acordar cedo para poder conversar com o melhor amigo, ou no mínimo o abraçar e dizer que daria certo, o que ele torcia com toda a vontade do mundo. Ele se lembrava com clareza de como tudo tinha sido um caos há cinco anos atrás e como tinha reagido ao descobrir a existência das cicatrizes de Kazutora. Inclusive, a memória do dia em que as tocou pela primeira vez ainda era vívida em sua mente, como passou os dedos pelas profundidades, sentiu a textura da pele e imaginou qual tinha sido a força colocada naquilo para deixar tal marca.

Até hoje, nunca aceitou plenamente o que tinha acontecido com o melhor amigo.

Então, quebrando o silêncio que estava instalado no andar de baixo, passos foram escutados, vindos dos degraus da escada, e Mikey logo teve Kazutora aparecendo no campo de visão. Em um primeiro momento, o moreno não tinha percebido o outro ali, completamente preso na própria mente, mas reparou algo de estranho ao sentir o cheiro de café, já que ele sempre era o primeiro a acordar.

— O que você está fazendo aqui tão cedo?

— Bom dia pra você também — Mikey falou, com um sorriso travesso no rosto, e Kazutora balançou a cabeça em negação, terminando de se aproximar.

— Bom dia, mas ainda não respondeu a minha pergunta.

— Não posso simplesmente acordar cedo?

— Não.

Mikey olhou o melhor amigo completamente indignado por causa da resposta, o que fez, inclusive, Kazutora rir um pouco, enquanto pegava uma caneca do armário, para também se servir de café.

— Sei que você não acordaria cedo sem motivo. Então, por que?

— Bem, hoje é dia 8 de setembro.

— E o que tem haver?

— Realmente acha que eu te deixaria ver aquele cara sem falar com você antes?

Kazutora não soube o que responder e aproveitou para desviar o olhar, terminando de colocar o café na caneca e tomar um gole em seguida, não gostava de por açúcar.

— Você não quer ir — Mikey quebrou o silêncio, conseguindo a atenção dos olhos dourados de volta.

— Não mesmo.

— Fale.

Kazutora não entendeu de primeira o pedido do melhor amigo, o que fez o loiro suspirar e colocar a caneca da bancada, cruzando os braços na altura do peito.

— Fale o que você está pensando sobre tudo isso, nem que seja só um pouco.

O moreno sabia que essa era a forma de Mikey o ajudar, o fazendo falar sobre o que sentia, mas nem na terapia, que foi obrigado judicialmente a fazer por seis meses, resolveu muita coisa e acaba que mesmo que tente, nunca consegue realmente explicar o que sente. Afinal, Kazutora ficou preso por muito tempo, sem a liberdade de poder crescer, falar e ser o que quiser.

— Você me julgaria se eu dissesse que ainda tenho medo dele? — perguntou, envolvendo a caneca com as duas mãos — Me sinto meio ridículo falando isso em voz alta — riu fraco, mesmo que o tom ácido também estivesse ali.

𝐖𝐀𝐓𝐂𝐇 𝐘𝐎𝐔 𝐁𝐔𝐑𝐍, kazutora hanemiyaWhere stories live. Discover now