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O natal era a época do ano preferida de Juliette. Ela adorava ver as decorações começando a aparecer pela cidade, amava ver os piscas-piscas brilhando de noite. Era o único momento do ano que Juliette se sentia esperançosa, a mudança - o tipo bom de mudança - estava para chegar, ela só tinha que ser paciente o suficiente para esperar. Era tempo de ceder, de cuidar, lavar a roupa suja e começar tudo de novo.

Mas a agitação do Natal, as chuvas constantes e o calor descomunal que fazia no Rio de Janeiro, também significava que os quadros de Juliette ficariam num canto de seu quarto e não iriam para lugar nenhum. Apesar dos cheques que seu pai dava a ela para pagar a maioria de suas contas e despesas, ela ainda apreciava o dinheiro extra que vinha por conta de seu próprio trabalho. E foi por essa razão que ela passou a tarde procurando ofertas de emprego no jornal.

Sua manhã tinha sido gasta na frente de uma tela de pintura, tentando criar alguma coisa artística, pela primeira vez em semanas. O resultado final foi melhor do que ela esperava. Era bom o suficiente para se juntar a pilha de pinturas à espera de ser vendida. Mas no final ela não colocou junto com as outras peças, ela colocou ao lado, pensando que talvez seria um bom presente para dar pra Sarah.

Ela achou estranho pensar nisso, pintar alguma coisa e pensar em Sarah no final, mas ela decidiu deixar para lá. Quem era ela para questionar a inspiração?

Ela olhou para baixo para encarar o jornal e os inúmeros círculos vermelhos. Uma coisa legal do fim de ano é a quantidade de empregos disponíveis.

"Como vai indo a caçada por emprego?" Carla perguntou, aparecendo subitamente no seu campo de visão.

"Tem muitas vagas legais." Disse Juliette.

"Ahh, bom." Carla colocou café em uma caneca e encostou-se no balcão enquanto bebia.

Juliette olhou para o relógio do micro-ondas e arqueou uma sobrancelha. "Você acordou agora?"

"Exatamente."

"São três horas da tarde."

Carla balançou a cabeça como se fosse perfeitamente normal. "Eu fiquei no telefone até tarde."

"É?"

"Lucas ligou."

"Lucas..."

"O ator pornô."

Juliette gargalhou. "Ele tem um nome agora?"

"Na verdade, ele é um cara bem profundo e filosófico. Eu não esperava por isso. Ele só está fazendo esses trabalhos pornôs para juntar dinheiro para a faculdade de medicina, sabia?"

"O que vai acontecer quando algum paciente achar um vídeo dele?"

Carla sorriu. "Ele se recusa a filmar o rosto. Viu? Ele pensa no futuro. Ele é um garoto inteligente. Ele também trabalha como acompanhante de luxo. Se eu fosse homem eu também faria isso. Ganhar centenas de dólares por hora só para acompanhar uma velha rica para o teatro ou algo assim. Homens são tão sortudos."

"Talvez eu devesse arrumar um emprego assim." Juliette disse, pensativa. "Eu tenho certeza que há algum velho rico que gostaria de uma jovem mulher ao seu lado em um evento público."

"Claro. E você sempre pode correr deles se eles começarem a ficar abusados."

Juliette balançou a cabeça como se estivesse pensando seriamente na opção. "Bem, isso resolve o meu problema de emprego."

"Ótimo. Então, escuta, eu tenho boas notícias." Carla tirou vários jornais que estavam em cima da mesa e se sentou na cadeira.

Juliette se animou. "Ah é? Eu adoraria uma ótima notícia. Manda."

The blind side of loveWhere stories live. Discover now