O núcleo quente do planeta mágoa

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A neve se acumulava no parapeito da janela fechada, entre o encontro dos vidros, no telhado e na soleira da porta. Porém, apesar do frio intenso do lado de fora da casa e do silêncio das ruas desertas por causa da nevasca, o riso dos dois garotos fazia com que existisse o equilíbrio. Naquela casa quente, na qual os pais de Naruto liam no quarto com cama de casal, ou mexiam em suas redes sociais, o garoto de cabelos loiros e olhos vívidos e o de cabelos negros e olhos profundos, estavam munidos de uma lanterna e uma coberta.

Eles estavam sentados na cama de solteiro de Naruto, um de frente para o outro, com a coberta azul sobre suas cabeças. A lanterna estava posicionada no centro, apontando para o alto, o que fornecia uma parca iluminação para aquela "cabana" deles. Riam de histórias que o loiro relatava de seus anos com a Gangue.

— Estou feliz que você não se sinta traído nem nada disso a essa altura do campeonato — murmurou Naruto, com um sorriso faceiro.

— Eu nunca me senti traído por causa dos seus amigos — afirmou Sasuke, categoricamente.

— Ah, só admita! Você teve ciúmes! — Naruto bateu uma das mãos no próprio joelho e a lanterna que segurava tremeu. Sasuke o encarou com um ar de superioridade e olhos espremidos.

— Nunca.

— Mentiroso.

— Eu não estava com ciúmes, só fiquei irritado por você ter me esquecido tão facilmente. Se a passagem para Hokkaido e a mudança não fossem tão caras, eu teria voltado naquele momento — explicou Sasuke e o sorriso no rosto de Naruto se desvaneceu aos poucos, parecendo um pouco incomodado.

— Na verdade, Sasuke, nos esquecer de alguém depois de sete anos é até comum, principalmente se esses sete anos foram na adolescência. A gente sempre faz amigos em várias fases, mas é natural que não durem para sempre — Naruto parecia reflexivo, encarando a luz da lanterna à sua frente, que fazia seus olhos azuis parecerem translúcidos.

— Quem te disse isso? — O tom de Sasuke pareceu ligeiramente ríspido.

— O Shikamaru. Ele entende das coisas, por mais que eu não goste tanto, tenho que concordar — o loiro levantou os olhos, vendo que Sasuke olhava fixamente para um ponto no colchão.

— Eu nunca me esqueci de você — murmurou. — Mas você sabe disso…

— Aaaah, Sasuke! — Naruto saltou sobre o garoto, fazendo-o cair para trás, deitado na cama, ficando por cima dele e abraçando-o com a cabeça em seu ombro. — Você pode falar coisas fofas às vezes!

— Você é pesado! — Sasuke tentou empurrá-lo pelos ombros, mas propositalmente não colocou toda a sua força. — Espera, deixa eu descruzar minhas pernas pelo menos, isso dói! E tira essa coberta da minha cara!

— Você é muito resmungão — falou Naruto, sorrindo e tirando a coberta de cima deles, enquanto Sasuke descruzava as pernas que tinham ficado presas naquela posição desconfortável. O loiro riu, porque o namorado não podia xingar muito alto porque Kushina e Minato estavam no quarto ao lado.

Sem pedir permissão, ele voltou a deitar sobre Sasuke, que se sentiu esmagado. Apesar do desconforto, o garoto ficou imóvel, adequando a respiração à pressão sobre os pulmões, enquanto Naruto colocava os braços exatamente ao longo dos dele e as pernas também, como a segunda camada de um bolo perfeitamente encaixada.

— Tá… eu não… aguento mais… você vai me matar! — Sasuke falou, com esforço, e Naruto girou para o lado, libertando-o. — Isso foi uma tortura — O garoto olhava para o teto, respirando com força.

— Poderia ter me empurrado se quisesse — rebateu Naruto, mas com uma voz mansa, voltando a apoiar a cabeça no ombro de Sasuke e abraçando-o de lado.

A Cidade no QuintalWhere stories live. Discover now