Confissões Sob o Salgueiro-chorão

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O carvalho tinha marcas. Não eram apenas marcas na casca de seu tronco, mas também memórias de todas as pessoas que passavam por ele. Seus galhos haviam visto muito mais do que qualquer um poderia imaginar, e suas folhas já haviam caído e sido repostas em inúmeros outonos. Agora, ele era encarado fixamente por um par de olhos azuis como o céu em um dia quente de verão. O carvalho conhecia aqueles olhos há muito tempo, assim como os negros do garoto que se aproximava.

- Naruto? - disse, fazendo com que o loiro desviasse os olhos da árvore e olhasse para trás, ainda montado na bicicleta. Viu Sasuke se aproximando, vestido com o uniforme de verão, de mangas curtas. Seus braços brancos e magros não tinham hematomas ou curativos, mas seu rosto estava repleto deles.

- Uniforme de verão? - O loiro ergueu as sobrancelhas. Ele sempre via Sasuke com o uniforme de mangas compridas, mesmo no calor mais intenso. Também estranhava o fato de encontrá-lo ali, antes da aula, porque isso nunca tinha acontecido antes.

- O convencional rasgou ontem, quando caímos. Eu tinha um extra, mas eu precisava lavá-lo - explicou, também erguendo os olhos para o carvalho. Seus cabelos negros tremulavam com o vento, chacoalhando ao redor dos curativos.

- Está doendo? - perguntou Naruto, apontando para o próprio nariz.

- Não. Existem dores piores. - Seus olhos se encontraram e o garoto loiro perguntou-se de quantos tipos de dores ele estava falando.

- Acho que sim... - disse - Já que está aqui, quer uma carona? - Era uma pergunta espontânea, e Naruto acreditava que as coisas funcionavam melhor se não pensasse muito. Caso refletisse, iria se perguntar se ele e Sasuke já eram próximos o suficiente, se tudo havia voltado a como era há sete anos.

O garoto Uchiha encarou a bicicleta por um momento, porque ele era do tipo que pensava demais, diferente de Naruto. Quando o loiro achou que ele não aceitaria, Sasuke assentiu, fazendo um sorriso aparecer em seu rosto.

- Agora eu tenho uma garupa apropriada para carregar passageiros! - gesticulou, animado - Quando a instalei, tinha pensado que poderia ser para carregar uma namorada, mas até agora só carreguei esses folgados que chamo de amigos... Não estou falando de você, até porque eu ofereci, então você não é folgado, não entenda errado!

- Você ainda é muito barulhento - reclamou Sasuke, enquanto subia na garupa da bicicleta, sério.

- E você ainda é irritantemente quieto - rebateu Naruto, com um bico nos lábios, enquanto se esforçava para fazer a bicicleta começar a andar. Ele não via mais o rosto de Sasuke, então não notou o sorrisinho que havia formado em seus lábios.

- Algumas coisas nunca mudam - concluiu o garoto de cabelos negros.

Era mais difícil levar Sakura do que Sasuke, mesmo que o garoto de cabelos negros fosse bastante magro. Naruto aproveitou o terreno plano para conseguir acelerar a bicicleta, pegando velocidade enquanto cortava as ruas. Jamais poderia imaginar que aquilo algum dia voltaria a acontecer: Carregar Sasuke na bicicleta. Porém, ao mesmo tempo que aquilo parecia estranho, também parecia certo. O garoto silencioso atrás de si não o tocava, ou dizia qualquer coisa, mas estava ali, em seu denso silêncio.

Quando chegaram na porta da escola, a única coisa que denunciou a presença de Sasuke foi o leve tremor na bicicleta, quando ele desceu.

- Obrigado pela carona - agradeceu, com um sorriso sutil nos lábios. Por trás do rosto pouco expressivo, Naruto podia apostar que ele estava genuinamente feliz.

- Fica me devendo uma...

- E aí, Naruto! - Kiba apareceu, cumprimentando. O garoto loiro nem mesmo havia notado a aproximação dele e, aparentemente, nem Sasuke, a julgar por sua expressão. - Então voltaram a ser amigos?

A Cidade no QuintalWhere stories live. Discover now