Enquanto eu ainda amar você

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— Tudo bem.

Carla pegou as coisas dela e foi até Adele, puxando-a pelo pescoço com a mão livre para um beijo de despedida.

— Obrigada. — Ela murmurou antes de abrir a porta da frente e sair.

Adele ficou em pé encarando a porta por muitos minutos, tentando manifestar que ela voltasse ou que seus olhos queimassem um buraco na madeira.

*

Demorou vários dias até as duas se reverem depois daquilo. Adele esteve eufórica e radiante a semana inteira, levando seus amigos à conclusão óbvia. Quando Julia havia chegado em casa naquela tarde e olhado na direção de Adele, ela só tinha um comentário a fazer.

— Por favor, que tenha sido no seu quarto.

Sayuri, sempre mais direta e curiosa, quis saber todos os detalhes. Adele se esquivou das interrogações dos amigos, mas seu sorriso não negava absolutamente nada.

Acontece que, a cada noite que se passava, ela começava a ficar mais insegura. As duas estavam trocando mensagens com a mesma frequência de antes, e era normal passar uma semana inteira sem ver Carla, mas era o fato de tudo estar igual que a preocupava. Tudo deveria estar diferente agora.

Adele ficou pensando sobre como Carla chegou no apartamento dela chorando e o coração dela foi afundando. Ela nem pressionou para saber o que havia acontecido. Talvez se tivessem falado sobre isso, Adele não ficaria roendo as unhas de ansiedade sem saber como o relacionamento delas ficava agora.

— Vocês precisam conversar. — Julia apontou o óbvio. — Ela deve estar tão assustada e ansiosa quanto você.

— Eu sei. — Adele abraçou os joelhos.

— Tipo, ela me disse que queria ir devagar, então eu imagino que...

— Carla te disse o quê?! — Adele arregalou os olhos boquiaberta. — Quando?

— No dia do seu aniversário. — Julia deu de ombros. — Eu te disse que ia falar com ela.

Adele se lembrava disso, mas não imaginava sobre o que as duas haviam conversado. Ela segurou o queixo caído e fechou a boca.

— O que ela te contou?

— Ah... Bem, é como eu tava te dizendo agorinha. Ela falou que gostava de você, e que iria com calma, talvez por medo do que aconteceu as outras vezes.

Julia estudou a expressão da amiga e apertou a mão dela. Adele franziu o cenho, refletindo sobre o distanciamento de Carla e a relação dele com esses medos. Ela percebeu que Carla sempre saía mais ferida. Mesmo quando Adele foi arrancada do armário, a longo prazo a relação dela com os pais melhorou, depois que superaram o choque inicial. Carla nunca recebeu o mesmo tipo de suporte da mãe.

— É compreensível. — Adele suspirou. — Eu nunca soube o quanto ela realmente esteve sofrendo.

— Muito menos eu. — Confessou Julia. — Porém se tem alguém que consegue compreender ela, esse alguém é você.

— Eu preciso correr antes que eu perca ela de novo, não é?

O que Julia não esperava era que Adele levasse aquilo no sentido literal e começasse a correr, retirando o celular do bolso. Durante o percurso, ela só conseguia pensar com o coração acelerado que não suportaria chegar tão perto e deixar as coisas desmoronarem de novo. Ainda havia tanta coisa entalada na garganta de Adele. Tantas perguntas não respondidas. Palavras não ditas, suspensas entre elas, sempre tornando o ar mais denso e difícil de respirar. Confissões que morreram nos lábios delas tantas vezes ao longo de tantos anos.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now